Butantan suspende envase de CoronaVac e diz que ataques desvairados de Bolsonaro à China afetam importação de insumos

Publicado 06/05/2021 - Atualizado 06/05/2021
As consequências da insensatez do líder da extrema direita jé se manifestam. O Butantan suspendeu nesta quinta-feira (6) o envase da vacina CoronaVac por conta da falta de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), a matéria-prima do imunizante. É a segunda vez que o procedimento é paralisado por conta de atrasos no recebimento do insumo, o que agora ocorre num momento em que 10 capitais brasileiras carecem da vacina para a segunda dose e oito cidades não têm sequer para a primeira. A conduta do presidente agrava a crise sanitária e atenta contra a saúde pública
A direção do Instituto e o governador de São Paulo, João Doria, afirmaram nesta quinta-feira (06/05) que os ataques do presidente Jair Bolsonaro à China estão afetando a importação de insumos para a fabricação de vacinas contra a covid-19.
Ataques à China
Na quarta-feira, Bolsonaro insinuou que a China teria criado o vírus em laboratório como parte de uma “guerra química” – uma acusação que contraria a Organização Mundial de Saúde (OMS), que aponta que o vírus provavelmente tem origem animal.
Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já havia dito que os os chineses “inventaram” o coronavírus. Não foram os únicos membros do círculo do presidente que fizeram ataques do gênero. O filho “03” do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, e os ex-ministros Ernesto Araújo e Abraham Weintraub já haviam distribuído ataques contra os chineses ou espalhado teorias conspiratórias envolvendo o país asiático.
“O insumo da principal vacina que vai no braço dos brasileiros vem da China”, lembrou o dirigente do Butantan, Dilmas Covas. Ele observou que foi provocado um mal-estar “por sucessivas declarações desastrosas do ministro da economia, Paulo Guedes, e agora do presidente da república, Jair Bolsonaro”.
“Espero que o ministro das relações exteriores cumpra seu papel e atue o mais breve possível e com êxito para que tenhamos a liberação desses insumos em Pequim para que o instituto Butantan possa retomar a produção da vacina aqui em São Paulo”, disse Dimas.
Produção pode ser inviabilizada
O diretor do Butantan alertou ainda que existe a possibilidade de faltar insumo para a produção da CoronaVac no Brasil. “E aí nós temos que debitar isso principalmente ao nosso governo federal que tem remado contra. Essa é a grande conclusão”.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil e principal país de origem dos insumos usados no envasamento de vacinas contra a covid-19 distribuídas aos brasileiros. Entre janeiro e abril, dentro do contexto dos ataques do governo Bolsonaro à China, diversas remessas de insumos com origem no país asiático que eram esperadas pela Fiocruz e pelo Butantan sofreram atrasos. Os chineses afirmaram que eram meros entraves burocráticos, mas os episódios levantaram questionamentos sobre eventuais retaliações por parte de Pequim à postura de Bolsonaro e seu círculo.
“Todas as declarações neste sentido têm repercussão. Nós já tivemos um grande problema no começo do ano e estamos enfrentando de novo esse problema”, afirmou nesta quinta-feira Dimas Covas.
“Embora a embaixada da China no Brasil venha dizendo que não há esse tipo de problema, a nossa sensação de quem está na ponta é que existe dificuldade, uma burocracia que está sendo mais lenta do que seria habitual e com autorizações muito reduzidas e volumes. Então obviamente essas declarações têm impacto e nós ficamos à mercê dessa situação”, completou.
O Butantan é responsável pelo envasamento no Brasil da Coronavac, vacina desenvolvida pela empresa biofarmacêutica chinesa Sinovac. Mais de 75% das vacinas distribuídas contra covid-19 no Brasil até o momento foram envasadas pelo Butantan em parceria com os chineses.
“É lamentável e inacreditável”
O governador paulista também criticou Bolsonaro pelos recentes ataques à China e fez críticas à falta de atuação na diplomacia do governo brasileiro em relação ao país asiático.
“É lamentável que depois de o ministro Paulo Guedes falar mal da China, da vacina, criticando o governo chinês, agora o presidente Jair Bolsonaro seguindo na mesma linha. É inacreditável que, diante de uma circunstância que precisamos salvar vidas e ter mais vacinas, tenhamos alguém criticando a China, o nosso grande fornecedor de insumos para a vacina”, afirmou Doria.
Ainda na quarta-feira, Bolsonaro fez outras declarações que contrariam o consenso científico em relação à pandemia. Ele chamou de “canalhas” aqueles que se opõem ao ineficaz “tratamento precoce” promovido pelo governo e diz que o uso de máscaras já “encheu o saco”. Ele ainda ameaçou usar as Forças Armadas contra governadores e prefeitos para impedir a imposição de medidas de isolamento. A série de declarações foi encarada por analistas como uma cortina de fumaça para desviar o foco da CPI da pandemia no Senado.
Na quarta-feira, a comissão ouviu o ex-ministro da Saúde Nelson Teich, que relatou que deixou a pasta por não ter contado com autonomia para realizar seu trabalho e por se recusar a ceder à pressão do Planalto para expandir o uso de remédios ineficazes. Na quinta (6) foi a vez do ministro da Saúde, Marcelo Quiroga, que procurou se esquivar das perguntas dos senadores e – para não ficar mal com o chefe – chegou a dizer que não opinião formada sobre a cloroquina e o chamado tratamento precoce.
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