Destempero de Bolsonaro aumenta enquanto Lula diz que falta um “tiquinho” para vitória no 1º turno

“Estamos disputando com adversários que resolveram tentar nos atacar tanto quanto o nosso mais importante opositor”, afirmou o líder petista

A agressividade do presidente Jair Bolsonaro ganhou novo impulso nos últimos dias. Sábado (3) o chefe da extrema direita brasileira chamou o ministro Alexandre Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de “vagabundo” por ter autorizado uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal contra oito bilionários golpistas.

Nesta terça (6), o mandatário foi para cima de uma jornalista da Jovem Pan, que lhe questionou sobre o caso da “rachadinha” no gabinete de um seus filhos e o fato de ter mantido uma funcionária fantasma quando era deputado federal.

Também investiu contra a reportagem do UOL que apontou que, desde 1990, ele, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, 51 dos quais adquiridos total ou parcialmente com dinheiro vivo. “Covardia que fazem com familiares meus”, queixou-se.  

Perguntas incômodas

A jornalista Amanda Klein fez uma pergunta sobre suspeitas que pairam contra a família presidencial, como o caso da “rachadinha” e a compra de imóveis por seus parentes em dinheiro vivo.

No questionamento, ela também citou compras de imóveis de Flávio Bolsonaro (uma luxuosa mansão em Brasília no valor de R$ 6 milhões), o pedido de investigação da Polícia Federal sobre compra de imóvel por uma ex-mulher do mandatário e o fato de ter mantido funcionária fantasma em seu gabinete quando era deputado.

Além disso, ela esclareceu que o voto impresso foi rejeitado pelo Congresso, não pelo Judiciário (ao contrário do que sugere o presidente), e que o delegado do inquérito sobre invasão hacker ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) já afirmou que não há indícios de que o resultado de alguma eleição tenha sido fraudada.

Em resposta, Bolsonaro apelou para o machismo. “Amanda, você é casada com uma pessoa que vota em mim. Eu não sei como está teu convívio na tua casa com ele. Mas não tenho nada a ver com isso”, disse.

Acuado com perguntas incômodas Jair Bolsonaro não julga necessário esclarecer ou justificar os malfeitos. Responde atacando como um vilão encurralado e prepara o espírito da tropa neofascista para manifestações golpistas nesta quarta-feira, 7 de setembro.

Desespero em alta

O desespero crescente do presidente tem tudo a ver com as pesquisas eleitorais, que desenham reiteradamente um cenário de vitória definitiva de Lula já no primeiro turno das eleições, em 2 de outubro.

A nova pesquisa Ipec (antigo Ibope), realizada nos dias 2 a 4 de setembro e divulgada na noite de segunda-feira (5), indica que o ex-presidente Lula segue com 44% das intenções de voto no primeiro turno da eleição presidencial contra 31% de Jair Bolsonaro, que caiu um ponto percentual em relação ao levantamento anterior.

Ciro Gomes marca 8% e Simone Tebet, 4%, o que reafirma a inviabilidade prática da chamada Terceira Via e a persistência da polarização política, que de resto não é um fenômeno restrito ao Brasil.

Se o quadro sugerido pela pesquisa se confirmar nas urnas o ex-presidente Lula terá 50% dos votos válidos e, dentro da margem de erro, mantém a possibilidade de ser eleito para um novo mandato já no primeiro turno.

A pesquisa também indica uma cristalização das intenções de voto, que têm oscilado muito pouco ao longo dos últimos meses, mostrando uma persistente liderança do líder petista. Segundo o Ipec 79% dos eleitores estão decididos sobre o voto para presidente em 2022, ou seja, asseguram que não vão migrar para outra candidatura.

Não precisamos fazer jogo rasteiro

A conduta do ex-presidente Lula (PT) é bem diferente. Em conversa com jornalistas ele reafirmou sua expectativa por uma vitória já no primeiro turno e destacou que está sofrendo ataques não só de seu principal adversário, Jair Bolsonaro (PL), mas também de outros candidatos.

Lula afirmou não querer descer o nível da campanha. “De todas as eleições que eu já participei, essa parecia ser a mais difícil, porque nós estamos disputando contra alguém que não conhece nenhuma prática democrática. Estamos disputando as eleições com alguém que trabalha na base da fake news todo santo dia. E nós estamos também disputando com os adversários que resolveram tentar nos atacar tanto quanto o nosso mais importante opositor. O dado concreto é que a gente não tem que ficar retrucando e a gente não tem que ficar aceitando o nível baixo de campanha. Nós não precisamos fazer jogo rasteiro. Temos que tentar discutir os assuntos que interessam ao povo brasileiro. O povo quer resolver o problema da sua dívida, do seu desemprego, de acabar com a economia informal e o povo quer voltar a sorrir e a comer nesse país”, destacou o líder oposicionista.

Ilustração: Renato Aroeira