Por José Reinaldo Carvalho (*)
Com formato digital, e tendo por sede a capital indiana, Nova Deli, realizou-se nesta quinta-feira (9), a 13ª Cúpula do Brics, o agrupamento que reúne importantes países emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Sobre a mesa uma variedade de temas de importância para o Brics e a comunidade internacional: reformas do sistema multilateral, contraterrorismo, metas de desenvolvimento sustentável, ferramentas digitais e tecnológicas, promoção do intercâmbio de pessoas e fomento ao desenvolvimento no seio do próprio Brics. Nos 15 anos desde a sua constituição, a cúpula tem por tema central: “Brics 15: Cooperação Inter-Brics para Continuidade, Consolidação e Consenso”.
Outros assuntos de impacto global também centralizam o enfoque dos líderes, como a pandemia de Covid-19 e os desdobramentos da situação na região da Ásia Central, a partir dos acontecimentos no Afeganistão.
Desde sua criação, em 2009, o Brics desenvolve-se e eleva sua importância no palco internacional, com esforços para compartilhar desafios e ações conjuntas a fim de alcançar objetivos comuns, em um cenário global marcado por mudanças profundas, instabilidade, incertezas quanto à recuperação da economia global, a persistência da pandemia e eventos geopolíticos reveladores de insegurança e ameaças à paz.
Representando cerca de 42% da população mundial, 23% do PIB, 30% do território e 18% do comércio global, o grupo está chamado a desempenhar um papel relevante na solução dos problemas mundiais tendo presente a perspectiva da cooperação, do multilateralismo e da paz.
A 13ª Cúpula é uma boa oportunidade para reafirmar e enriquecer os objetivos permanentes do Brics. Continua na ordem do dia como necessidade premente aumentar a cooperação e o diálogo sobre questões de segurança global e regional, reforma e aperfeiçoamento dos mecanismos multilaterais para tornar relevantes os organismos internacionais, nomeadamente a ONU, e o próprio Brics.
Igualmente, está na ordem do dia a promoção do crescimento econômico e o desenvolvimento para a prosperidade mútua.
Nesse quadro , os países do Brics são desafiados a desempenhar um papel cada vez mais saliente na promoção da cooperação internacional, no reforço dos mecanismos multilaterais, na promoção do desenvolvimento, na contribuição para recuperar a economia mundial, para levar benefícios às nações em desenvolvimento e suas respectivas populações. Para isso, é fundamental o reforço da coesão dentro do próprio bloco, apesar de diferenças nacionais e de orientações políticas e ideológicas.
O Presidente da China, Xi Jinping fez em seu discurso durante a 13ª Cúpula do Brics um balanço preciso da trajetória do grupo na última década e meia. Nos últimos 15 anos, disse ele, os cinco países do Brics persistiram em abertura, abrangência e igualdade, aumentaram os contatos estratégicos e a confiança política mútua, respeitaram os sistemas sociais e caminhos de desenvolvimento uns dos outros e procuraram continuamente a melhor maneira de convivência entre os países.
Esta posição do Presidente Xi é mais uma demonstração do compromisso da China com a natureza e o caráter do grupo: cooperação em nome do desenvolvimento comum. Xi Jinping enfatiza noções que correspondem às necessidades atuais e futuras do Brics e de toda a comunidade internacional. Segundo ele, os países do Brics se ativeram à inovação pragmática e cooperação de benefícios compartilhados, conectaram suas políticas de desenvolvimento, complementaram-se com suas próprias vantagens e promoveram colaborações em diversos setores.
Merece destaque a observação do Presidente Xi sobre a persistência do Brics nos valores da justiça e equidade, no apoio ao multilateralismo, na participação na governança global, o que, segundo ele, tornou o Brics uma força indispensável na arena internacional. Sem dúvida, o cenário mundial seria muito mais favorável ao desenvolvimento dos povos se preceitos como estes defendidos pelo líder chinês se generalizaram nas relações bilaterais e multilaterais entre países e blocos.
Uma boa base para o exercício desta cooperação é a estratégia de parceria econômica do Brics até 2025, adotada em cúpula anterior e que carece de novos estímulos.
O reforço da coesão entre os países do Brics e o exercício de seu papel no plano global tornam-se ainda mais importante no atual contexto em que, sob a ótica de que “a América está de volta”, os EUA buscam impor aos demais países a sua hegemonia e, ao invés de propugnarem a cooperação e a paz, elegeram como aspecto central de sua política exterior a contenção estratégica da China, o que pode ser traduzido como a adoção de políticas visando a impedir que esse país realize o sonho de desenvolvimento e revitalização nacional de sua população.
Diferentemente dessa perspectiva, para os países do Brics é muito mais proveitoso e salutar adotar estratégias conjuntas de desenvolvimento e paz, que é o que verdadeiramente interessa à comunidade internacional. A coesão entre os países do Brics é um pressuposto para seu desenvolvimento comum e a base para que deem uma contribuição ao desenvolvimento de toda a humanidade, que sonha com um mundo melhor.
É também nessa perspectiva que os povos do mundo, os governos de países em desenvolvimento, as forças do progresso e da paz valorizam a posição da República Popular da China, que tem sido defendida por seu líder máximo, o Presidente Xi Jinping.
O presidente chinês tem defendido o aprofundamento da parceria entre os países do Brics e em todas as cúpulas de que tem participado tem defendido o multilateralismo e a solidariedade para superar os desafios globais. É admirável a cooperação chinesa, sob a orientação do Presidente Xi, para o enfrentamento conjunto da pandemia de Covid-19, assim como as ações para a recuperação da economia global.
Especificamente no quesito economia, desde a anterior cúpula, em novembro do ano passado, o Presidente chinês assumiu o compromisso de que a China trabalhará com outras partes para concretizar a parceria do Brics na nova revolução industrial em um ritmo mais acelerado.
Revestiu-se de significado especial o pronunciamento do Presidente Xi na 11 ª Cúpula do Brics de Brasília, em novembro de 2019. O próprio título do discurso continha explicitamente um chamado à coesão: “Juntos por um Novo Capítulo na Cooperação do Brics”. Com visão histórica, o líder chinês disse que os países do Brics devem captar a tendência dos tempos. E advertiu para alguns desafios fundamentais que permanecem atuais, quando defendeu que os países do grupo devem trabalhar para promover um ambiente de segurança, paz e estabilidade. Na ocasião, o Presidente Xi instou os cinco membros do Brics a salvaguardar a paz e o desenvolvimento para todos, defender a equidade e a justiça e promover resultados de ganhos recíprocos.
Foi memorável o pronunciamento do líder chinês na 10ª Cúpula do Brics, realizada em julho de 2018 na África do Sul, quando ele exortou os países do grupo a aprofundar a parceria estratégica e trabalhar para abrir uma segunda “Década de Ouro”.
“Vamos trabalhar juntos com o restante da comunidade internacional por um mundo aberto, inclusivo, limpo e bonito que desfrute de paz duradoura, segurança universal e prosperidade comum”, disse.
O traço comum das posições defendidas pelo Presidente Xi em todas as Cúpulas do Brics de que participou desde março de 2013, também na África do Sul, são o estabelecimento de vínculos fortes entre os países membros, por meio da construção da parceria e o trabalho árduo para impulsionar a cooperação em economia e comércio, finanças, infraestrutura, movimento de pessoas e outros campos.
“Não importa como a situação internacional possa mudar, devemos permanecer comprometidos em buscar o desenvolvimento pacífico e a cooperação ganha-ganha”, disse o Presidente Xi.
Pessoalmente, trago na mente vivas recordações da 6ª Cúpula do Brics de julho de 2014, a qual acompanhei pessoalmente na cidade brasileira de Fortaleza. Naquela ocasião, o Presidente chinês disse que os países do Brics devem levar adiante o espírito de abertura, inclusão e cooperação ganha-ganha, e desenvolver uma parceria mais estreita, abrangente e sólida.
Nesta 13ª Cúpula de Nova Deli, o Presidente Xi Jinping, com sua visão holística sobre os problemas internacionais e os desafios globais, vislumbrou um bom futuro para o Brics, o que será benéfico para os povos e nações. “Não importando quais são as dificuldades, a cooperação do Brics terá um desenvolvimento estável e um futuro promissor uma vez que os cinco países pensem no mesmo objetivo e conjuguem seus esforços”, disse.
O mundo agora volta os seus olhos para a China, que, conforme anunciou o Presidente Xi, sediará a próxima Cúpula do Brics, em 2022, assumindo desde já a Presidência do grupo.
Este artigo foi publicado originalmente no site da Rádio Internacional da China
(*) José Reinaldo Carvalho é jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, Secretário Geral do Cebrapaz