Quase 30 anos depois de sua morte, o cineasta Glauber Rocha ganhou status de perseguido político, concedido pela Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, nesta quarta-feira (26).
A cerimônia de julgamento do processo de anistia, referente a perseguições durante o regime militar (1964-1985), teve endereço no Teatro Vila Velha, em Salvador. A reparação concedida à viúva do maior expoente do Cinema Novo, Paula Gaitan, foi de R$ 234 mil, além de uma pensão mensal de R$ 2 mil.
A concessão do status de perseguido político a Glauber foi o ápice da 37ª Caravana da Anistia, promovida pela comissão. O pedido de reparação em favor dos herdeiros do cineasta foi feito pela filha, Paloma Rocha, há quatro anos. O processo apontava diversos episódios de perseguição contra Glauber cometidos pelo Estado. Além de ter sido preso em 1965, durante protesto contra o regime, a comissão entendeu que o artista teve o trabalho cerceado sob a sombra dos quepes militares.
Os episódios de censura por parte de agentes do Estado atingiram duas das mais conhecidas obras de Glauber, Deus e o diabo na terra do sol e Terra em transe. O próprio cineasta se dizia perseguido tanto pelos militares quanto pela esquerda. “Toda a família sofreu com as perseguições contra ele. Ainda criança, tive de me refugiar em um sítio quando ele foi preso. Depois, eu e minha avó rodamos por várias prisões para conseguir encontrar o meu pai”, recorda Paloma.
Comunista
A filha de Glauber chegou a ser expulsa da escola, quando criança, por dizer que o pai era “comunista”. De acordo com a análise feita pelos integrantes da comissão, o Estado brasileiro prejudicou a atuação profissional do cineasta de diversas formas. Além da prisão e da censura a filmes, o artista teve a presença em festivais internacionais inviabilizada de forma proposital pelos governos militares.
“O Glauber foi um perseguido notório. O processo mostra toda a história de opressão, censura, prisões, perseguições, o estigma que ele teve de carregar. Até a dificuldade para se inserir no mercado por conta da repressão”, defende o presidente da Comissão, Paulo Abrão.
Correio Braziliense