Após tragédia ambiental, Obama faz de lei sobre energia sua nova prioridade

Após a reforma de Wall Street, o clima. Continuando com sua maratona legislativa para ter o máximo possível de seu programa aprovado antes das eleições intermediárias de novembro, o presidente Obama lançou a ofensiva para dar andamento à reforma da energia, parada há vários meses no Senado. Mas assim como nas questões precedentes, a administração parece ter de rever suas metas.

A cem dias das eleições, muitos senadores – republicanos, mas também democratas – relutaram em instaurar um sistema de limitação das emissões de CO2, ainda que seja imposto somente a um setor da economia: a produção de eletricidade.

Desde o início da maré negra no Golfo do México, o presidente americano vem criando ocasiões para promover as energias renováveis. Na quinta-feira (15), ele apareceu ao volante de um carro elétrico, durante a inauguração de uma fábrica de baterias em Michigan. Na segunda-feira (19), ele reuniu ministros e autoridades de 21 países em Washington, para uma conferência internacional sobre as energias limpas, organizada pelo secretário das Energias e Prêmio Nobel de Física, Steven Chu.

Essas manifestações acompanham o início das grandes manobras no Senado para iniciar a discussão geral sobre um projeto de lei. O líder democrata Harry Reid anunciou que iria apresentar um texto no fim do mês. A meta é discutir – e possivelmente votar – uma primeira parte da legislação antes das férias de agosto.

Os senadores deveriam começar pela parte mais fácil: a que trata das consequências da maré negra. O texto prevê retirar o teto de indenizações devidas pelas companhias petrolíferas em caso de desastre; reforçar as exigências de segurança e garantir a independência do serviço do governo que dá as autorizações de perfurações no mar.

Os republicanos parariam de bom grado por aí, mas o senador Reid anexou três outros capítulos, claramente mais delicados, a essa legislação. Um trata das energias renováveis, e dos “empregos verdes”; o segundo fala sobre os incentivos fiscais para reduzir o consumo energético; o último, sobre as emissões de gases tóxicos produzidos pelo setor de eletricidade.

Depois de uma reunião com Barack Obama, John Kerry confirmou que o presidente permanece “determinado em colocar um preço no carbono”. O senador democrata criticou aqueles que não querem mais ouvir falar de um texto sobre o clima: “Não podemos nos contentar com uma lei que trate somente de energia. Nós aprovamos dez delas desde Nixon. Nenhuma teve efeito”. Mas Jeff Bingaman, o presidente da comissão da energia, também democrata, disse claramente: não há “senadores o suficiente a favor de uma limitação das emissões. Há uma grande distância entre aquilo que os cientistas dizem que devemos fazer e aquilo que a política no Senado nos permite conseguir”, lamentou.

Mais uma vez, o desafio é obter uma supermaioria de 60 votos. Alguns republicanos são abertos à ideia da limitação obrigatória. Mas são os democratas que estão em falta. Se na reforma da saúde foram os Blue Dogs, ou democratas moderados, que deram trabalho ao governo, desta vez são os Brown Dogs que se destacam. Representantes de Estados carvoeiros ou produtores de petróleo, esses senadores são totalmente contrários a um sistema de cotas para estabelecer um teto para as emissões. O democrata Ben Nelson (Nebraska) chegou a dizer que seria contra o início do debate caso as companhias de eletricidade fossem condenadas.

O senador Harry Reid pretende apelar diretamente para a opinião pública. Recentemente, ele trouxe um professor de neurociências para explicar a suas equipes a necessidade de se mudar a linguagem e formatar os debates não em termos de regulação, mas de patriotismo e de independência energética.

Agora, os democratas devem mostrar sua preocupação com as “energias limpas” em oposição às “energias sujas” dos republicanos. O próprio senador Reid não diz mais “emissões de gases tóxicos”. Ele fala em “poluição”.

Fonte: Le Monde

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