CEOs têm aumento de 9% enquanto salário de trabalhadores sofrem queda de 3,19%

Desigualdade e concentração de renda avançam em meio à crise no mundo e, ainda mais, no Brasil

Os CEOs mais bem pagos em quatro países tiveram um aumento de 9% em seus salários em 2022, enquanto os salários de trabalhadoras e trabalhadores tiveram uma queda de 3,19% no mesmo período, conforme revela recente análise da Oxfam.

No Brasil, os salários de trabalhadoras e trabalhadores caiu 6,9% em média no ano passado, enquanto acionistas e CEOs de empresas receberam US$ 33,8 bilhões no período, um aumento de 23,8% em lucros e dividendos em relação a 2021 (US$ 27,3 bilhões).

Os números, ajustados pela inflação, são baseados em dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e agências governamentais de estatísticas.

Um bilhão de trabalhadoras e trabalhadores de 50 países tiveram um corte médio de US$ 685 em seus salários em 2022, uma perda coletiva de US$ 746 bilhões em salários reais (caso os salários tivessem sido reajustados pela inflação).

Mulheres e meninas trabalham pelo menos 380 bilhões de horas a cada mês em atividades de cuidado não remuneradas. Trabalhadoras frequentemente têm que trabalhar menos tempo ou abandonar seus empregos devido a essas atividades de cuidado não remuneradas. Elas também enfrentam discriminação, assédio e salários menores do que os recebidos pelos homens.

“Enquanto os executivos de grandes empresas lucram com aumentos de seus salários e dividendos de ações, a grande parte da população, que é trabalhadora assalariada, tem seus salários reduzidos e mal conseguem acompanhar o custo de vida em seus países. Anos de austeridade e ataques aos sindicatos aumentaram o fosso entre os mais ricos e o resto de nós. Essa desigualdade é inaceitável e, infelizmente, nada surpreendente”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

“O único aumento que a classe trabalhadora viu em 2022 foi o do trabalho de cuidados não remunerado, que recai majoritariamente sobre as mulheres.”

Trabalhadores perdem, empresários ganham

Enquanto a classe trabalhadora vê seu salário sendo reduzido ano após ano (mais de 10% na Suécia, 6,9% no Brasil, 3,2% nos Estados Unidos e no Reino Unido), os grandes executivos estão cada vez mais ricos:

150 dos principais executivos da Índia receberam em média US$ 1 milhão em 2022, um aumento real de 2% em relação a 2021. Um empresário indiano recebe em quatro horas mais do que o trabalhador indiano médio recebe em todo o ano.

100 dos principais CEOs dos Estados Unidos receberam US$ 24 milhões em média em 2022, um aumento real de 15% em relação ao ano anterior. O trabalhador médio dos Estados Unidos teria que trabalhar 413 anos para ganhar o que o mais bem pago CEO do país recebe em 12 meses. Cinquenta por cento das mulheres negras dos Estados Unidos recebem menos de US$ 15 por hora.

Os 100 mais bem pagos CEOs do Reino Unido receberam em média US$ 5 milhões em 2022 – um aumento real de 4,4% em relação a 2021. Eles ganham 140 vezes mais do que o trabalhador médio.

Os mais bem pagos empresários da África do Sul receberam US$ 800 mil em média em 2022, 43 vezes o salário médio dos trabalhadores do país. O aumento real dos rendimentos dos empresários foi de 13% em 2022.

Os dividendos recebidos por acionistas em 2022 foi um recorde de US$ 1,56 trilhão, aumento de 10% em relação a 2021. As empresas dos Estados Unidos pagaram US$ 574 bilhões para seus acionistas, mais do que o dobro do corte feito sobre os salários reais dos trabalhadores do país. Acionistas de empresas brasileiras receberam US$ 34 bilhões, quase o mesmo montante do que trabalhadoras e trabalhadores do país tiveram em cortes em seus salários.

Esses pagamentos exorbitantes a acionistas beneficiam os mais ricos da sociedade, aumentando os níveis já altos de desigualdade. O 1% mais rico da África do Sul tem hoje mais de 95% dos títulos e ações de empresas do país. Nos Estados Unidos, o 1% mais rico detém 54% das ações no país.

No entanto, os impostos sobre a renda desses dividendos e ações, que ajudam a financiar serviços públicos como saúde e educação, vêm caindo ao longo dos anos – de 61% em 1980 para 42% hoje.

Publicado originalmente em OXFAM Brasil