Sem provas, advogados de acusação centram na retórica política. “É uma vergonha!”, diz Araújo

Publicado 30/08/2016
Os advogados de acusação Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior abriram a sessão de hoje no Senado federal no penúltimo dia do julgamento da presidenta afastada Dilma Rousseff. Eles poderão falar por até três horas, e depois os senadores discursam.
Mais de 60 senadores já se inscreveram para falar. Paschoal abriu os trabalhos por volta das 10hs da manhã, e sua fala abordou, na maior parte do tempo, aspectos que não estão sendo contemplados no processo. Ela invocou Deus. “Foi Deus que fez com que várias pessoas percebessem o que estava acontecendo e conferiu a elas coragem para fazer alguma coisa a respeito”. E também fez menção aos netos da presidenta Dilma.
Insistiu que, em 2014, o governo não fez cortes necessários por motivos eleitorais e, no ano seguinte, emitiu decretos sem autorização do Congresso, reafirmando que agiu em descumprimento à lei, desconsiderado o fato de que a lei foi aprovada após os atos, e não poderia ter efetividade retroativa.
Argumentos que foram largamente explicados e desmentidos pelos dados técnicos apresentados como tanta precisão e serenidade pela presidenta, em suas 14 horas de pronunciamentos ontem, e anteriormente, pelo ex-ministro da Fazenda Rubem Barbosa.
Depois, discursou o advogado Miguel Reale, que majoritariamente desferiu ofensas às gestões petistas, que classificou de “malandras” e sem seriedade, também sem se ater às questões técnicas que compõem o processo em análise no Senado federal.
“Isto é uma vergonha”, diz Adilson Araújo
O presidente da CTB, Adilson Araújo, classificou de “vergonha nacional” a performance dos dois advogados da acusação. “Miguel Reale Júnior e Janaína Pascoal dispensam argumentos técnicos e jurídicos para montar um verdadeiro teatro. Os frágeis argumentos, claramente um posição velada e política, foram utilizados como uma arma para ferir de morte a nossa Democracia. Uma vergonha. Agrediram e feriram a ordem jurídica”.
E conclui com um provérbio latino, que afirma: “Daemonium vendit qui daemonium prius emit”, ou seja: Quem diabos compra, diabos vende!
A senadora Gleise Hoffmann pediu a palavra e pontuou que os pronunciamentos deveriam se ater aos aspectos técnicos do processo e não à retórica política, como aconteceu em ambos os casos. “A dra. Janaína invocou Deus. Deus não tem nada a ver com este golpe, sr. presidente. Era importante que a acusação colocasse os fatos jurídicos, fizesse a defesa técnica. Porque dizem que é crime de responsabilidade três decretos suplementares”, disse ela.
Tal pai, tal filho
O advogado Miguel Reale Jr., que destilou ódio e preconceito na tribuna do Senado em defesa do impeachment, teve a quem puxar. Seu pai, Miguel Reale, além de colaborar com a ditadura de 1964, fazendo a revisão da “constituição de 1967” a convite do ditador Arthur da Costa e Silva foi um dos ideólogos do integralismo, a versão brasileira do fascismo, conforme informa o jornalista Alex Solnik.
Miguel Reale também fez parte, ao lado de Plínio Salgado, Gustavo Barroso, Roland Corbisier e Santhiago Dantas da Ação Integralista Brasileira, movimento político nacionalista, de extrema direita.
Portal CTB