No Senado, Ana Júlia defende desobediência civil contra a repressão ao movimento estudantil

Publicado 01/11/2016 - Atualizado 31/07/2019
Ana Júlia diz o que os progressistas gostariam e os conservadores não querem ouvir
A estudante que empolgou as cabeças progressistas do país com seu discurso em defesa das ocupações de escolas no Paraná, Ana Júlia Ribeiro, mais uma vez fala o que todos os defensores de uma educação pública de qualidade gostariam e os conservadores precisam ouvir, desta vez em audiência pública sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55 (ex-PEC 241), no Senado Federal.
Com a história na mão
Ela afirma que as ações dos estudantes são vistas como “baderna”, mas que na verdade é pela educação pública. Diz ainda ser a favor de mudanças na educação, mas que a sociedade possa debater, que o movimento estudantil possa participar. “Estamos lá porque acreditamos no Brasil”.
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No final, ela falou contra a onda de repressão, que se espalha pelo país, aos ocupantes de escolas e afirma que “estamos lá na paz”. A menina de 16 anos afirma com firmeza que “vamos desenvolver métodos de desobediência civil, nós vamos levar a luta estudantil para frente, nós vamos mostrar que não estamos aqui de brincadeira, e que o Brasil vai ser um país de todos”. Para ela, quem votar a favor da PEC do Fim do Mundo estará com as “mãos sujas por 20 anos” (acompanhe abaixo a fala da estudante).
Na contramão
Conservadores agem à revelia do Estado Democrático de Direito. Em diversos estados a repressão ao movimento dos secundaristas contra a PEC 55 e a reforma do ensino médio, mostra a verdadeira face do governo golpista contra a democracia, a inteligência e o bom senso.
O juiz Alex Costa de Oliveira, da Vara da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios chegou ao absurdo de autorizar o uso de técnicas de tortura contra estudantes.
“Autorizo expressamente que a Polícia Militar utilize meio de restrição à habitabilidade do imóvel, tal como, suspenda o corte do fornecimento de água; energia e gás (…) restrinja o acesso de terceiro, em especial parentes e conhecidos dos ocupantes”, determina.
Em seu ofício (veja foto abaixo), o juiz autoriza o corte de água, luz e gás das unidades de ensino, além de impedir o acesso de familiares e amigos. Autorizou inclusive a utilização de “instrumentos sonoros contínuos, direcionados ao local da ocupação, para impedir o período de sono”.
Sem intimidar-se, centenas de estudantes do DF, ocuparam a reitoria da Universidade de Brasília (UnB), no campus Plano Piloto, na noite desta segunda-feira (31) para protestar contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55 (ex-241), que congela os investimentos em educação e saúde por 20 anos. Aos gritos de “recua, direita recua. É o poder popular que tá na rua” (veja vídeo abaixo).
Jovens algemados como criminosos
Mesmo sem autorização judicial, na quinta-feira (27), chamada pela direção da escola, a Polícia Militar invadiu a Polícia Militar, em Miracema, interior do Tocantins, e deteve estudantes. Como se fossem bandidos, os jovens foram algemados e levados para a delegacia da cidade. No dia seguinte, a Justiça determinou a liberação de todos.
Estudantes de Tocantins foram presos e algemados (reprodução / Facebook / Gleisi Hoffmann)
No Paraná, estado com o maior número de escolas ocupadas, grupos fascistas, liderados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) agem com violência tentando desocupar a escolas. Eles atacam “as escolas com pedras, com ameaças”, diz Camila Lanes, presidenta da união Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).
Pelo país, “a gente vê casos como o atropelamento de um estudante em um ato; a gente vê casos, como na Bahia, de agressões físicas e ameaças feitas por membros desse movimento contra estudantes; a gente vê casos, como aqui em Brasília, em que o Movimento Desocupa tentou invadir uma escola pelo telhado”, afirma a líder estudantil.
Na quinta-feira (27), em Chapecó, em Santa Catarina, a PM catarinense invadiu a ocupação da escola Irene Stonoga com fuzis em punho, acompanhada da direção da escola. A imprensa local afirma que direção manteve os estudantes presos entre as grades do corredor até os policiais chegarem.
Em Bocaiúva, Minas Gerais, estudantes e educadores da Escola Estadual Dr. Odilon Loures se unem contra a PEC do Fim do Mundo e tomam as ruas da cidade, contra o congelamento de investimentos em educação e saúde públicas(veja foto abaixo).
Estudantes e educadores de Bocaiúva contra a PEC da Maldade
A estudante Clara Stempkowski diz, para a Ubes, que “foi muito assustador para nós, todos estávamos muito amedrontados, eu nunca havia visto uma arma daquele porte, não sabia o que fazer, fiquei tremendo por horas até conseguir me acalmar”.
Do Paraná vem a boa notícia. Ao saberem da intenção do MBL de desocupar à força o do Colégio Estadual Pedro Macedo, em Curitiba, pais de alunos, professores e vizinhos da escola saíram em defesa dos estudantes e expulsaram os fascistas. Alunos fazem o mesmo para defenderem seus colegas do Núcleo Regional de Educação, na capital paranaense (assista abaixo).
Já em São Paulo a PM é acusada de carregar uma lista com fotos e nomes de secundaristas e apoiadores do movimento”, diz Liliane Almeida, do GGN. “Ao ser abordado, o jovem é obrigado a reconhecer os colegas apresentados nas imagens. Quem não consegue, é espancado”, afirma a repórter.
Com a violência costumeira, a PM de Geraldo Alckmin ataca jovens inocentes (foto: jornal GGN)
Ela conta o caso “de um estudante de Paraisópolis, pego dentro de uma estação da CPTM e levado até uma pequena sala com dois policiais, sem identificação, que o interrogaram apresentando fotos de outros estudantes que o jovem precisava reconhecer dando nomes e endereços. Como o rapaz, de apenas 16 anos, se recusou a passar informações, foi brutalmente espancado até perder a consciência”.
Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy