Bolsonaro acabou de queimar a imagem do Brasil no mundo

October 2, 2018. Flight from Porto Velho to Rio Branco (Brazil) Aerial views of Amazon rainforest, fires and deforestation. A team from Greenpeace navigated 1065km by boat through the central Amazon, via the rivers Amazonas, Rio Preto do Pantaleão, Maués-Açu, Parauari, Paraná do Ramos and Urubu, to document landscaped and meet the communities and indigenous inhabitants that could be affected by a possible oil exploration and gas in the region in which land blocks will be auctioned by the Brazilian government starting in November. The Greenpeace team discovered that the communities and indigenous populations that should have been consulted about this potential exploration were not informed by the proper government agencies. Additionally, the team found sensitive forest areas that already suffer from their historic menaces of large cattle ranches, mining and logging. Photo by Daniel Beltra for Greenpeace

A imagem do Brasil no exterior já vinha sendo manchada desde o golpe de 2016 e, ainda com mais intensidade, após atitudes, declarações tresloucadas e políticas do governo de extrema direita. Agora, esta imagem, que anos atrás refletia o respeito e admiração de outros povos e nações por esses tristes trópicos, foi literalmente queimada pelo presidente Jair Bolsonaro.  

Na segunda-feira (29) chamas da floresta Amazônica contribuíram para escurecer a tarde de São Paulo e foram percebidas por muitos como um sinal de alarme e um pedido de socorro (um SOS da mata) contra a política abertamente antiambientalista do governo. Os sinais de agravamento do desmatamento e crimes na região Norte do país se multiplicaram ao longo dos últimos dias, mas foram menosprezadas, ao passo que a fiscalização, assim como medidas de prevenção e contenção das queimadas, foram substanciamente reduzidas.

SÃO PAULO, 19h18: Manifestantes lotam Avenida Paulista pela Amazônia — Foto: Beatriz Magalhães/G1
Manifestação convocada através das redes sociais ocupou as duas pistas da Avenida Paulista próximas ao MASP

Nesta sexta-feira (23) ocorreram manifestações espontâneas do povo, convocadas pelas redes sociais, em defesa da Amazônia e contra o governo Bolsonaro com expressiva participação popular no Distrito Federal, São Paulo (Avenida Paulista), Rio de Janeiro (Cinelândia), Salvador, Curitiba, Juazeiro do Norte (Ceará) e outras cidades brasileiros.

Em pronunciamento à noite, Bolsonaro, acuado, ensaiou um recuo, desdizendo tudo o que havia afirmado antes e jurando amores pela Amazônia, mas no momento em que discursava ecoou em bairros cariocas e paulistanos, assim como de diversas outras cidades brasileiras, como resposta, um ruidoso panelaço convocado à última hora por internatas.

Atos de protesto também foram registrado em dezenas de cidades de vários países.

Carona ao imperialismo

Conforme observou o ex-presidente Lula, Bolsonaro se comporta como um “chulo” e despertou uma forte onda de protestos internacionais, que hoje compreende não só movimentos populares, personalidades e forças progressistas, como também governos de potências capitalistas (incluindo EUA, que o presidente do PSL tanto reverencia) que gostam de pescar em águas turvas e buscam carona na crise para defender a globalização da Amazônia.

As palavras do presidente francês, Emmanuel Macron, um inimigo da classe trabalhadora francesa a cada dia mais impopular em seu país, foram eloquentes. “Nossa casa está queimando”, disse o engomadinho neoliberal, ecoando o instinto colonialista europeu. A nossa casa a que se refere (Amazônia) tem dono e não é tolerável que seja vista e tomada como a casa da Maria Joana. Pertence aos povos do Brasil, Bolívia, Venezuela e outros países sul-americanos, que têm ao mesmo tempo o direito e o dever de solucionar soberanamente seus problemas sem a ingerência de potências estrangeiras.

É ingenuidade imaginar que França, EUA e G7 estão preocupados apenas com as queimadas e a preservação do meio ambiente. Na verdade, essas potências têm ambições menos nobres em relação à inestimável riqueza da Amazônia em minerais e biodiversidade, ao lado de um histórico de intervenções e cultura imperialistas que não seria prudente ignorar.  

América do Sul

O comportamento condenável do governo e do presidente em relação à Amazônia, e muitos outros temas, também motivou protestos populares em dezenas de cidades pelo mundo nesta sexta (23) e reações de países vizinhos.

Os países da América do Sul que compartilham com o Brasil parte da Floresta Amazônica estão adotando medidas para tentar conter os incêndios que se espalham por seus territórios. As chamas estão ameaçando a mais importante floresta tropical do mundo e também outros biomas, como o Cerrado e o Pantanal.

Venezuela

O governo do presidente Nicolás Maduro da Venezuela manifestou nesta sexta-feira (23) preocupação com os incêndios na Amazônia, que vêm fazendo estragos tanto no Brasil quanto na Bolívia, e ofereceu ajuda aos demais países para conter o fogo.

“A Venezuela expressa a sua profunda preocupação com os gigantescos e terríveis incêndios que devastam a região da Amazônia em território de vários países da América do Sul, com gravíssimos impactos sobre a população, os ecossistemas e a diversidade biológica da área”, pronunciou-se o Ministério do Poder Popular para Relações Exteriores da Venezuela em comunicado. 

No texto, a Chancelaria venezuelana expressou solidariedade de maneira especial às comunidades indígenas e camponesas no Brasil, na Bolívia, no Paraguai, no Equador e no Peru, países que dividem a Amazônia com a Venezuela.

Além disso, pediu consciência aos atores econômicos e institucionais dessas nações.  “Considerando a irmandade sul-americana e como integrante da comunidade amazônica, a Venezuela oferece sua modesta ajuda que possa servir para suavizar esta dolorosa tragédia, com caráter imediato”, escreveu o Ministério, que pediu cuidado com a Amazônia.  “Nós, povos da América do Sul, estamos unidos por este prodígio natural que deve ser defendido, protegido e desenvolvido por seus próprios habitantes através de políticas que protejam sua fragilidade ambiental e seu valor como patrimônio natural da humanidade”, afirmou a Chancelaria no documento.

Colômbia

O governo colombiano também ofereceu ajuda ao Brasil nessa quinta-feira (22) para tentar conter o avanço das chamas em território brasileiro.

Equador

O governo do Equador colocou  à disposição um avião que transportaria três brigadas de especialistas em combate a incêndios florestais e em investigação ambiental. Como boa parte do território do Equador está coberto pela Floresta Amazônica, o país também enfrenta uma série de incêndios florestais nas últimas semanas.

Peru

As áreas de proteção ambiental do Peru também estão em estado de alerta. Em nota, o Ministério do Meio Ambiente do Peru afirma que, este ano, já foram registrados 16 incêndios florestais, sendo 14 em áreas naturais sob proteção. De acordo com o Ministério de Relações Exteriores peruano, o país permanece atento para cooperar com ações que possam diminuir os efeitos lamentáveis das chamas.

Bolívia

O governo boliviano contratou uma empresa privada norte-americana especializada em combates a grandes incêndios, dona do maior avião-cisterna em operação em todo o mundo. Há ameaça de chamas no Parque Nacional Otuquis, região próxima à Tríplice Fronteira formada por Bolívia, Brasil e Paraguai.

Com informações do 247 e O Sul

Compartilhar: