Crescimento explosivo das internações em São Paulo e no Rio sinalizam para o colapso do sistema de saúde no Brasil

Publicado 14/04/2020
Em três semanas, São Paulo tem mais internações por síndromes respiratórias que em todo o ano de 2019; no Rio 71,2% dos leitos das UTIs já estão ocupados. A doença, que Jair Bolsonaro definiu como um “resfriadinho”, avança implacavelmente no país.
De 8 a 28 de março, 9.759 pessoas foram internadas por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no estado de São Paulo, segundo dados do Infogripe da Fiocruz. O número supera aquele registrado nos 12 meses de 2019, quando ocorreram 9.701 internações.
Desses casos, 1.727 foram confirmados como Covid-19 e 234 foram diagnosticados como outros vírus. Outros 963 testaram negativo, não testaram ou não tinham a informação. Outros 5.664 pacientes ainda aguardam o resultado dos exames.
O levantamento não considera a última semana disponível no sistema, de 29 de março a 4 de abril, porque a estimativa é menos precisa no período mais recente.
Tendência é piorar
O número de internações começou a crescer rapidamente a partir do início de março. Na última semana de fevereiro, foram registradas 196 internações por SRAG em SP. De 1 a 7 de março, o número cresceu para 367. Na semana seguinte foram 1.430 casos.
“Já estamos vivendo um impacto nos serviços de saúde, e a tendência é que isso piore nas próximas semanas”, diz a pneumologista Patricia Canto Ribeiro, da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz, em entrevista ao G1.
“Porque não só a pandemia ainda não chegou no seu pico – e vai ter cada semana um aumento do número de casos – como também, com o avançar do tempo frio, vai ter um aumento das outras viroses.”
Ela explica que o novo coronavírus chega no momento em que o tempo começa a esfriar, e já há um aumento do número de internações por doenças respiratórias virais.
Pior cenário
“Você tem o pior cenário. Somam-se as duas coisas: internações esperadas, vamos dizer assim, que ocorrem todos os anos, acrescidas de um número muito grande de internações não esperadas (de coronavírus), que é exatamente o que sobrecarrega os serviços de saúde.”
“Esse dado não me surpreende nada”, diz Jaques Sztajnbok, médico supervisor da UTI do Hospital Emílio Ribas. Ele afirma que a maior parte dos casos de Covid-19 ainda não foi confirmada e é registrada como SRAG.
“A gente está vivendo uma coexistência de dois picos epidemiológicos, influenza e Covid-19. A vacina da gripe foi adiantada, então esse surto a gente consegue prevenir e diminuir. O que me faz imaginar que o que está aparecendo mesmo é o coronavírus.”
No Rio de Janeiro, o crescimento das internações, provocado pelo Covid-19, elevou a ocupação das UTIs a 71,2%. O hospital de referência no tratamento da Covid-19 da prefeitura do Rio, o Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte da cidade, que concentra a maior parte dos leites para tratamento da doença, já tem mais de 90% das vagas ocupadas nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs).
A evolução do quadro hospitalar no país parece se orientar no sentido do colapso do sistema de saúde público e privado do país, concretizando a previsão do ministro da Saúde, Luiz Mandetta.