Demorou pouco tempo para que o diretor da Petrobrás, Carlos Travassos, recebesse um contra vapor à sua ideia de não aumentar o conteúdo local em obras da Petrobras. Nesta tarde, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) contestou as recentes declarações do diretor-executivo de Engenharia, Tecnologia e Inovação da estatal. Travassos se opõe à nova política do governo Lula e é contra o aumento no índice de conteúdo local na construção de plataformas no país. Durante sua passagem pela OTC, em Houston, o diretor da Petrobras defendeu que os estaleiros nacionais se concentrem apenas na construção de módulos e disse que o Brasil não estaria preparado no momento para construir plataformas inteiras.
“Com esta visão apequenada, Travassos está, no mínimo, mal informado. Conteúdo nacional é questão de política de governo. Não cabe a um diretor da Petrobrás se pronunciar oficialmente sobre o assunto, sobre o qual deve receber ordens e cumpri-las”, ressalta o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar (foto).
Bacelar destacou que, apesar do desmonte da indústria naval brasileira promovido nos últimos seis anos, a estrutura básica para a retomada de elevado conteúdo nacional não foi destruída e, mais importante, está mantida a competência técnica da engenharia, da universidade, das empresas brasileiras e dos trabalhadores. “Como o diretor da Petrobrás imagina que a capacitação tecnológica dos estaleiros estrangeiros foi conseguida, se não com políticas públicas de Estado para sustentar seus projetos desenvolvimentistas nacionais?”, indaga o sindicalista.
Na opinião do dirigente da FUP, a nova gestão da Petrobrás deveria suspender os editais de contratação de plataformas no exterior e destinar a construção para o Brasil. “A Petrobrás pode, a qualquer momento que quiser, criar requisitos de conteúdo local”, afirma.
A retomada da política de conteúdo local faz parte das propostas da FUP, apresentadas por Bacelar, no grupo de trabalho (GT) de Minas e Energia, do governo de transição. Faz parte também das sugestões levadas ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (CDESS), da presidência da República, do qual Bacelar é membro.
Segundo ele, não é verdade que a indústria nacional não conseguiria atender índices de conteúdo local em plataformas nos campos de Albacora, SEAP e Sépia e Atapu, como disse Travassos.
Carlos Travassos
“O que exclui as empresas brasileiras é o modelo de contratação da Petrobras, com contratos únicos, com fluxo de caixa negativo. A indústria nacional está tentando trabalhar na construção de módulos no Brasil. Mas só os estaleiros ligados à Keppel, na Ásia, têm recebido encomendas da matriz, e esta empresa não se dispõe a contratar concorrentes. Se a Petrobrás contratasse os módulos separadamente, eles poderiam ser construídos em estaleiros no país”, assegura o coordenador da FUP.
Bacelar lembra que representantes da FUP, em reunião com o vice-presidente da República e ministro Geraldo Alckmin, propuseram a criação de um grupo de trabalho interministerial e com a sociedade civil para debater uma nova e ampla política de conteúdo local.
Fonte e fotos: FUP