A humanidade luta para construir o mundo novo onde predomine o amor

Por Marcos Aurélio Ruy (Foto: Racionais MCs/Divulgação)

Nesta edição, as três canções selecionadas constam da trilha sonora do filme Marighella (2019), de Wagner Moura. E como brinde de uma memória musical, Bom Conselho de Chico Buarque, que não está no filme, mas poderia.

Essas músicas reforçam a sensação de ação e de chamamento para a resistência. Como canta Gonzaguinha (1945-1991) sobre a tentativa de apagar da história a resistência contra a ditadura (1964-1985) .

“Uma crença num enorme coração/Dos humilhados e ofendidos/Explorados e oprimidos/Que tentaram encontrar a solução/São cruzes sem nomes, sem corpos, sem datas/Memória de um tempo onde lutar por seu direito/É um defeito que mata” (Pequena Memória Para Um Tempo sem Memória).

Pela memória dos que tombaram em defesa da liberdade e da justiça, essas canções comovem tanto quanto levam a reflexões sobre a atualidade e a necessidade de enterrar o fascismo de vez. Mais uma vez aprecie sem nenhuma moderação e se puder assista ao filme de Wagner Moura.

Nação Zumbi

O grupo pernambucano Nação Zumbi e Chico Science (1966-1997) com seu som singular cantam que “O medo dá origem ao mal/O homem coletivo sente a necessidade de lutar/o orgulho, a arrogância, a glória/Enche a imaginação de domínio/São demônios, os que destroem o poder bravio da humanidade”.

“Modernizar o passado
É uma evolução musical
Cadê as notas que estavam aqui
Não preciso delas!
Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos
O medo dá origem ao mal
O homem coletivo sente a necessidade de lutar
o orgulho, a arrogância, a glória
Enche a imaginação de domínio
São demônios, os que destroem o poder bravio da humanidade
Viva Zapata!
Viva Sandino!
Viva Zumbi!
Antônio Conselheiro!
Todos os panteras negras, Lampião, sua imagem e semelhança

Eu tenho certeza, eles também cantaram um dia”

Monólogo ao Pé do Ouvido (1994), de Chico Science; canta Nação Zumbi

Racionais MCs

Já o grupo da periferia de São Paulo, Racionais MCs homenageia Marighella com esse rap.  Suas canções têm melodias e poesias fortes, marcantes. Aqui o grupo canta que “nosso lema é unir as forças revolucionárias/(Em qualquer parte do Brasil, compatriotas de todas partes/Podem surgir dos bairros, das ruas, dos conjuntos residenciais/Das favelas, mocambos, malocas e alagados/A missão de todos os revolucionários é fazer revolução”.

“Carlos Marighella

Carlos Marighella essa mensagem é para os operários de São Paulo

Da Guanabara, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Rio Grande Do Sul

Incluindo os trabalhadores do interior

Para criar o núcleo do exército de libertação

Carlos Marighella, Carlos Marighella

Carlos Marighella (Carlos Marighella) o poder pertence ao povo

(Carlos Marighella) nosso lema é unir as forças revolucionarias

(Em qualquer parte do Brasil, compatriotas de todas partes

Podem surgir dos bairros, das ruas, dos conjuntos residenciais

Das favelas, mocambos, malocas e alagados

A missão de todos os revolucionários é fazer revolução

Cada patriota deve saber manejar sua arma de fogo

(Carlos Marighella) aumentar sua resistência física (Carlos Marighella)

O principal mesmo para destruir seus inimigos é aprender a atirar

(Carlos Marighella)

Carlos Marighella, atenção, atenção, atenção

A postos para o seu general

Mil faces de um homem leal (vamo! Oi!)

A postos para o seu general

Mil faces de um homem leal

Protetor das multidões

Três encarnações de célebres malandros

De cérebros brilhantes

Reuniram-se no céu

O destino de um fiel, se é o céu o que Deus quer

Consumado, é o que é, assim foi escrito

Mártir, o mito ou Maldito sonhador

Bandido da minha cor

Um novo Messias

Se o povo domina ou não

Se poucos sabiam ler

E eu morrer em vão

Leso e louco sem saber

Coisas do Brasil, super-herói, mulato

Defensor dos fracos, assaltante nato

Ouçam, é foto e é fato a planos cruéis

Tramam 30 fariseus contra Moisés, morô

Reaja ao revés, seja alvo de inveja, irmão

Esquinas revelam a sina de um rebelde, óh meu

Que ousou lutar, honrou a raça

Honrou a causa que adotou

Aplauso é pra poucos

Revolução no Brasil tem um nome

Vejam o homem

Sei que esse era um homem também

A imagem e o gesto

Lutar por amor

Indigesto como o sequestro do embaixador

O resto é flor, se tem festa eu vou

Eu peço, leia os meus versos, e o protesto é show

Presta atenção que o sucesso em excesso é cão

Que se habilita a lutar, fome grita horrível

A todo ouvido insensível que evita escutar

Acredita lutar, quanto custa ligar?

Cidade chama vida que esvai por quem ama

Quem clama por socorro, quem ouvirá?

Crianças, velhos e cachorros sem temor

Clara meu eterno amor, sara minhas dores

Pra não dizer que eu não falei das flores

Da Bahia de São Salvador Brasil

Capoeira mata um mata mil, porque

Me fez hábil como um cão

Sábio como um monge

Antirreflexo de longe

Homem complexo sim

Confesso que queria

Ver Davi matar Golias

Nos trevos e cancelas

Becos e vielas

Guetos e favelas

Quero ver você trocar de igual

Subir os degraus, precipício

Ê vida difícil, ô povo feliz

Quem samba fica

Quem não samba, camba

Chegou, salve geral da mansão dos bamba

Não se faz revolução sem um fura na mão

Sem justiça não há paz, é escravidão

Revolução no Brasil tem um nome

A postos para o seu general

Mil faces de um homem leal

A postos para o seu general

Mil faces de um homem leal

Nessa noite em São Paulo um anjo vai morrer

Por mim e por você, por ter coragem de dizer

Todos nós devemos nos preparar para combater

É o momento para trabalhar pela base

Mais embaixo pela base

Chamemos os nossos amigos mais dispostos

Tenhamos decisão

Mesmo que seja enfrentando a morte

Por que para viver com dignidade

Para conquistar o poder para o povo

Para viver em liberdade

Construir o socialismo, o progresso

Vale mais a disposição

Cada um deve aprender a lutar em sua defesa pessoal

Aumentar a sua resistência física

Subir ou descer

Numa escada de barrancos

A medida que se for organizando a luta revolucionária

A luta armada, a luta de guerrilha

Que já venha com a sua arma

(Atenção)

Muito obrigado Marighella pela sua participação (Carlos Marighella)

Muito obrigado Carlos Marighella

Carlos Marighella

Eh Marighella agradecemos-lhe pela sua participação para o Brasil

Que com estes princípios se pode obter as mudanças

Carlos Marighella hoje vem para falarmos a cerca da conferência da Orla

Marighella que impressões você teve da conferência

Marighella em que outro aspecto você considera importante

Entre os vários temas tratados na conferência da OLAS?

Marighella e sobre a questão da tomada do poder pelas forças revolucionárias

Também discutida na OLAS?

O que você tem a dizer a respeito?

Marighella, passando a outro ponto

Muito obrigado Marighella pela sua colaboração com o nosso programa!

Mil Faces de Um Homem Leal (Marighella, 2012), de Mano Brown; canta Racionais MCs

Gonzaguinha

Como um dos grandes nomes da MPB, o carioca Gonzaguinha mostra toda a sua força poética com esta poesia cantada de modo pujante. No filme, leva às lágrimas. Afinal são memórias “de um tempo onde lutar por seu direito é um defeito que mata”.

Memória de um tempo onde lutar

Por seu direito

É um defeito que mata

São tantas lutas inglórias

São histórias que a história

Qualquer dia contará

De obscuros personagens

As passagens, as coragens

São sementes espalhadas nesse chão

De Juvenais e de Raimundos

Tantos Júlios de Santana

Uma crença num enorme coração

Dos humilhados e ofendidos

Explorados e oprimidos

Que tentaram encontrar a solução

São cruzes sem nomes, sem corpos, sem datas

Memória de um tempo onde lutar por seu direito

É um defeito que mata

E tantos são os homens por debaixo das manchetes

São braços esquecidos que fizeram os heróis

São forças, são suores que levantam as vedetes

Do teatro de revistas, que é o país de todos nós

São vozes que negaram liberdade concedida

Pois ela é bem mais sangue

Ela é bem mais vida

São vidas que alimentam nosso fogo da esperança

O grito da batalha

Quem espera, nunca alcança

Ê ê, quando o Sol nascer

É que eu quero ver quem se lembrará

Ê ê, quando amanhecer

É que eu quero ver quem recordará

Ê ê, não quero esquecer

Essa legião que se entregou por um novo dia

Ê eu quero é cantar essa mão tão calejada

Que nos deu tanta alegria

E vamos à luta.

Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória (1981), de Gonzaguinha

Chico Buarque

Depois de publicar esta matéria no site Rádio Peão Brasil e atendendo a pedido do editor do Portal CTB, veio à memória esta canção de Chico Buarque, que não faz parte do filme, mas poderia. Um brinde aos leitores da CTB. Chico que se recupera de uma cirurgia, sempre esteve e continua na resistência ao fascismo.

“Inútil dormir que a dor não passa/Espere sentado, ou você se cansa/Está provado, quem espera nunca alcança” e a censura não percebeu.

Ouça um bom conselho, que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado, ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha meu amigo, deixa esse regaço
Brinque com meu fogo, venha se queimar
Faça como eu digo, faça como eu faço
Haja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo, vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
Vou pra rua e bebo a tempestade
Vou pra rua e bebo a tempestade

Bom Conselho (1973), de Chico Buarque