Centenário de Carolina Maria de Jesus: A força da mulher negra no Brasil

Em fins dos anos 1950, o jornalista Audálio Dantas conta que fazia uma reportagem numa favela em São Paulo quando se deparou com uma catadora de lixo escrevendo em um caderno. A curiosidade de bom repórter o fez interpelá-la para saber o que ela escrevia. Estarrecido descobriu uma grande escritora.

Em 1960, a mineira, negra, favela, catadora de lixo e mãe solteira publicava seu primeiro livro e a força de Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, traduzido pra 13 idiomas e vendas em ais de 40 países. “Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos”, diz a autora em seu livro. Uma mulher forte como forte é a mulher brasileira. Como um Garrincha da literatura, Carolina emrgiu e sucumbiu aos olhos curiosos de uma plateia indiferetne.

Se não tivesse falecido pobre e sobrevivendo como catadora de lixo novamente, em 13 de fevereiro de 1977 antes de fazer 63 anos, Carolina completaria 100 anos nesta sexta-feira (14). Ela sucumbiu à discriminação e ao desprezo de uma elite que só valoriza autores acadêmicos e vive com os olhos voltados para o mar e de costas para o Brasil. “Carolina é uma escritora fundamental para entender a literatura brasileira, que é feita, em sua grande maioria, de autores brancos de classe média que dominavam a língua formal. Ela mostra a outra face dessa história, que passa a ser vista do ponto de vista dela, de baixo”, diz a professora da Universidade de Brasília Germana Henriques Pereira.

Carolina publicou também o romance Pedaços de Fome e o livro Provérbios, ambos em 1963. Após a morte da escritora, em 1977, foram publicados o Diário de Bitita, com recordações da infância e da juventude; Um Brasil para Brasileiros (1982); Meu Estranho Diário; e Antologia Pessoal (1996). Para Dantas, a força de sua literatura reside em ela descrever arealidade que vivenciava.

A escritora que causou um boom literário e comoveu a sociedade durante breve período, assim como Lima Barreto sucumbiu ao pouco caso de setores da sociedade que não conhecem o Brasil e nem querem conhecer. Uma legítima representante da classe trabalhadora escrevia o que sentia na pele e nisso reside a força de sua literatura e como é ácida á elite,caiu no esquecimento. Precisa ser mais estudada nas escolas e lida pelos brasileiros de todas as idades. Mal vista por uma elite que ri da desgraça alheia, chora quando não tem o vil metal para se regalar e imagina-se europeia.

“28 de maio …A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra. E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro”, sintetiza Carolina Maria de Jesus em seu livro de estreia Quarto de Despejo. A força de sua literatura reside extamente na revelação de uma realidade a qual a classe média e a rica só vê em filmes e nem se comove. Uma realidade maquiada em novelas televisivas e apresentada apenas como questão policial nos telejornais da TV comercial. As Sherazades da vida adorariam linchar essa grande escritora brasileira.

Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB   

 

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