Por Francisca Rocha
Em pleno centenário do educador Paulo Freire (1921-1997), o ainda ministro da Educação, Milton Ribeiro coleciona pérolas de assombrar qualquer criança de ensino fundamental 1. Depois de afirmar que universidade é para poucos e de que mulher deve estudar somente até o ensino médio, o responsável pelo MEC vira sua bateria de asneiras contra as professoras e professores.
A pouco tempo, o ministro afirmou que “hoje, ser um professor é ter quase que uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”, num absoluto desrespeito à classe de 2,2 milhões de professoras e professores do ensino básico e 384.474 de docentes do ensino superior, além de desrespeitar os 56,3 milhões de estudantes do país.
Até porque as mulheres representam mais de 80% do corpo do magistério do país. Então, atacar a educação, além de ser contraproducente é um ataque de gênero e de raça quando destina as universidades aos poucos ricos e brancos.
Não é à toa que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem o menor número de inscritos dos últimos 14 anos porque o desgoverno decidiu tirar a isenção da taxa de inscrição de quem faltou no último Enem justamente durante a pandemia. O ato prejudicou os estudantes de escola pública e diminuiu sensivelmente o número de inscritos negros, indo na contramão da história e da luta por igualdade de oportunidades.
Mas para quem a educação dos mais pobres deve se restringir ao básico para trabalharem, sem conhecimento de que tudo pode ser mudado, de que a desigualdade não é natural. E ainda de que as mulheres são tão capazes quanto qualquer homem e podem ir longe com sua dedicação a tudo o que fazem e assim ajudar o país a sair da crise e crescer com justiça social. Também a população negra e os povos indígenas têm muito a contribuir para o avanço civilizacional da nação.
Como já disse Darcy Ribeiro (1922-1997), “a crise na educação não é uma crise; é projeto”. Projeto da elite do atraso, como diz Jessé Souza em seu livro. Uma elite com olhos para o mar e, portanto, de costas para o país. Por isso, o ministro da (des)Educação fala essas asneiras e parte da sociedade acata como verdade, algo tão simplório e mentiroso. Aliás, mentira é a marca do desgoverno Bolsonaro.
O ministro não fala nada sobre os baixos salários do magistério, das péssimas condições de trabalho, da total falta de estrutura das escolas públicas, dos intensos cortes orçamentários que esse desgoverno fez e dos sucessivos ataques a quem leciona e estuda. Ataques às universidades federais com a intenção de manchar a imagem positiva que têm perante a população, devido ao trabalho importante que realizam na pesquisa e na ciência, para entregar essas universidades à iniciativa privada, acabando com as pesquisas importantes para o desenvolvimento humano do país.
Além de tudo isso, senhor ministro, ser professor no Brasil, já é, por si só um ato de amor. Amor ao saber, à cultura, ao povo brasileiro. Amor à educação, que sim é uma arma quente e poderosa para acabar com a ignorância e o negacionismo.
Por tudo isso, neste 7 de setembro: Fora Bolsonaro. Ministro Milton Ribeiro peça seu banquinho e saia de fininho e deixe a educação com quem entende do assunto.
Francisca Rocha é secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil.