Lava Jato fomentou o fascismo brasileiro

Publicado 19/01/2023 - Atualizado 19/01/2023
Mistificada pela mídia burguesa, a Lava Jato foi uma operação instruída e municiada pelos EUA com objetivos geopolíticos e econômicos. O ex-juiz Sergio Moro foi quem a comandou. Ele viajou várias vezes para Washington, desde 2007, e realizou diversos cursos e parece ter saído de lá como um especialista em lawfere (manipulação do Poder Judiciário para fins políticos espúrios). Foi enaltecido como herói nacional por jornalistas da Rede Globo e Veja.
Depois de condenar e prender Lula injustamente, conforme ficou claro no julgamento final tardio do STF, Moro foi agraciado por Jair Bolsonaro com o Ministério da Justiça. O capitão reformado, hoje foragido nos EUA, tinha consciência de que, sem o auxílio do ex-juiz curitibano não teria ganho as eleições. Todas as pesquisas indicavam uma vitória folgada de Lula e foi esta razão que o líder do PT foi preso e passou 580 dias encarcerado.
Moro e a CIA
É significativo que em uma de suas viagens aos EUA, já como ministro de Bolsonaro, ele tenha feito questão de visitar a sede da CIA, agência de espionagem especializada em golpes de Estado e na refinada arte da tortura, que ensinou aos militares brasileiras durante o regime militar.
É também sintomático que, depois de sair do Ministério da Justiça com o projeto de ser candidato à Presidência da República, tenha se transformado em sócio, e depois funcionário, de uma empresa de consultoria estadunidense (Alvarez & Marsal) fundada por agentes da CIA e do FBI.
Mas a mídia burguesa fez e faz vistas grossas a tudo isto porque esteve profundamente envolvida na lama da Lava Jato, cujo método inclui uma forte campanha de desmoralização dos políticos e da política, o que abriu caminho para a ascensão do fascismo brasileiro capitaneado por Jair Bolsonaro, conforme notou o pesquisador Fabio de Sa e Silva.
Falso discurso
Em sua opinião, a retórica da força-tarefa de perseguição de inimigos do povo é consistente com a ideia de que há alguém capaz de proteger o país de uma ameaça – “no caso de Bolsonaro, a ameaça do crime ou do comunismo”.
A pretexto de combater a corrupção, a Lava Jato debilitou a democracia e as instituições públicas para alcançar fins políticos espúrios, como depois ficou evidente (Moro hoje é senador e o coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, foi eleito deputado federal). O falso discurso, potencializado pela mídia burguesa, ganhou as ruas e acabou por favorecer a eleição do fascista Jair Bolsonaro.
A análise de Fabio de Sa e Silva, professor de estudos brasileiros na University of Oklahoma, nos Estados Unidos, foi feita a partir de pesquisa que codificou 194 entrevistas concedidas por membros da Lava Jato e pelo juiz Sergio Moro de janeiro de 2014 a dezembro de 2018, somando mais de mil páginas de conteúdo. O estudo foi publicado no último sábado (10/10) no Journal of Law and Society.
Gramática fascista
Em entrevista à DW Brasil, Sa e Silva, que se considera um liberal, afirma que as entrevistas indicam que a Lava Jato tinha uma “gramática política” estruturada, que incluía pressionar pela mudança de normas em benefício da própria força-tarefa, classificar os que resistiam a alterações como inimigos do povo e contornar a lei quando necessário para alcançar objetivos políticos.
Além de alimentar o fascismo bolsonarista, a Lava Jato liquidou grandes empresas brasileiras da construção civil, destruindo milhões de empregos e favorecendo multinacionais estadunidenses, enfraqueceu a Petrobras e favoreceu a estratégia geopolítica dos EUA de enfraquecer a Unasul, a Celac e o Brics e recompor a hegemonia imperialista de Washinton na América Latina e Caribe.