Por Rene Vicente*
Conta o economista Luiz Gonzaga Belluzzo que em 1978 o governo chinês enviou ao Brasil uma equipe para estudar, compreender e aplicar a experiência brasileira em matéria de desenvolvimento da indústria de transformação.
Naquela época, nosso país desenvolvia o mais exitoso processo de industrialização do mundo. Era um caso exemplar com o qual os chineses, despojados da arrogância ocidental, queriam humildemente aprender.
O Brasil era responsável por cerca de 3% da manufatura mundial, enquanto a China não chegava a 2%. A participação da indústria de transformação no PIB era de 27%.
Hoje, quarenta anos depois, o cenário é muito diferente. O peso da produção industrial no PIB brasileiro não chega a 10%.
O PIB brasileiro equivalia a 2,3% do PIB mundial em 1980, o da China a 1,0%). Em 2021, a participação do nosso país no produto global tinha declinado para 1,7%. O peso da China saltou para 18% e a próspera potência asiática transformou-se na maior economia do planeta.
Escolhas infelizes
O triste contraste entre as duas trajetórias não é fruto de um capricho da história. Resulta de escolhas concretas adotadas pelos respectivos Estados nacionais. A desindustrialização não é um destino manifesto e inexorável das nações onde o fenômeno se verifica.
No Brasil, a progressiva destruição da indústria teve curso após a crise da dívida externa nos anos 1980, que provocou forte redução das taxas de investimento e de crescimento econômico, e foi alavancada pelas políticas neoliberais do governo FHC.
O chamado tripé macroeconômico inaugurado pelo presidente tucano – composto de câmbio flutuante, juros altos e ajustes fiscais recorrentes para realizar superávits no orçamento primário independentemente da fase do ciclo econômico – foi fatal para a indústria nacional.
A valorização artificial do real, que no início chegou a ser cotado acima do preço do dólar, fechou o mercado exterior aos produtos industriais originados do Brasil e ampliou a penetração de importados no mercado interno.
Carro-chefe do desenvolvimento
O exemplo da China, entre muitos outros, mostra que a indústria é o carro-chefe do desenvolvimento e do bem-estar das nações. É o celeiro das novas tecnologias e da alta produtividade do trabalho.
É o setor industrial que também cria os melhores empregos, paga os maiores salários e mais contribui para o crescimento da economia. Cabe assinalar que esta verdade vale especialmente para São Paulo, que ainda detém o maior parque industrial do país e é o estado que mais sofreu e sofre com a desindustrialização.
Para criar mais e melhores empregos e recolocar o Brasil na rota do desenvolvimento é preciso interromper e reverter o processo de destruição da nossa indústria, que tem por símbolo mais recente a retirada da Ford.
Novos rumos políticos
Isto pressupõe mudanças nos rumos políticos do país, a derrota de Jair Bolsonaro e do neoliberalismo, a eleição não só de Lula mas de candidatos e candidatas progressistas para o Congresso Nacional.
Será o primeiro passo para que sejam implantadas, em todas as esferas da federação, políticas de estímulo à produção industrial, com foco no desenvolvimento da ciência e da tecnologia, bem como na valorização do trabalho e distribuição de renda. Reforma tributária e mudança da orientação macroeconômica são iniciativas indispensáveis nesta direção.
A classe trabalhadora é a principal interessada e deve liderá-la ao lado dos empresários e setores das classes médias preocupadas e compromissadas com o desenvolvimento nacional.
*Presidente licenciado da CTB-SP, candidato à Assembleia Legislativa de São Paulo pela Federação Brasil da Esperança (PT-PCdoB-PV)