Emicida: “A felicidade do branco é plena, a felicidade do preto é quase”

Por Marcos Aurélio Ruy               

Leandro Roque de Oliveira, 34 anos, para quem ainda não sabe esse é o nome de Emicida, um dos mais conceituados cantores e compositores da música popular brasileira contemporânea. Quem ainda não ouviu alguma de suas canções, precisa urgente prestar atenção a esse artista.

Emicida acaba de lançar seu álbum AmarElo que conta com 12 faixas, entre raps, sambas e funks, com poesias elaboradas e inúmeras participações especiais. Este álbum é um libelo ao amor como uma arma poderosa e popular para vencer o ódio que a elite rancorosa e obsoleta sente pelo país e pelo povo brasileiro.

Ismália, de Emicida, de Nave Beats e Renan Samam

Ismália (Emicida, Nave Beats e Renan Samam) tem a participação especial de Larissa Luz e Fernanda Montenegro, que declama o poema Ismália, de Alphonsus Guimarães (1870-1921), um dos grandes nomes do Simbolismo brasileiro, movimento literário, que surgiu na França, no século 19, dando ênfase à fantasia e à subjetividade. Abaixo trecho da canção Ismália:

“Com a fé de quem olha do banco a cena

Do gol que nós mais precisava na trave

A felicidade do branco é plena

A pé, trilha em brasa e barranco, que pena

Se até pra sonhar tem entrave

A felicidade do branco é plena

A felicidade do preto é quase”

A faixa-título AmarElo (Felipe Vassão, DJ Duh, Emicida) tem participação especial de Pablo Vittar e Majur e há um sample da canção Sujeito de Sorte (Bechior) e repete várias vezes os versos “Tenho sangrado demais/Tenho chorado pra cachorro/Ano passado eu morri/Mas esse ano eu não morro.” Porque a veia pulsa, o sangue é vermelho, o coração bate do lado esquerdo e a arte de Emicida é resistência.

AmaElo, de Felipe Vassão, DJ Duh e Emicida

A cada faixa Emicida quase que repete a famosa frase do revolucionário Ernesto Che Guevara (1928-1967) de que há de endurecer-se, mas sem perder a ternura jamais. E como também canta Chico César em seu mais recente álbum: O Amor É um Ato Revolucionário, mas por isso mesmo “fogo nos fascistas” (Pedrada, de Chico César).

Como a dizer: “É o tênis foda/Uma pá de joia foda/Reluz na coisa toda/Do jeito que incomoda/Pretos em roda/É o GPS da moda/Se o gueto acorda/O resto que se foda (Libre, de Emicida e Ibeyi).

Nas canções do seu terceiro álbum de estúdio, numa carreira que começou em 2005, Emicida mostra maturidade e uma vontade de romper barreiras musicais, mesclando ritmos, visitando autores do passado, atualizando a temática do amor, das vontades individuais, das questões sociais e políticas cantando o antirracismo, os direitos das mulheres, dos LGBTs, a justiça e a igualdade de direitos em belas músicas. Vale conferir.

Libre, de Emicida e Ibeyi