Bolsonarismo já teme derrota no Oscar

“O temor de que um premio para ‘Democracia em Vertigem’ possa fixar, no mundo inteiro, a noção de que Dilma Rousseff foi derrubada por um golpe mobiliza vários escalões dos aliados do governo”, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia.

Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

O movimento que unifica Pedro Bial, o tuite da Secom e demais vozes alinhadas no ataque  ao documentário “Democracia em Vertigem”, traduz uma realidade escancarada — o bolsonarismo trava uma luta desesperada contra uma eventual derrota na entrega do Oscar, na segunda-feira, 9 de fevereiro, perante uma platéia de 1 bilhão de pessoas.

A imensa repercussão já conseguida pelo filme de Petra Costa junto à mídia norte-americana, onde foi chamada a dar respeitosas entrevistas para veículos de primeira linha, colocou o Planalto de sobreaviso e é fácil entender a razão.  

Para um governo habituado a comprar apoio junto ao baixo nível da mídia brasileira, qeu atua sob medida para transformar o Brasil numa Ilha da Fantasia, a simples  possibilidade de uma vitória de “Democracia em Vertigem” no Oscar representa uma derrota sem preço, pois atinge o imaginário mundial da segunda década do século XXI.

Formando uma audiência só comparável — numericamente — às Copas do Mundo e às Olimpíadas, mas com um significado social e político inteiramente diverso, o Oscar ajuda a  criar comportamentos, lançar modas e influir nas ideias em curso ao longo de cada época.

Também produz ideologias. Sob influencia  direta do Departamento de Estado, ao longo da década de 1950 Hollywood refilmou a história da II Guerra Mundial em dezenas de produções milionárias, escondendo  o papel essencial das tropas da União Soviética na vitória sobre o nazismo para dar um destaque desmedido as Forças Aliadas sob comando dos Estados Unidos.

Claro que um filme brasileiro que concorre na categoria de Melhor Documentário — que infelizmente constitui sinônimo de chatice para muitas pessoas — jamais terá o charme nem o poder de atração das grandes produções de Hollywood.

Mas é certo que uma vitória no Oscar terá um impacto inegável. Irá contribuir para fixar a noção de que Dilma Rousseff foi derrubada por um golpe de Estado, que abriu caminho para as barbaridades políticas que vieram a seguir, até o governo Bolsonaro, um inimigo declarado do cinema brasileiro. A disputa aqui é essa — e o suspense irá acompanhar a noite do Oscar até o anuncio do vencedor.

Via Brasil 247