A mulher continua sendo “o negro do mundo”

Publicado 04/12/2013
Quando John Lennon disse que “a mulher é o negro do mundo” nos anos 1970, queria chamar a atenção para o dilema que as mulheres enfrentavam contra um machismo exacerbado predominante na maior parte do planeta. Dados de pesquisas divulgadas em pleno século 21 ainda confirmam a frase do ex-beatle.
A luta pela igualdade de gênero e pelo combate à violência trouxe à tona os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher, que começou no dia 25 (Dia pelo Fim da Violência Contra a Mulher) e vai até a terça-feira (10), Dia dos Direitos Humanos. O grande número de agressões ocorridas no país motivou o governo federal a lançar em março, o Programa Mulher, Viver sem Violência, que já tem a adesão de 20 estados brasileiros com meta de atingir a todos os entes federativos até o ano que vem.
O Data Popular em parceria com o Instituto Avon vem pesquisando o tema desde 2009 e na sexta-feira (29) divulgou a mais recente pesquisa Percepções dos Homens sobre a Violência Doméstica contra a Mulher. O estudo revelou que 56% dos homens já foram violentos com suas parceiras de alguma forma. Para fazer a pesquisa foram entrevistados 995 homens e 505 mulheres a partir de 16 anos em 50 municípios das cinco regiões do país.
Em princípio 16% dos entrevistados admitem já ter agredido fisicamente na companheira, mas ao serem apresentados outros itens como xingamentos, empurrões, ameaças verbais, atirou algum objeto em cima dela, impediu de sair de casa, humilhou ou até mesmo obrigou a fazer sexo, entre outros ataques é que se atinge os 56% de homens violentos.
Segundo o estudo 53% dos homens atribuem à mulher a responsabilidade pelo sucesso do casamento. Para 89% a mulher é obrigada a manter a casa em ordem, 85% acham inaceitável a mulher ficar alcoolizada e 69% não concordam que ela saia com amigos sem sua companhia. Pior ainda, 46% consideram inaceitável o uso de roupas justas e decotadas.
Mais grave ainda foi a constatação de que 29% dos entrevistados acreditam que o homem só bate porque a mulher provoca e 23% batem porque só assim a mulher “cala a boca”, além de que 12% acha que têm razão em bater na mulher caso ela os traia.
De acordo com o estudo o ambiente na infância pode ser o fator influente no comportamento do homem adulto, sendo que 67% dos agressores presenciaram discussões dos pais quando crianças, enquanto entre os não agressores esse número cai para 47%. Entre os agressores 21% viram violência física e entre os não agressores esse índice cai para 9%.
Quando questionados sobre a Lei Maria da Penha 92% dos homens se disseram favoráveis, mas 35% afirmaram que a desconhecem parcial ou totalmente. A maioria dos homens não entende que a lei atua para diminuir a desigualdade de gênero. Para 37% as mulheres desrespeitam mais os homens por causa da lei e 81% defendem que os homens também deveriam ser protegidos pela lei.
O presidente da Avon, David Legher explica que “no Brasil a cada quatro minutos uma mulher é vítima de violência doméstica e a cada minuto uma morre em função disso. Temos que erradicar esse comportamento da sociedade. A pesquisa mostra que a mulher acha normal que isto aconteça. O primeiro passo é a mulher acordar desta situação. Tem que perceber e contar esta história para alguém”.
Marcos Aurélio Ruy – Portal CTB