Uma delegação de dirigentes da CONTAG esteve no Paraguai, na semana passada, representando as organizações de agricultura familiar do Brasil em uma série de atividades internacionais, entre elas a 36ª Reunião Especializada para a Agricultura Familiar do Mercosul Ampliado (REAF), que aconteceu presencialmente na capital paraguaia Assunção, nos dias 21 e 22.
O grupo da CONTAG foi formado pelo vice-presidente e secretário de Relações Internacionais, Alberto Broch, pela secretária de Mulheres, Mazé Morais, e pela secretária de Jovens da FETAESC, Aline Maier, que representou a secretária de Jovens da CONTAG, Mônica Bufon, nas atividades políticas. Mazé e Aline também representaram as Comissões Nacionais de Mulheres e de Juventude Rural da CONTAG, respectivamente, nas reuniões realizadas nos quatro dias de trabalho.
A semana teve uma programação intensa, pois além da participação na REAF, a CONTAG, que é membro da COPROFAM – Confederação de Organizações de Produtores Familiares do Mercosul Ampliado, também esteve em reuniões com as outras oito organizações que compõem a entidade, e seus dirigentes, debatendo sobre a conjuntura da região e trabalhando em propostas para o Plano de Ação Regional da Década da Agricultura Familiar.
A REAF como referência da Década no Mercosul Ampliado
A construção do referido Plano está sendo feita no âmbito da REAF Mercosul, conforme foi aprovado na 35ª edição da Reunião, realizada em novembro do ano passado sob presidência pró-tempore do Brasil. Ficou definido neste último encontro que a REAF, que é um tradicional espaço de articulação política entre governos, organizações da agricultura familiar e agências multilaterais, seria o ambiente para que todos esses atores políticos trabalhem conjuntamente em um documento de Plano de Ação que leve em consideração os sete pilares da Década e as necessidades e especificidades da Agricultura Familiar, Camponesa e Indígena da região do Mercosul Ampliado.
Esta 36ª REAF teve a presidência pró-tempore do Paraguai, e além do governo do país anfitrião, contou com a participação de representantes governamentais do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Colômbia. Agências de cooperação como a FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, o FIDA – Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, e o IICA – Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, também contribuíram com o diálogo, assim como dirigentes da COPROFAM e de outras organizações latinas.
O evento foi iniciado no dia 21 por autoridades do governo paraguaio, em especial o ministro de Agricultura e Pecuária do país, Santiago Bertoni, e também teve um discurso de Alberto Broch, em nome das organizações sindicais participantes. Em suas palavras, Broch comemorou a aprovação da pauta do Plano e indicou as expectativas da CONTAG e COPROFAM: “Temos muita fé e esperança que possamos construir esse Plano de Ação e também fortalecer a REAF, principalmente prezando pela sustentabilidade nas discussões sobre os novos desafios e paradigmas de uma produção mais sustentável para a nossa agricultura familiar”, disse.
A programação foi marcada por diálogos sobre os cenários e potenciais da Agricultura Familiar, Camponesa e Indígena dos países do Mercosul Ampliado, por apresentações sobre os avanços da Década na região, e por trabalhos das delegações dos países com o tema.
Outro momento importante da 36ª REAF foi o lançamento da Plataforma de Mulheres Empreendedoras Rurais, que já vinha sendo desenvolvida passo a passo há algumas edições da REAF e agora está pronta para ser usada como uma ferramenta digital de apoio e divulgação do trabalho de mulheres rurais de toda a região.
Outros temas importantes que fazem parte dos assuntos tratados na REAF continuam sendo discutidos em grupos de trabalho específicos que englobam pontos focais de todos os países, e que têm se reunido periodicamente de forma on-line.
A jornada de trabalho desta REAF foi finalizada na quarta-feira, 22, com a tradicional aprovação em plenário da ata de trabalho, que indica todos os trabalhos desenvolvidos na edição. Como resultado das discussões desses dois dias, aprovou-se na ata da 36ª REAF as diretrizes centrais para a construção de um plano regional da Década. “É um planejamento muito complexo, pois envolve muitos países e realidades, mas temos a expectativa de seguir trabalhando nisso nos próximos meses para tentar a aprovação do Plano de Ação Regional na próxima REAF, que acontecerá em novembro no Uruguai”, avaliou o vice-presidente da CONTAG.
Juventude e Mulheres latinas trabalhando juntas
A COPROFAM aproveitou a ocasião da REAF em Assunção para promover algumas atividades internas importantes para a organização, e que também se refletem no diálogo que estava sendo levado na Reunião Especializada, e preparou a primeira reunião da Comissão de Jovens, e também da Comissão de Mulheres da entidade. Ambas aconteceram também na quarta-feira (22), após a aprovação da ata.
Essas comissões são integradas por dirigentes de todas as nove organizações filiadas à COPROFAM, e são coordenadas pelas diretoras Elga Angulo, vice-presidenta e coordenadora de Mulheres da COPROFAM, e pela jovem Melina Rodríguez, coordenadora de juventude da Confederação. A participação da CONTAG em ambas comissões foi garantida por Mazé Morais e Aline Maier, cada qual na respectiva pasta que já trabalham no Brasil.
Mazé, que além de secretária de Mulheres da CONTAG também coordena a Marcha das Margaridas, principal ação política de mulheres rurais da América Latina, participou do intercâmbio de informações e experiências com as companheiras dos outros países, contribuiu na construção de propostas específicas para as mulheres no Plano de Ação Regional que está sendo desenvolvido na REAF, e aproveitou para convidar a todas para estarem na 7ª Marcha, que acontecerá em Brasília em 2023.
“Nossa intenção aqui, tanto na agenda da COPROFAM quanto na REAF, é estimular que haja esse recorte e esse olhar das demandas das mulheres nas perspectivas de políticas públicas e programas para as mulheres dos campos, das florestas e das águas em todos os países do nosso continente”, afirmou Mazé sobre o diálogo promovido entre dirigentes. “Desde terra, assistência técnica, saúde, formação, ocupação dos espaços políticos, entre outros, apontamos a importância de tudo isso para que nós, mulheres trabalhadoras rurais, possamos nos desenvolver com autonomia e dignidade em nossos territórios. Nossos desafios não são poucos, mas juntas conseguiremos avançar e nos fortalecer na luta”, completou a dirigente.
Já no grupo de juventude, a dirigente catarinense Aline Maier representou toda a Comissão de Juventude Rural do Brasil, e compartilhou com dirigentes jovens das organizações parceiras sobre os temas que essa Comissão, coordenada pela CONTAG, trabalha em nosso País. Aline comemora a oportunidade de a juventude rural estar nesse espaço da REAF neste ano: “Esse encontro é um momento muito importante para debater a agricultura familiar, focando nos temas da Década. Quando podemos ter jovens, mulheres e homens trabalhando esses assuntos, é um marco muito importante para as organizações, pois como vamos falar de agricultura familiar sem estar com todos os sujeitos participando da conversa?”, comentou.
“Quando trabalhamos os pontos específicos da juventude entre nós, e nessa perspectiva internacional, também é muito gratificante. São países e pessoas com realidades distintas, mas muitas vezes são parecidos os desafios e a luta da juventude em cada local. Com certeza uma experiência como essa marca muito a nossa luta em defesa dos agricultores e agricultoras familiares latinos”, afirmou Aline.
No dia seguinte à reunião, as duas Comissões apresentaram os resultados de seus trabalhos em uma reunião geral com todos(as) os(as) dirigentes presentes. Os documentos produzidos indicam pontos importantes de estarem presentes do Plano de Ação Regional, na perspectiva de gênero e geração, e serão encaminhados pela COPROFAM à Secretaria Técnica da REAF como parte das propostas oferecidas pela organização.
A avaliação das atividades da semana de forma geral foi muito positiva, segundo Alberto Broch, que também é presidente da COPROFAM.
“Vejo que os resultados que obtivemos aqui em todas as reuniões e conversas foram muito positivos. São temas muito importantes de serem dialogados agora, nessa conjuntura tão desastrosa que vivemos em todo o mundo e também na América do Sul, e isso nos traz esperanças de nos mantermos unidos para fortalecer a AFCI e ajudá-la a produzir alimentos sadios para um presente e futuro com mais qualidade de vida para todas as pessoas”, avaliou Alberto.
Fonte: Gabriella Ávila – jornalista da COPROFAM