Por Ísis Tavares*
Hoje, 9 de setembro, li a notícia do suicídio de um professor de Educação Física, readaptado por problemas de saúde na Escola Municipal Maria Florinda Paiva da Cruz, no bairro de Jacarepaguá e manifesto minha solidariedade à família e amigos/as.
Não foi notícia Nacional, como no caso das agressões a professores/as ou entre estudantes. Por quê?
Agressões nas escolas são manchetes que reforçam o discurso de Bolsonaro e sua base de apoio, sobre a “falta de disciplina” nas escolas e dos/as professores/as como pessoas que não têm capacidade para “transmitir valores cristãos e da família tradicional brasileira”. Um discurso que visa desqualificar a educação, a escola pública e seus/profissionais para introduzir a militarização e assim abrir as portas para a mercantilização da educação pública.
Um discurso que visa reforçar o criminoso corte de verbas para a educação que precisa de mais investimentos para recuperar a escola pública como lugar de identidade dos estudantes, professores/as, funcionários/as e da comunidade como um todo e promover mais oportunidades para os/as filhos dos/as trabalhadores/as.
As agressões precisam ser tratadas com seriedade através de ações imediatas que visem proteger a comunidade escolar e prevenir através de intervenção técnica educativa, a perpetuação do ambiente hostil e agressivo entre estudantes, gestores/as, professores/as e funcionários/as, fazendo da escola um local de acolhimento e convivência fraterna através da cultura da paz.
O sofrimento psíquico (além de todas as doenças relacionadas à profissão do magistério) que pode levar ao suicídio de um professor ou de uma professora é relevante para esse governo e para quem compactuar com seu projeto de destruição do patrimônio público?
Pra esse governo, um professor que enfrenta sozinho um sofrimento psíquico, muitas vezes rotulado e tratado como “preguiçoso”, “enrrolão” e que sofre todo tipo de constrangimento no local de trabalho até tirar sua própria vida tem alguma relevância?
Profissão de professor/a, profissão de alta relevância social e que já teve um elevado status na sociedade, hoje vive um processo de desqualificação, criminalização e pauperização e que são constantemente apresentados para a sociedade como culpados/as pelos problemas do ensino-aprendizagem e nas escolas, oriundos da falta de políticas consequentes e mais investimentos em educação. Jogam a população contra a escola pública e seus/suas profissionais. Esta é a política de valorização do governo Bolsonaro e dos governos de sua base como o governo Wiesel e Crivella no RJ e de Wilson Lima no Amazonas.
A maioria dos/as trabalhadores em educação acumulam até 3 jornadas de trabalho, para manter minimamente uma vida digna. O que é agravado se for mulher devido à jornada de trabalho domésticos que sempre é acumulada com os trabalhos da escola que leva para casa sem que seja remunerada por isso.
Um grande número de trabalhadores/as em educação reincidentemente se endivida com empréstimos nos bancos que enriquecem com os juros pago pela maior categoria profissional do país.
Foi publicada reportagem do dia 19 de agosto deste ano, 4 depois do suicídio do professor Gilberto Gil do Rio de Janeiro, pelo jornal A Crítica, dados que alertam para a saúde laboral dos/as professores/as amazonenses demonstrando o aumento do número de professores/as com depressão no Amazonas:
De janeiro a junho deste ano, mais de 600 profissionais da rede pública de ensino se afastaram das salas de aulas.
“De janeiro a junho, 373 dos mais de 12 mil professores da rede municipal de ensino (3%) foram afastados por transtornos mentais e comportamentais. Já na rede estadual mais de 250 professores já foram encaminhados para atendimento especializado desde 2018.”
*Professora, presidenta da CTB/AM