A construção da unidade dos trabalhadores em educação da América Latina e do Caribe

“Continuamos nos reunindo para sonhar com o mundo que merecemos.” (Fernando González, presidente do Instituto Cubano de Amizade com os Povos)

Por Maria Clotilde Lemos Petta*

A construção da unidade dos trabalhadores em educação da América Latina e do Caribe em torno de uma plataforma anti-imperialista, antineoliberal e pela democracia exige maior avanço da articulação entre as organizações sindicais dos trabalhadores em educação dos vários países face às novas estratégias de atuação do capital no continente. Nessa perspectiva, uma delegação com dirigentes da Confederação dos Educadores Americanos (CEA), à qual a Contee é filiada, representado vários países, participou do Encontro Anti-imperialista de Solidariedade, pela Democracia e contra o Neoliberalismo, realizado no ultimo fim de semana (de 1° a 3 de novembro), em Havana, Cuba.

Esse encontro teve a participação de cerca de 1.500 representantes de partidos políticos, movimento sindical e movimentos populares de 80 países, com o objetivo de rearticular estratégias para enfrentar as forças imperialistas e neoliberais.

Na abertura do evento, no plenário do Palácio das Convenções, a exposição do chanceler de Cuba, Bruno Rodrigues Parrila, sintetizou a avaliação e sentimento que perpassou os painéis, debates e atividades culturais do encontro: “Vivemos em tempos difíceis e enfrentar os EUA será determinante”. O chanceler considerou que “o governo de Donald Trump é a principal ameaça à paz e segurança internacionais”. E assegurou: “Nosso povo resiste heroicamente e resistirá até as últimas consequências”. Nas várias falas da abertura foi ressaltada a necessidade de manifestações de apoio de todos os governos e da comunidade internacional à resolução que Cuba apresentará perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 6 e 7 de novembro, denunciando o bloqueio criminal e ilegal imposto pelo governo dos Estados Unidos.

Entre as seis comissões temáticas de debate de temas relevantes para o cenário latino-americano, o tema “guerra cultural” foi destaque. O intelectual cubano Abel Preto chamou atenção para o fenômeno que chamou de “gestação do pobre de direita”. “Uma criatura que vota contra si mesma, contra sua família, contra o destino dos seus filhos. Na hora de definir-se politicamente, define-se por seus opressores”, afirmou. Nessa perspectiva, foi ressaltada importância da resistência nas áreas da comunicação e da educação, para o enfrentamento da estratégia do imperialismo que, através desses setores, busca sua maior influência cultural e política no continente.

Ponto alto e emocionante do encontro foi a leitura da mensagem enviada por Luiz Inácio Lula da Silva e o ato do recebimento no sábado (2), pela deputada federal e presidente do PT, Gleise Hoffmann, do abaixo assinado com mais de dois milhões de assinaturas de cubanos e cubanas a favor da liberdade do ex-presidente Lula. Gleise, em sua fala de agradecimento, destacou o fato de Cuba, em apenas 14 dias, ter conseguido esse número significativo de assinaturas. Sua fala foi seguida pelos aplausos de toda a plenária, que gritava “LULA LIVRE”.

No encerramento, a surpresa foi a chegada ao encontro do presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, que reiterou seu apoio ao presidente Evo Morales ante as denúncias de fraude nas eleições da Bolívia e condenou a decisão do mandatário Nayib Bukele de expulsar ao corpo diplomático venezuelano em El Salvador.

O documento final “Declaração de solidariedade a Cuba” exige que os Estados Unidos suspendam o embargo financeiro e devolvam o território que ocupam na base de Guantánamo. O texto também repudia “as agressões crescentes do governo dos Estados Unidos e seus aliados contra o programa de colaboração médica cubana” e pede “o encerramento dos programas de subversão e de desestabilização contra Cuba e o apoio ao direito de livre autodeterminação deste país”.

Por fim, o encontro, com a aprovação de um plano de defesa dos povos face ao ataque da política imperialista dos Estados Unidos e da direita internacional, dá uma contribuição importante na articulação, no continente, de uma ampla frente de luta e de resistência dos movimentos e organizações sociais. As organizações dos trabalhadores em educação têm uma responsabilidade histórica de serem protagonistas nessa frente, na medida em que atuam diretamente em um dos setores estratégicos na luta anti-imperialista, pela democracia e contra o neoliberalismo.

*Maria Clotilde Lemos Petta é coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais da Contee, diretora do Sinpro Campinas e Região e vice-presidente da CEA