A América Latina perde Galeano, um de seus maiores representantes


O escritor no centro de sua cidade natal Montevidéu

Toda a América Latina ficou triste nesta segunda-feira (13) porque uma de suas vozes mais importantes se calou. O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano morreu aos 74 anos vítima de um câncer no pulmão. “É uma grande perda para todos que lutamos por uma América Latina mais inclusiva, justa e solidária com os nossos povos”, disse a presidenta Dilma Rousseff lamentando a perda irreparável para essa parte do continente americano. “Foi-se embora aquele que abriu para mim as portas de um mundo muito, muito mais amplo do que eu jamais poderia imaginar”, chorou a morte do amigo uruguaio, o escritor e jornalista brasileiro Eric Nepomuceno.

Em seu livro mais famoso, “As Veias Abertas da América Latina”, publicado em 1971, o autor analisa a história dessa parte desde a colonização, apresentando toda sua veia literária num libelo contra a exploração colonialista e o fascismo que lhe tirou de seu país em 1973 quando um golpe de Estado foi dado no Uruguai, onde se instalou uma feroz ditadura, como em quase todo o continente entre os anos 1960 e 1970.

De estilo inconfundível, Galeano sempre denunciou as atrocidades e injustiças cometidas contra os trabalhadores. Em uma entrevista concedida ao jornalista Breno Altman em 1997 disse: “não há riqueza inocente, que não se explique pela pobreza; que todo processo de acumulação é também um fenômeno de excluir. E que o modelo econômico dominante no continente cobra dos povos latino-americanos tanto a conta das crises e das recessões como dos surtos de desenvolvimento”.

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Morre, aos 74 anos, o escritor uruguaio Eduardo Galeano

Exilado na Espanha escreveu a trilogia “Memória do Fogo” (1982 a 1986) onde traça um painel poético, histórico, épico, fantástico, no qual conta histórias da história da América Latina, da época pré-colombiana até a atualidade, sempre com o mesmo rigor estético e de apuração. “Os nascimentos”, primeiro livro, abrange os séculos XV, XVI e XVII; o segundo, “As caras e as máscaras”, os séculos XVIII e XIX, e “O século do vento”, fecha o século XX. Entre as suas mais de 40 obras pode-se destacar “A Pedra Arde” (1983), “O Livro dos Abraços” (1989), “O Futebol de Sol e Sombra” (1995), “Ser Como Eles” (1997), “De Pernas pro Ar – a Escola do Mundo Avesso” (1999), entre outros fundamentais livros para se conhecer a formação da América Latina.

Eduardo Hughes Galeano se manteve sempre do mesmo lado. O lado dos oprimidos, aos quais dava voz constantemente em suas obras. Após a vitória de Barack Obama nas eleições de 2008 o autor uruguaio disse que “agora, ele entra na Casa Branca, que será a sua casa. Tomara que não esqueça que a Casa Branca foi construída por escravos negros. Chegou a hora dos Estados Unidos se libertarem da sua pesada herança racista”.

Não existem palavras suficientes para homenagear um autor da grandeza de Eduardo Galeano. Por isso a homenagem fica em suas próprias palavras sobre a arte de quem usa a palavra com vontade de mudar e melhorar o mundo. Coisa rara atualmente. “Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada”, escreveu. E ele sempre teve muito a dizer e ajudou o mundo a ficar um pouco melhor com suas palavras. Nepomuceno diz que ele “sabia enxergar com nitidez as menores coisas da vida e do mundo e, ao mesmo tempo, enxergar toda a sua amplidão”.

Por Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB

Entrevista concedida por Eduardo Galeano ao amigo Eric Nepomuceno em 2009 pelo Canal  Brasil: 

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