Avaliação de Bolsonaro é a pior entre presidentes no primeiro mandato

Publicado 08/07/2019
Para 33%, o presidente faz um trabalho ótimo ou bom. Para 31%, regular, e para outros 33%, ruim ou péssimo. Com variações mínimas, é o mesmo cenário que se desenhou três meses atrás, no mais recente levantamento do instituto.
A pesquisa atual foi feita em 4 e 5 de julho e ouviu 2.860 pessoas com mais de 16 anos, em 130 cidades. Ela tem uma margem de erro de dois pontos percentuais.
Com isso, Bolsonaro se mantém como o presidente em primeiro mandato com a pior avaliação a esta altura do governo desde Fernando Collor de Mello, em 1990.
Até o Collor esteve melhor
Aos seis meses na cadeira, Collor tinha uma aprovação igual à de Bolsonaro (34%), mas 20% de rejeição. Todos os outros presidentes em primeiro mandato desde então se deram melhor.
A cristalização dos números se dá num momento em que Bolsonaro promoveu mudanças na cozinha do Palácio do Planalto e reduziu o poder dos militares que integram sua gestão. De abril para cá, houve duas manifestações de rua convocadas por bolsonaristas em apoio ao governo.
Na mais recente, no domingo retrasado (30), a motivação central era a defesa do ministro da Justiça, Sergio Moro, acossado pelas revelações de conversas com procuradores da Lava Jato quando era juiz.
No Congresso, o presidente segue sem base de apoio fixa. Conseguiu, após concessões, ver o relatório de sua reforma da Previdência aprovado em comissão na Câmara, mais por esforço e determinação de parlamentes do Centrão do que do próprio governo, na semana passada, mas a tramitação ainda enfrentará obstáculos.
A estabilização de Bolsonaro sugere um piso de seu eleitorado. Menor do que aquele que o elegeu no segundo turno em 2018, mas semelhante à fatia usualmente associada aos apoiadores de seu maior rival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Pessimismo em alta
Na mão inversa, vem caindo a expectativa positiva em relação a seu governo.
De abril para cá, foi de 59% para 51% a fatia de entrevistados que preveem uma gestão ótima ou boa. A ideia de que será regular subiu de 16% para 21%, enquanto o pessimismo subiu de 23% para 24%.
Isso espelha a percepção das realizações do presidente. Para 61%, ele fez menos do que o esperado, enquanto 22% consideram o desempenho previsível. Já 12% avaliam que ele superou a expectativa. Há três meses, os dados eram semelhantes.
No período, piorou a imagem do desempenho de Bolsonaro como mandatário. Não é para menos. O líder da extrema direita prometeu recuperação econômica e combate ao desemprego. A economia vai de mal a pior. A desocupação e o subemprego batem recordes e constituem um flagelo para milhões de trabalhadores e trabalhadoras.
O percentual daqueles que creem que ele age como um presidente deveria se comportar caiu de 27% para 22%. Já os que acham que ele não tem tal comportamento oscilou de 23% para 25%. Acham que na maioria das vezes ele segue a liturgia do cargo 28% (27% em abril), e 21% (20% antes) o reprovam sempre.
Governo dos ricos
O perfil de quem aprova o presidente segue as linhas divisórias do eleitorado, já evidenciadas na disputa do ano passado. Ele é mais apoiado por brancos (42% o aprovam, ante 31% dos pardos e 25% dos negros, para ficar nos maiores grupos) e homens (38%, ante 29% de mulheres).
O presidente angaria maior aprovação entre os mais ricos, a quem serve com canina fidelidade, e os mais escolarizados, que também estão entre os mais ricos.
Como seria previsível, dado o apoio histórico à liderança de Lula na região, o Nordeste continua sendo um castelo oposicionista. Lá, Bolsonaro é ruim ou péssimo para 41%. Já o Sul segue sendo o bastião bolsonarista, com aprovação de 42% dos entrevistados.
Num corte partidário, um dado se sobressai como problema para um dos principais rivais potenciais de Bolsonaro em 2022, o governador paulista, João Doria (PSDB).
Entre os tucanos, apenas 17% acham o governo ruim ou péssimo, enquanto 35% o aprovam. No proverbial muro associado ao partido, a maioria dos simpáticos ao PSDB (48%) o acha regular.
Maioria triste
O Datafolha aferiu melhora entre os que se dizem animados, felizes e tranquilos com o país, em relação aos números apurados antes do segundo turno, em outubro.
Ainda assim, não é exatamente um cenário róseo. Todos esses grupos têm taxas pessimistas expressivamente maiores do que as otimistas: se dizem tristes com o país, por exemplo, 65%, ante 33% de quem se diz feliz.
E houve aumento entre os que afirmam ter medo do futuro (58%, ante 53% em outubro), e estabilidade entre os que têm mais medo do que esperança no país (de 51% antes para 53% agora).
Nesses itens as mulheres são muito mais pessimistas do que os homens. Nada menos do que 71% delas se dizem desanimadas com o Brasil; entre eles, são 55%.
Ao elencar de forma espontânea os problemas que estão a alcance do Executivo, em relação ao que era registrado em dezembro, antes da posse de Bolsonaro, houve uma queda expressiva na preocupação com a corrupção.
No levantamento anterior, 20% diziam que o tema era prioritário. Agora são 7%. Já quem mais subiu no ranking foi a educação, passando de 10% para 15%. A lista é seguida pelos assuntos segurança (19%) e saúde (18%).
O desemprego (14%) e a economia (8%) são os outros pontos de destaque na lista.
Fonte: Folha de São Paulo