Demissão de Moro deixa Jair Bolsonaro ainda mais isolado e desmoralizado no Palácio do Planalto

A saída de Sergio Moro do governo, consumada na manhã desta sexta-feira (24), deixa o presidente Jair Bolsonaro ainda mais isolado no Palácio do Planalto e retira de cena a principal bandeira que lhe viabilizou a eleição em 2018.

A bandeira da luta contra a corrupção, que ao longo da nossa história tem sido manipulada pela direita para ludibriar a população e abrir caminho à imposição de sua agenda reacionária. Serviu instrumento contra Getúlio Vargas (1954), João Goulart (1964) e Dilma Rousseff (2016).


Moro carregava e agitava a bandeira, bem como a marca, a mística e a popularidade que ela propicia no Brasil, malgrado, no caso, o legado desastroso da Lava Jato para a economia e a política brasileira.


O ex-juiz deixou o Ministério da Justiça atirando e iluminando com seus disparos o fato (já deduzido pelos críticos) de que Bolsonaro demitiu o comandante da PF, Maurício Valeixo, com o propósito de impedir a investigação de delitos praticados pelo Clã e acobertar a corrupção dos filhos.

Num pronunciamento explosivo, Sergio Moro afirmou que Bolsonaro queria ter acesso a relatórios sigilosos da Polícia Federal, provavelmente relativas a investigações envolvendo os filhos Flávio, Eduardo e Carluxo. Queria ter um chegado seu no comando da instituição.

Para o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), se isto for verdade, o chefe do Executivo teria praticado “crime comum” e  “o procurador-geral da República [Augusto Aras] deve atuar em caso de crime comum”, apresentando uma denúncia que pode resultar na cassação das funções do presidente.

É preciso ressalvar que Aras foi uma escolha de Bolsonaro para a PGR, a quem tem procurado preservar. Mas a situação do presidente está se deteriorando claramente. O ex-presidente FHC chegou ao ponto de pedir a renúncia do presidente para evitar um desgastante processo de impeachment.

A cada dia mais sozinho e acuado, abandonado no espaço de poucos dias pelos dois ministros mais populares do governo, o líder da extrema direita tenta contornar o crescente isolamento abraçando o rebotalho da política nacional, liderado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, delator do Mensalão condenado que também foi condenado pelo STF e ainda é considerado um dos líderes do chamado baixo clero do Parlamento.

É com ele, e outros políticos da mesma laia, que Jair Bolsonaro vai morrer abraçado. As panelas vão cantar pelas janelas nesta sexta-feira.

FORA BOLSONARO

Umberto Martins