Muitos motivos para lutar e poucos para comemorar neste 8 de Março

O Dieese divulgou nesta terça-feira (7) dois trabalhos elaborados em homenagem ao 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, sugerindo já na introdução dos documentos que há muitos motivos para protesto e lutas, mas não se registram “avanços para serem comemorados”.

O primeiro trabalho aborda “as dificuldades das mulheres chefes de família no mercado de trabalho”. Embora constituam a maioria da população, as mulheres estão sub-representadas nos espaços políticos e de poder, “e, por essa razão, é muito difícil colocar no debate legislativo as questões femininas”, constata o estudo.

Nas eleições de 2022, mesmo com o aumento das candidaturas femininas – 33,3% de registros a mais nas esferas federal, estadual e distrital, segundo a Agência Senado -, apenas 302 mulheres, no total, conseguiram se eleger para a Câmara dos Deputados, o Senado, Assembleias Legislativas e governos estaduais, enquanto o número de homens eleitos chegou a 1.3941.
A baixa participação das mulheres na política e nos espaços de liderança inviabiliza as
pautas temáticas sobre gênero, dificultando mudanças. É necessário criar condições
objetivas de participação feminina em todos os espaços de atuação, que levem em
conta horários e a vida familiar, a maternidade, sem que as mulheres sejam
obrigadas a escolher entre carreira, política ou família.

Quando se fala em violência, conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher foi assassinada a cada 6 horas apenas no primeiro semestre de 2022. No total desse período, 699 mulheres foram mortas em situações de violência doméstica ou devido a questões que envolvem desdém ou discriminação à condição de mulher, crime classificado como feminicídio, em geral decorrente da misoginia.

Machismo e racismo no mercado de trabalho

Do total da força de trabalho no Brasil, 44,0% eram mulheres, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), para o 3º trimestre de 2022. Elas, no entanto, eram também a maioria entre os desempregados (55,5%). O resultado aparece na taxa de desocupação: 11,0% para as mulheres e 6,9% para os homens, no mesmo período de análise.

Do total de pessoas fora da força de trabalho, 64,5% eram mulheres. Desse percentual, 5,7% delas estavam em situação de desalento, circunstância em que as pessoas querem trabalhar e estão disponíveis para o trabalho, mas não procuram colocação por acreditarem que não vão encontrar uma vaga ou ainda por não terem experiência ou serem muito jovens.

Do total de desalentados, 55,5% eram mulheres. Do total de mulheres ocupadas, a proporção de subocupadas, ou seja, que trabalharam menos de 40 horas, mas gostariam de trabalhar mais, foi superior à dos homens: 7,8% delas estavam nessa condição, enquanto entre os homens, o percentual ficou em 5,1%. Quando se analisa essa informação por cor/raça, nota-se que, entre as negras, a situação é pior: o percentual de trabalhadoras negras subocupadas foi 9,3% maior do que o registrado entre as não negras, que ficou em 6,1%.

Maiores desalento, desocupação e subocupação fizeram com que a taxa de pessoas com 14 anos ou mais, subutilização entre as mulheres fosse de 25,3%, enquanto para os homens, estava na casa de 15,9%. Entre as negras, a taxa ficou em 30,2% e, entre as não negras, em 19,2%.

Em termos de rendimentos, as mulheres ganharam, em média, 21% a menos do que os homens – o equivalente a R$ 2.305 para elas e a R$ 2.909 para eles. Por setor de atividades, mesmo quando as mulheres eram a maioria, elas recebiam menos, em média.

Nos serviços domésticos, as trabalhadoras representavam cerca de 91% dos ocupados e o salário foi 20% menor do que o dos homens. No grupamento educação, saúde e serviços sociais, elas totalizaram 75% dos ocupados e tinham rendimentos médios 32% menores do que os recebidos pelos homens.

As diferenças de inserção, de ocupação e de rendimentos se refletem também na família e acabam determinando o nível de bem-estar familiar, a forma como se dá a inserção de cada membro e a possibilidade de acesso a bens e serviços básicos. As estatísticas mostram um mercado de trabalho dominado pela misoginia e o racismo, com o patronato tirando proveito da discriminação de gênero e de raça para aumentar o grau de exploração da classe trabalhadora.

O estudo traz muitos outros detalhes sobre a precária inserção das mulheres na economia. Veja a íntegra. O Dieese também adicionou um elucidativo infográfico sobre a inserção das mulheres no mercado de trabalho, onde as negras, maioria, sofrem a dupla discriminação de gênero e de raça.