Pesquisa revela que 17 milhões de mulheres foram agredidas nos últimos 12 meses no Brasil

Por Marcos Aurélio Ruy

O levantamento feito pelo Datafolha para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública – Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil – denuncia o crescimento da já grande violência que acomete as mulheres no quinto país com maior violência de gênero no mundo.

De acordo com a pesquisa, 17 milhões, 1 em cada 4 mulheres, acima de 16 anos, disseram ter sofrido algum tipo de violência nos últimos 12 meses. Essas meninas e mulheres relataram terem sido agredidas durante a pandemia.

“Os números reforçam o discurso do movimento feminista e da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) sobre a necessidade da retomada com avanços das políticas públicas de combate à violência de gênero no país”, diz Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB.

Veja a pesquisa completa aqui.

Celina alega também a importância de um trabalho envolvendo toda a sociedade para uma importante discussão das questões de gênero, “em defesa da cultura da paz, do respeito ao diferente e da vida”. Para ela, esse trabalho “começa pela escola, como local de um amplo e destemido debate que leve conhecimento e a importância de respeitar a dignidade e a vontade das mulheres”.

A pesquisa mostra ainda que 8 mulheres são agredidas por minuto no Brasil. Assim, 25,4% denunciaram terem sido agredidas pelo companheiro ou namorado, 18,1% pelo ex-companheiro ou ex-namorado e 11,2% relataram agressão do pai ou da mãe.

As meninas e mulheres de 16 a 24 anos são as maiores vítimas com 35,2% das ocorrências e as de 25 a 34 anos representam 28,6% das vítimas. As mulheres negras são maioria com 28,3% das violações dos direitos de uma vida baseada nos direitos humanos.

“A situação de vida das mulheres e meninas já vinha se deteriorando desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016”, argumenta Kátia Branco, secretária da Mulher da CTB-RJ, mas “com as políticas do atual governo contra o debate das questões de gênero, a violência vem crescendo e a pandemia só agravou mais a situação”.

Celina denuncia a atrocidade contra Manuela D’Ávila e a sua filha, de apenas 5 anos, vítimas do ódio após a divulgação de uma foto em que ela estava com a criança aguardando a entrada na sua escola.

“A reação de todas as pessoas que acreditam na civilização e numa sociedade baseada no respeito e na dignidade foi imediata”, diz Celina. Por isso, ela pede para todo mundo assinar uma petição em apoio à Manuela, exigindo rápida apuração dos fatos e punição dos criminosos.

Assine para exigir justiça à Manuela e sua filha aqui.

A pandemia revelou que nem dentro de casa, as mulheres estão seguras. Quase a metade, 48,8% sofreram violência dentro de casa, 31,9% assediadas com comentários maldosos nas ruas, 12,8% no ambiente de trabalho e 7,9% no transporte público, mostra a pesquisa.

Apesar disso, somente 12% recorreram a uma Delegacia da Mulher. Sendo que 32,8% disseram ter resolvido sozinhas. “Isso revela a pouca confiança que as mulheres estão tendo em relação às instituições com as dificuldades criadas pelo atual governo, principalmente na pandemia”, reforça Heloisa Gonçalves de Santana, secretária da Mulher da CTB-SP.

Acompanhe o infográfico da pesquisa

Mais de 25% das pesquisadas acreditam que a autonomia financeira é essencial para a melhoria de vida das mulheres. E, durante a pandemia, 61,8% relataram ter a renda familiar diminuída e 46,7% disseram ter ficado desempregadas.

“As mulheres trabalhadoras lutam há décadas pela autonomia financeira e pela igualdade de salários em funções iguais”, relata Celina. “Até porque as agressões não se restringem à violência física”, acentua.

“Parece repetitivo, mas persistiremos até o dia em que nenhuma mulher tiver medo de andar sozinha na rua ou, pior ainda, medo de denunciar o agressor, seja quem for”.