Há várias semanas, as matérias jornalísticas dos principais periódicos argentinos estão sendo publicadas sem assinatura. A razão é que os trabalhadores da imprensa argentinos, aglutinados na UTPBA, estão desenvolvendo uma série de medidas de força contra o que consideram o “assédio patronal e o aniquilamento de seus direitos adquiridos por parte dos donos dos meios de comunicação”.
Os trabalhadores acusam a Associação de Entidades de Jornais de Buenos Aires (ADEBA) de uma serie de ataques a seus direitos como salários congelados, desconhecimento dos elementares direitos sindicais e trabalhistas e, sobretudo, o escasso interesse em regularizar os contratos dos jornalistas terceirizados, frutos da flexibilização trabalhista, e dentro de uma lógica empresarial presente em praticamente todos os meios.
Centenas de trabalhadores de imprensa manifestaram-se segunda-feira (9), nas portas do tradicional jornal La Nación, um dos principais meios de comunicação do país, reivindicando isonomia para os assalariados dos jornais de todo o país. Segundo um comunicado difundido pela UTPBA, tanto o Clarín e o La Nación, como o Página 12 e o Tiempo Argentino fragilizam seus trabalhadores. O mesmo acontece no Ámbito Financiero, El Cronista Comercial, Buenos Aires Económico e Perfil.
Judith Rabinovich, secretária sindical da UTPBA, afirmou que “depois de quase um ano, e na quarta semana do plano de luta que conta com o compromisso da maioria dos trabalhadores, a câmara patronal continua sem escutar nossos protestos e adiando a negociação”. Ela enfatizou que “não vamos baixar os braços até que deem respostas às nossas reivindicações”.
As principais reivindicações desta comissão paritária, que já acumula mais de 11 meses sem respostas são: recomposição salarial de 30%, 5000 pesos de salário básico e 700 pesos por colaboração. O sindicato sustenta que se a AEDBA continuar com esta postura inflexível as medidas de luta seguirão se incrementando.
Além dos artigos sem assinatura, a UTPBA está realizando paralisações e mobilizações nas ruas e redações, com o objetivo de divulgar as condições de trabalho nos principais jornais. Há algumas semanas foi realizada a primeira marcha nas instalações do jornal Perfil, do empresário jornalístico Jorge Fontevecchia, que há poucos dias deu a ordem de fechar o jornal sensacionalista Libre, parte do grupo Perfil, deixando mais de 40 jornalistas sem trabalho. Diante do protesto dos trabalhadores, a empresa afirmou que apelaria a um Recurso Preventivo de Crise ante o Ministério do Trabalho com o objetivo de rebaixar salários e indenizações.
A comissão paritária que busca a reivindicação dos direitos trabalhistas foi criada de maneira conjunta com a União de Trabalhadores de Imprensa de Buenos Aires (UTPBA), com o objetivo de debater um dissídio justo para os empregados dos jornais nacionais. Neste sentido, Rabinovich agradeceu o trabalho que realizam os meios de comunicação alternativos, uma vez que “são eles que divulgam nossas reivindicações quando os grandes meios calam”. Entretanto, afirmou que as medidas que integram o plano de luta pela isonomia de jornais contaram com a massiva participação da maioria dos trabalhadores de imprensa.
Ao ser consultado sobre esta problemática, o colunista do Página 12. Horacio Verbisky, afirmou à Agência de Notícias Paco Urondo que estas medidas de força demonstram uma “tática muito inteligente dentro da comissão paritária e é possível que consigam um resultado”. Entretanto, marcou diferenças com respeito à responsabilidade sindical dos jornais.
“A luta dos trabalhadores de imprensa é importante. Mas para mim o Clarín não é a mesma coisa que o Página 12”. Até hoje, os trabalhadores do jornal Clarín não podem escolher livremente seus delegados.
Francisco Luque – Agência Carta Maior