É provável que as ruas do Brasil reflitam, no próximo dia 7 de setembro, a polarização já onipresente nas redes sociais em torno da funesta figura de Jair Bolsonaro. A oposição ao presidente – que vai muito além da que cumpre importante atuação no Congresso Nacional – chama os brasileiros para uma jornada, nessa data, em defesa da democracia, da independência dos Três Poderes e do próprio futuro do País.
Não é uma pauta personalizada, nem tampouco partidária. É a expressão de uma frente ampla que aponta o #ForaBolsonaro como imperativo para a salvação nacional. Aí estão, sim, os partidos de esquerda, os movimentos sociais, as centrais sindicais, as entidades estudantis e outras representações comumente caracterizadas como “vermelhas”. Mas o quinto grande ato pelo impeachment do presidente é, acima de tudo, uma epopeia suprapartidária, democrática e civilizacional, como foi o movimento abolicionista ou as Diretas Já.
Não é por outra razão que bandeiras, camisas e faixas verde-amarelas – as cores nacionais – estão cada vez mais presentes nas manifestações. E tampouco é casual que o 7S – o 7 de Setembro do povo brasileiro – vai coincidir com o tradicional Grito dos Excluídos e das Excluídas, realizado anualmente no Dia da Independência pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Neste ano, ao alcançar 27ª edição, o Grito apresenta como lema “Na Luta por Participação Popular, Saúde, Comida, Moradia, Trabalho e Renda Já”, fortalecendo a luta por um projeto nacional emancipador, popular e progressista.
É um 7 de Setembro de quem se indigna com o espantoso número de vítimas da Covid-19 no País. Não é segredo – o próprio Bolsonaro não faz questão de esconder – que o governo federal sabotou permanentemente o combate à crise sanitária. Sem recorrer a emissários, o presidente usou suas entrevistas, lives e postagens nas redes para atacar as recomendações científicas e sanitárias, promover o negacionismo, espalhar fake news, boicotar as medidas restritivas e retardar a campanha nacional de vacinação. Resultado: 575 mil mortes por Covid e mais de 20,5 milhões de infectados desde o início da pandemia.
Esse 7 de Setembro do povo é aberto a todos aqueles que estão ainda mais indignados com as denúncias de corrupção reveladas pela CPI da Covid. Antes ainda da instalação, em abril, da Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado, todos já sabíamos que Bolsonaro era um mensageiro da morte, um agente do vírus, o principal porta-voz do negacionismo no território brasileiro. Mas o pior é que tudo isso acabava por acobertar interesses escusos na crise sanitária: faturar milhões com esquemas de corrupção relacionadas à compra da vacina, em negociatas envolvendo gestores do Ministério da Saúde, militares e outros intermediários bolsonaristas. Não esperavam que a CPI desmascarasse tais escândalos, com a ajuda da mídia, do Judiciário e de outros setores.
É um 7 de Setembro de quem preza a independência dos Três Poderes e, por isso, jamais aceitará as tentativas de intimidação do bolsonarismo. Essa escalada autoritária atingiu mais um marco na sexta-feira (20), quando Bolsonaro formalizou no Senado um pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Sua manobra foi rechaçada por ex-ministros da Justiça, por 24 governadores, por entidades da sociedade civil e pelo Congresso.
“Não admitimos nenhum tipo de retrocesso ao estado de direito e à democracia no nosso país”, afirmou, nesta segunda-feira (23), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que deverá rejeitar o pedido de Bolsonaro. “Esta afirmação não é nenhum ato de confronto, de afronta, de hostilidade – muito pelo contrário. É um ato republicano, democrático, de uma instituição que obedece à Constituição Federal, conquistada a duras penas no nosso país. Uma instituição que entende que não há outro mecanismo para se ter ordem e progresso que não seja em um ambiente democrático.”
Já o 7 de Setembro de Bolsonaro vai em direção absolutamente inversa. Quem apoia o presidente – um grupo cada vez mais restrito, embora fiel – está sendo instigado a levantar bandeiras conservadoras e golpistas. São retrocessos como o voto impresso, o esvaziamento progressivo do Estado Democrático de Direito, o servilismo do STF e do conjunto do Judiciário, além da reabertura total e inconsequente de todas a atividades no País, pondo em risco a vida dos brasileiros num cenário de avanço ainda lento da vacinação. Nada mais contraditório para a data que celebra o brado de “independência ou morte” de uma nação.
O governo Bolsonaro está acabado – se entendermos o governo federal como o exercício de um poder que, uma vez emanado do povo, representa interesses públicos e nacionais, nos marcos da democracia. Nem mesmo segmentos que, em 2018, apoiaram sua plataforma de campanha, como investidores e a maioria dos governadores eleitos, ignoram agora as ameaças em série de rupturas autoritárias. Derrotar Bolsonaro é uma tarefa de urgência maior.
No tempo que falta para o presidente deixar o cargo – seja pelo impeachment, seja pela renúncia, seja pelo voto –, os apoiadores de Bolsonaro vão insistir na provocação, nos ataques à democracia, nas infrações à lei e à Constituição. A esta altura, porém, está claro que se trata do desespero de um segmento extremado da sociedade, liderado por um facínora, que percebe não ser mais tolerado pelo povo. Mais do que “independência ou morte”, o grito a unir o Brasil antes, durante e após o 7 de Setembro é outro: “Fora, Bolsonaro!”.
Fonte: Portal Vermelho