Centenário de Dorival Caymmi: O samba baiano com gosto de mar e de vida

Como um dos precursores da bossa nova e grande representante da música popular brasileira, Dorival Caymmi completaria 100 anos em 30 de abril não tivesse falecido em 16 de agosto de 2008, aos 94 anos. Como a obra de grandes autores não morre jamais, Caymmi é um dos maiores propulsores do jeito baiano de fazer samba e de viver. Característica puta se suas cerca de cem canções.

A cara do brasileiro mestiço, o compositor baiano pegou um Ita no norte em 1938, ainda com 22 anos e rumou par o Rio de Janeiro, onde começou a compor sambas-canções, prenúncio da bossa nova (movimento que revolucionou a MPB nos anos 1950). Caymmi cantou temas urbanos e praieiros, narrando a vida do pescador e as dores de amores das pessoas, além das dificuldades de se levar a vida nas granes cidades brasileiras já nos anos 1930/40. Em Peguei um Ita no norte narra o início de sua carreira:

“Peguei um Ita no norte
Pra vim pro Rio morar
Adeus meu pai, minha mãe

Vendi meus troços que eu tinha
O resto dei pra “aguardá”
Talvez, eu volte pro ano
Talvez eu fique por lá”

O compositor baiano é para o seu estado de origem o mesmo que Luiz Gonzaga é para a música nordestina. Além de estar no primeiro time dos compositores brasileiros de todos os tempos, Caymmi influenciou as gerações posteriores como um dos principais nomes da bossa nova, o também baiano João Gilberto e faz parte das influências do maestro soberano o carioca Tom Jobim. “O Dorival é um gênio. Se eu pensar em música brasileira, eu vou sempre pensar em Dorival Caymmi. Ele é uma pessoa incrivelmente sensível, uma criação incrível. Isso sem falar no pintor, porque Dorival Caymmi também é um grande pintor”, disse Jobim a respeito do amigo.

A importância de Caymmi para a MPB é tamanha que o carioca Chico Buarque reconheceu para o próprio em um especial para a tevê que o autor baiano era seu “ídolo maior”. Já Caetano Veloso disse que “escrevi 400 canções e Dorival Caymmi 70. Mas ele tem 70 canções perfeitas e eu não”, num gesto de humildade do tropicalista também baiano.

As músicas de Caymmi adquiriram um estilo próprio com uma visão de mundo muito peculiar. As agruras não impedem as pessoas de serem felizes e tocarem a vida com alegria e vencer as dicotomias e sonhar com um futuro sem injustiças, onde todos possam viver bem. Sua obra carrega a tinta e as notas de sua herança africana, contando a tragédia de negros e pescadores da Bahia. Caymmi é um dos grandes representantes do nascimento do tema urbano na MPB ao lado de Noel Rosa, Pixinguinha e tantos outros. Em O que é que a baiana tem?, Caymmi canta o traço cultural no molejo da mulher baiana:

“O que é que a baiana tem?
Que é que a baiana tem?
Tem torço de seda, tem! Tem brincos de ouro, tem!
Corrente de ouro, tem! Tem pano-da-Costa, tem!
Tem bata rendada, tem! Pulseira de ouro, tem!
Tem saia engomada, tem! Sandália enfeitada, tem!
Tem graça como ninguém
Como ela requebra bem!”

dorival-caymmi-100-anos

Estreou na Rádio Tupi, no Rio, em 1938, onde interpretou O que é que a baiana tem?. A música impressionou Carmen Miranda a cantasse no filme Banana da Terra (1938). Tinha início a promissora carreira do baiano. Sua musicalidade é tamanha que seus três filhos Nana, Danilo e Dori, enveredaram pela música e estão entre os grandes cantores da MPB. Ao lado de Jorge Amado, Dorival Caymmi está entre os maiores representantes da Bahia e da cultura brasileira, seja nas canções ou nas telas de pintura. Outra obra marcante foi Suíte de pescadores, onde retrata a preocupação com a vida do pescador pra ganhar o pão de cada dia:

“Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar, meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer”

Suas músicas são de grande conhecimento público seja por sua própria voz ou pela de dezenas de intérpretes pelo mundo afora, A lenda do Abaeté, Promessa de pescador, É doce morrer no mar, Marina, Não tem solução, João Valentão, Maracangalha, Saudade de Itapoã, Doralice, Samba da minha terra, Lá vem a baiana, Suíte de pescadores, Nem eu, Nunca mais, Oração para Mãe Menininha, Rosa Morena, Eu não tenho onde morar, Promessa de pescador, Das rosas, Saudades da Bahia, estão entre os muitos clássicos de nossa música popular produzidos por Dorival Caymmi em 60 anos de carreira.

Em Samba da minha terra declara toda a sua dedicação ao ritmo genuinamente brasileiro, que ganhou características peculiares em cada região, onde canta que “quem não gosta de samba bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé”:

“O samba da minha terra deixa a gente mole
quando se canta todo mundo bole, quando se canta todo mundo bole

Eu nasci com o samba e no samba me criei
do danado do samba nunca me separei”

Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

Algumas músicas de Caymmi:

 

Suíte de pescadores (Dorival Caymmi)

Marina (Dorival Caymmi)

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