A entrevista de Jair Bolsonaro aos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos na edição do Jornal Nacional desta segunda-feira (22) não surpreendeu, a não ser pelo fato de que ele não chegou ao ponto de agredir os repórteres, o que foi recebido com imenso alívio no comando de sua campanha à reeleição. Mas o líder do neofascismo brasileiro foi o mesmo de sempre.
Mentiu quando falou sobre a pandemia, a corrupção, a Amazônia e outros temas. Disse que não falou mal da vacina e procura enaltecer os resultados da vacinação no Brasil. Mas já está registrado na história que o mito da extrema-direita disse que vacinas contra o novo coronavírus, que ele não tomou e disso se vangloria, podem provocar Aids e transformar as pessoas em jacarés.
Bolsonaro buscou justificar a defesa de medicamentos ineficazes para controlar o vírus (o controvertido Kit Covid, que teve efeitos pavorosos no Amazonas) pretextando a liberdade dos médicos para receitar. A mesma concepção de liberdade que ele usou para respaldar as pregações, cartazes e faixas golpistas nas manifestações que patrocina e lidera. Ele zombou das vítimas da doença, dos que padeceram por falta de respiradores, combateu o uso de máscaras e o isolamento social.
Mentiras, corrupção e golpismo
Mentiu novamente ao insinuar que o jornalista William Bonner disseminou fake news quando este informou que o presidente tinha xingado um ministro do STF. Mas foi logo recordado de uma manifestação antidemocrática em que chamou Alexandre de Moraes de canalha. Sem ter como brigar com os fatos, procurou inverter a realidade argumentando que estava sendo perseguido pelo juiz.
Afirmou ainda que em seu governo não tem corrupção. Mas foi recordado pelos jornalistas do escândalo no Ministério da Educação que resultou inclusive na exoneração e até prisão do ex-ministro Milton Ribeiro. O MEC, que cuida de um setor estratégico para o desenvolvimento nacional, foi transformado em fonte de propinas gerida por dois pastores evangélicos, além de ser subordinado a uma orientação obscurantista e retrógrada,
A corrupção também deu o tom no igualmente estratégico Ministério da Saúde e foi uma das causas da tragédia sanitária traduzida, hoje, em 682 mil mortes por covid-19. Sobre as queimadas na Amazônia e os crimes contra o meio ambiente, praticados em conluio com madeireiros e grileiros, o chefe do Palácio do Planalto recorreu ao negacionismo e a fake news.
Finalmente, ele deixou no ar a ameaça golpista ao destacar – em resposta a perguntas insistentes dos jornalistas – que respeitará o resultado das urnas “desde que as eleições sejam limpas”, reiterando as suspeitas infundadas que lançou contra o sistema de votação eletrônica com o propósito, cada vez mais evidente, de contestar os resultados de forma a dar curso à sua empreitada golpista.
Outro forte sintoma dos objetivos golpistas do bolsonarismo transpareceu nos eloquentes diálogos de um grupo de grandes empresários golpistas na rede social. Todos são bilionários e aliados do líder neofascista, que exteriorizam a vocação golpista da burguesia brasileira, e estão sendo investigados pela Polícia Federal por determinação do ministro Alexandre Moraes.
Suspeita-se que esses respeitáveis e privilegiados cidadãos, que frequentam as colunas sociais, estejam por trás do financiamento dos atos golpistas realizados ao longo do atual governo e em especial do emblemático 7 de setembro de 2021, data em que o presidente do STF, confessou ter temido uma implosão da sede da Corte Suprema.
O discurso falso e as mentiras desfiladas por Bolsonaro na inauguração da série de entrevistas da Globo com os presidenciáveis só convence ou sensibiliza os fanáticos seguidores do “mito” neofascista. A maioria esmagadora da nação, castigada pela inflação, a epidemia, o desemprego e a fome, está farta de tantas barbáries e este sentimento vai desaguar nas urnas. Várias capitais registraram panelaço contra o presidente no horário da entrevista.
Foto: reprodução TV Globo