Bolsonaro quer dar salvo conduto ao patronato para impor trabalho análogo ao escravo

Por Adilson Araújo, presidente da CTB

Está em curso no Congresso Nacional, por iniciativa de parlamentares de direita e extrema direita, uma agenda legislativa contra o Supremo Tribunal Federal (STF) que parece ter o objetivo de provocar um caos institucional no país e abrir caminho a novas aventuras golpistas.

Na quarta-feira (9), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal aprovou dois projetos de lei e duas PECs (Propostas de Emenda à Constituição) que não só restringem poderes dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) como concedem aos deputados e senadores o poder de suspender decisões emanadas da Corte Suprema que eventualmente contrariem seus interesses.

PEC inconstitucional

A ideia, contida na PEC 28/2024, é inconstitucional. Subverte as relações entre legislativo e judiciário, desrespeita o postulado da separação de poderes, protegido por cláusula pétrea (CF, artigo 60, $ 4º, nº III), e usurpa competências do Supremo Tribunal Federal (STF). Uma cláusula pétrea não pode ser objeto de Proposta de Emenda Constitucional (PEC).

A iniciativa ameaça o Estado Democrático de Direito e tem sido interpretada como uma reação desvairada do presidente da Câmara e dos deputados contra decisões da corte que exigem transparência nas emendas do chamado orçamento secreto.

Transparência ou desvio?

A transparência na manipulação de dinheiro público, por sinal, constitui uma garantia constitucional aos contribuintes brasileiros, que têm todo o direito de saber como são aplicados os impostos que pagam compulsoriamente aos governos. A falta de transparência estimula a corrupção.

O sentido da atual ofensiva contra o STF vai além disto da retaliação na medida em que converge com a campanha bolsonarista para reverter decisões recentes que condenaram os protagonistas dos atentados do 8 de janeiro.

Defesa da democracia

Anistia aos golpistas é outro projeto que está em pauta na CCJ, incluindo seus líderes, em especial o chefe da extrema direita, Jair Bolsonaro, o mesmo líder político que em passado recente chorou de medo diante da perspectiva de ser preso, conforme informou seu amigo Malafaia.

As forças reacionárias, capitaneadas pelo bolsonarismo, sentem-se fortalecidas com os sinais de ascensão da extrema direita e os resultados do primeiro turno das eleições municipais. É de se esperar que intensifiquem a mobilização com o objetivo de materializar sua agenda antidemocrática.

Em contraposição, as forças democráticas e progressistas em geral, e o movimento sindical em particular, defrontam-se com a necessidade e ampliar o trabalho diuturno de conscientização e mobilização popular em defesa da democracia, da soberania e dos direitos sociais.

É preciso alertar reiteradamente a sociedade brasileira e a nossa classe trabalhadora para os riscos e perigos do neofascismo e expressar, neste momento, solidariedade ao Supremo Tribunal Federal e repúdio ao golpismo e aos seus líderes, que devem ser exemplarmente julgados, condenados e punidos pela Justiça.

Adilson Araújo