Mulheres negras querem viver e amar como todas as pessoas do planeta

Por Marcos Aurélio Ruy

Nesta terça-feira (10) – Dia Internacional dos Direitos Humanos – termina a campanha mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher. Muito importante destacar a situação que vivem as mulheres negras, 25% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Desde o período colonial, as mulheres negras carregam a nossa nação nos ombros e, apesar disso, em pleno século 21, sofrem mais que as outras com o assédio, seja no trabalho, na rua, em todos os lugares”, afirma Mônica Custódio, secretária de Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). “Mesmo assim elas ficam de pé para serem respeitadas como se deve e terem direito à vida como todas as pessoas devem ter.”

Os dados são aterradores. O Mapa da Violência 2015, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), mostra que houve um crescimento de 54,2% de assassinatos de mulheres negras entre 2003 e 2013, enquanto o de mulheres brancas caiu 9,8%.

“É a face mais cruel do racismo estrutural do país, que foi o último do Ocidente a abolir a escravidão”, reforça Mônica. A pesquisa Desigualdades Sociais por Cor ou Raça, do IBGE, mostra que em 2018, as mulheres negras ganharam 44,4% do que receberam os homens brancos. Além disso, a população negra tinha somente 29,9% dos cargos de gerência, as mulheres bem menos.

Já um estudo do Instituto Locomotiva apresenta dados significativos. Os dados mostram que 8,3 milhões de mulheres ingressaram no mercado de trabalho, nos últimos 20 anos e que 29 milhões de lares são chefiados por mulheres no país. Porém, apenas 47% das mulheres brasileiras possuem conta bancária e somente 31% se dizem seguras financeiramente.

O racismo do mercado de trabalho é transparente, De acordo com o Locomotiva, em 2018, o rendimento médio mensal das pessoas ocupadas brancas foi 73,9% superior ao das pretas ou pardas.

Ainda de acordo com o IBGE, 39,8% de mulheres negras compõem o grupo submetido a condições precárias de trabalho, enquanto os homens negros abrangem 31,6%, as mulheres brancas representam 26,9% e homens brancos, 20,6%.

Além de enfrentarem todas essas adversidades, assegura Mônica, as mulheres negras são as maiores vítimas de assédio moral e sexual. Isso num país que tem cerca de 50 mil estupros registrados por ano.

“As negras moram mais longe, têm os trabalhos em piores situação e vivem na total insegurança”, afirma a sindicalista carioca. E ainda, “sofrem com as constantes mortes de seus filhos, pelo simples fato de serem pobres e estarem nas ruas”.

“O assédio é mais uma forma de tentativa de desumanização das mulheres negras. Servem para o sexo, mas insuficientes para casar”. Prevalece a mentalidade escravocrata, quando os senhores estupravam as escravas.


No século 21, “criam formas de fortalecer a solidão da mulher negra (emocional, social, cultural e histórica) para facilitar o argumento da desestruturação familiar e assim justificar a ação do Estado no controle social, diga-se genocídio da juventude negra”.

Mesmo com tudo isso, “resistimos e lutamos para construir o novo. Uma sociedade sem discriminações, sem racismo, sem sexismo. Uma sociedade onde todas as pessoas, indistintamente, possam viver e amar como qualquer ser humano deve viver e amar”, conclui Mônica.