Sem confrontos diretos com a PM, Passe Livre reúne 11 mil jovens em favor do transporte público

As passeatas do Movimento Passe Livre desta quinta-feira (14) contaram com mais de 11 mil pessoas em São Paulo, de acordo com a organização do evento. O número é a soma dos blocos que saíram às 17h do Theatro Municipal e do Largo da Batata, ambos fortemente pressionados pela Polícia Militar e pela Tropa de Choque do governo do estado. No trajeto, o grupo do centro parou diante de diversos pontos de interesses dos governos estadual e municipal, como a Prefeitura de São Paulo e a Secretaria de Segurança Pública, para realizar jograis reivindicatórios e provocativos, antes de seguir para o Museu de Arte de São Paulo (Masp).

A composição dos manifestantes demonstrou-se bem diversa àquelas das passeatas contra e a favor do impeachment em 2015: uma maioria absoluta de jovens, muitos ainda no Ensino Médio, comandavam a multidão pelas ruas da cidade. Eram racialmente diversos e com perfis econômicos de classe média e trabalhadora, com uma presença apenas secundária dos movimentos sociais organizados. Houve presença equilibrada entre mulheres e homens, mas elas estavam no comando da caminhada. Especialmente entre os black blocs, que faziam a segurança contra as forças repressivas da PM, havia mais mulheres que homens.

Em todo o percurso, houve forte presença da polícia, que manteve a tática de “envelopar” a passeata, ou seja, cercar com cordões de policiais a frente, as laterais e a retaguarda dos grupos. A própria PM criou um raio de isolamento de diversos quarteirões ao redor do protesto, divergindo o tráfego de carros e pessoas pela cidade. Isso criou um ambiente de tensão entre os manifestantes, que passaram a bradar palavras de ordem pelo fim da Polícia Militar em paralelo às reivindicações de transporte público.

Após o término do ato, a estação Trianon do Metrô, na Avenida Paulista, foi fechada, forçando os manifestantes a se dirigirem em massa para a estação Consolação. A entrada da estação ficou sobrecarregada e vidros do acesso as escadas rolantes foram quebrados. A polícia atirou bombas de gás lacrimogênio para dispersar as pessoas. Há registro de ao menos um ferido, atendido pelo Grupo de Apoio ao Protesto Popular. A polícia não informou se houve detidos.

Autoritarismo à tucana

Na quarta-feira (13), o secretário de Segurança Pública do estado, Alexandre de Moraes, voltou a dizer que caso os manifestantes não informem antecipadamente o percurso que as passeatas vão seguir, a própria polícia determinará as ruas em que elas deverão passar. A posição da secretaria, no entanto, é vista como ilegal pela Coordenação da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP).

“A Constituição Federal permite a livre manifestação, permite a reunião e exige apenas uma prévia notificação, um aviso. Não existe nenhuma lei abaixo da Constituição, como afirma o secretário de Segurança, a determinar que você tenha de informar à polícia o local [em que a passeata irá passar], e a polícia autorizar. Isso é contra a lei”, disse o coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB de São Paulo, Martim de Almeida Sampaio.

No protesto de terça-feira (12) do Movimento Passe Livre, após parte dos manifestantes tentar driblar o forte policiamento para seguir em direção ao Largo da Batata, em direção contrária à definida pela PM, policiais começaram a disparar bombas de estilhaços e de gás lacrimogêneo e a bater com cassetetes nos manifestantes. Passaram a disparar também contra a multidão que permanecia na Praça do Ciclista, confinada por cordões policiais. Os ativistas ficaram encurralados, tendo de um lado policiais da tropa de choque disparando bombas e, de outro, um cordão que impedia a saída dos manifestantes da praça.

“O que houve foi uma operação militar, de cerco e aniquilamento dos manifestantes. Cercaram e jogaram, durante seis minutos, 47 bombas. Uma bomba a cada 7 segundos. Qualquer polícia em um estado democrático tem é de assegurar àqueles manifestantes o direito de ir e vir, liberdade de reunião. Eles têm o direito de se manifestar”, disse Sampaio.

De acordo com o MPL, pelo menos 20 manifestantes foram feridos por estilhaços de bombas e balas de borracha atirados pela polícia naquela ocasião, e precisaram ser encaminhados a hospitais da região. Um deles é o estudante de arquitetura Gustavo Camargo, que teve fratura exposta no polegar direito. Segundo a mãe do jovem, Ana Amélia Camargo, o rapaz, de 19 anos, foi atingido por uma bomba lançada pela polícia e passou ontem por uma operação. “A cirurgia foi para limpar. A preocupação inicial era de não infeccionar. Amanhã é que eles vão ver como reconstituir o dedo”, contou Ana Amélia.

Portal CTB, com informações da Agência Brasil

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