Dia da Amazônia: defender a floresta significa lutar pelos interesses nacionais

Por Marcos Aurélio Ruy. Foto: Vinicius Mendonça/Ibama

5 de setembro é o Dia da Amazônia por causa da criação da província pro Dom Pedro II, em 1850. Mas o maior bioma do planeta está em chamas como mostram os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão constantemente atacado pelo presidente Jair Bolsonaro por divulgar os números de queimadas na maior floresta tropical do mundo e apontar o desmatamento ilegal.

A maior floresta tropical do mundo possui 4,19 milhões km², dos quais 60% estão no Brasil, e atinge outros oito países (Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela). Crescem os olhos dos capitalistas nessa que é a maior bacia hidrográfica do mundo, com muita riqueza no solo e subsolo.

“Todo mundo sabe que a briga pela posse da água se torna um dos fatores mais importantes do atual estágio do capitalismo e o Brasil é um dos países centrais nessa questão, por isso resistir à privatização é essencial e a defesa da floresta é parte dessa resistência”, argumenta Cleber Rezende, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

E mesmo com as queimadas proibidas desde 16 de julho pelo decreto 10.224/2020, os focos de incêndio permanecem. De acordo com o INPE em agosto foram registrados 30.901 focos, 5% menor em relação a agosto de 2019, mas 7,8% maior em áreas de proteção ambiental.

Amazônia em Chamas (1994), de John Frankenheimer, conta a trajetória de Chico Mendes

 “Vivemos um processo de destruição de todos os direitos a uma vida digna com expulsão dos trabalhadores rurais, povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos de suas terras para apropriação latifundiária”, denuncia Cleber.

“Vemos um processo de queimadas nunca visto na história de nossa região para abertura de pastagens para gado”, afirma. O Greenpeace aponta para 8.031 queimadas no Amazonas em agosto e “no Pará quatro municípios concentraram 68% dos 10.865 incêndios no estado. Essas mesmas quatro cidades concentram 19% de todo rebanho bovino do Pará, segundo dados do Efetivo Bovino do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a área de influência da rodovia BR-163 foi palco de 5.092 incêndios (48%)”, denuncia a ONG, com sede na Holanda. 

Informações do INPE mostram crescimento de 34,5% nos alertas de desmatamento, entre agosto de 2019 e julho de 2020, em relação ao mesmo período de 2019. No ano passado, foi devastada uma área de 9.205 km² (o equivalente a 1.100.000 campos de futebol). Já em julho de 2020 foram desmatados 1.654 km² da floresta.

Dia da Amazônia

Estimativas apontam para a existência de cerca de 1 milhão de km² de vegetação amazônica sem regulamentação, o equivalente a dois estados de Minas Gerais, informa o blog O Outro Lado da Notícia. “Além de destruírem o bioma, as queimadas podem tornar irreversível a recuperação da mata”, alega Cleber. Além disso, “avança na região a prática do trabalho análogo à escravidão com o avanço do latifúndio”.

O sindicalista paraense chama a unidade de toda a sociedade para “defender a floresta, o nosso território e os habitantes da região” porque “lutar pela Amazônia significa defender a soberania nacional e os direitos da classe trabalhadora”.

Trailer de Amazônia Sociedade Anônima (2019), de Estevão Ciavatta

O filme “Amazônia Sociedade Anônima” (2019), de Estevão Ciavatta, ajuda na compreensão dos acontecimentos atuais. O documentário conta a união de indígenas com ribeirinhos, sob a liderança Cacique Juarez Saw Munduruku, no enfrentamento ao roubo de terras e desmatamento ilegal. O filme está disponível na 9ª Mostra Ecofalante de Cinema. Também pode ser assistido pelo Canal Brasil, de TV paga.  Quem tiver acesso à internet, vale muito a pena procurar esse documentário na programação.