A negritude e a brasilidade nas obras de Castro Alves e Abdias Nascimento

Em tempos de fortes manifestações racistas no futebol no Brasil e no mundo, esta sexta-feira (14) representa um marco importante nas lutas dos negros brasileiros pela igualdade de direitos. Neste dia nasceu o “Poeta dos Escravos”, o baiano Castro Alves, em 1847 que também marca o centenário do ativista contra o racismo Abdias Nascimento, que morreu em 23 de novembro de 2011 aos 97 anos. Inclusive, 14 de março é o Dia Nacional da Poesia em homenagem ao poeta baiano.

O mulato Castro Alves deixou vasta obra em seus curtos 24 anos de vida e foi importante voz da causa abolicionista. Publicou seu primeiro poema em 1863, aos 16 anos, A Canção Africana, no jornal A Primavera. Criou com amigos em 1865 a Sociedade Abolicionista, uma das causas de sua vida, também era engajado na defesa da República no país.

Navio negreiro castro alves
Em 1869 publica um de seus poemas mais famosos
O Navio Negreiro. Castro Alves morreria dois anos depois vítima da tuberculose e da vida boêmia que levava junto com poetas românticos de sua geração. Deu seu último suspiro no dia 6 de julho de 1871. Mas apesar de ter vivido tão pouco, a obra do poeta brasileiro permanece atual porque atemporal e profundamente humana.

Como principal representante do condorismo, escola literária que marca a terceira fase romântica da poesia nacional, profundamente intrincada pela temática social e a defesa de ideias igualitárias, Castro Alves permanece como um dos grandes poetas da língua portuguesa. Espumas Flutuantes (1870) foi um marco na poesia nacional do século 19. Publicações póstumas: a peça teatral Gonzaga ou a Revolução de Minas (1875),A Cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os Escravos (1883) e Hinos do Equador (1921).

Abdias Nascimento

Em seu centenário, o pouco lembrado Abdias Nascimento merecia maiores homenagens porque está entre os mais importantes nomes do movimento negro brasileiro por igualdade de direitos no país. Para os não marxistas Nascimento é tão importante quanto Clóvis Moura para os marxistas. Diferenças de pensamento e estratégias a parte, Nascimento foi um dos organizadores da Frente Negra Brasileira nos anos 1930, inicialmente de inspiração fascista.

Em 1944, já sob outro mote ideológico criou o Teatro Experimental do Negro com participação de Ruth de Souza, Haroldo Costa e Léa Garcia. Três anos mais tarde cria o jornal Quilombo, uma voz constante pela igualdade racial. Organizou 1º Congresso do Negro Brasileiro (1950) e a Convenção Nacional do Negro (1945-46), que propôs à Assembléia Nacional Constituinte de 1945 políticas afirmativas e a definição da discriminação racial como crime de lesa-pátria.

O ativista pela igualdade racial paulista é tão fundamental que 14 de março é o Dia do Ativista no Rio de Janeiro, desde 2009, em sua homenagem. Foi deputado federal pelo PDT-RJ de 1983 a 1987 e suplente de senador de Darcy Ribeiro assumindo o mandato de 1991 a 1992 e de 1997 a 1999. Sempre uma voz destacada nas campanhas por igualdade racial e no respeito às raízes negras da cultura brasileira. Deixou obras essenciais para quem deseja aprofundar conhecimento sobre a formação da nação e do povo brasileiro.

O portal Vermelho publicou declaração da viúva de Abdias Nascimento, Elisa Larkin, onde ela diz que “ele agiu em diversas áreas, artísticas, políticas e intelectuais, no sentido de promover a população afro-descendente e sua cultura e os direitos que eram negados a essas duas matrizes por uma sociedade racista. Abdias representa a primeira voz no século 20 que uniu a reivindicação e a defesa dos direitos humanos e civis dessa população ao direito dela de valorizar sua cultura e sua identidade própria”. Elisa é diretora do ora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) que presta homenagem ao ativista negro nesta sexta-feira no Clube de Engenharia na capital fluminense.

Trecho da poesia O Navio Negreiro (1869), de Castro Alves:

“Ontem simples, fortes, bravos. 

Hoje míseros escravos, 

Sem luz, sem ar, sem razão. . .

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder…
Hoje… cúm’lo de maldade,
Nem são livres p’ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute… Irrisão!..

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro… ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!…”

Algumas publicações de Abdias Nascimento:

Quilombo (2003)
A Luta Afro-Brasileira no Senado (1991)
Axés do Sangue e da Esperança: Orixás (1983)
Sitiado em Lagos (1981)
O Genocídio do Negro Brasileiro (1978)
Sortilégio – Mistério Negro (1959)
Teatro Experimental do Negro: Testemunhos (1966)
Dramas para Negros e Prólogo para Brancos (1961)
Relações de Raça no Brasil (1950)

Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

 

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