O candidato da esquerda Pedro Castillo, do Peru Livre, segue em vantagem sobre sua adversária, a direitista Keiko Fujimori, do bloco Força Popular, na eleição para a presidência do Peru.
Com 99,795% das urnas processadas e 98,338% delas contabilizadas na manhã desta quarta-feira (9), Castillo mantem uma vantagem pequena, de pouco mais de 71 mil votos (0,4 ponto percentual), com 50,2% dos votos. Sua rival, a filha do ditador Alberto Fujimori tem 49,8%, segundo o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE, na sigla em espanhol).
Os partidários do professor e sindicalista que lidera a corrida presidencial estão convencidos de que, apesar da pequena diferença, já não é possível reverter o resultado, até porque os votos provenientes do exterior (favoráveis à líder da extrema direita) já teriam sido apurados.
Centenas de milhares de camponeses desceram o altiplano das montanhas peruanas rumo a Lima para defender e garantir a vitória de Pedro Castillo (conforme mostra a foto). Golpista, a filha de Fujimori adiantou que não pretende reconhecer a derrota e recorre a denúncias infundadas de fraude.
Chega de pobres em um país rico
Castillo concorre pelo Partido Peru Libre, tem 51 anos, é professor rural. Ganhou projeção política há quatro anos depois de liderar uma histórica greve de professores. Se vencer, será o primeiro presidente peruano proveniente da classe trabalhadora e com fortes vínculos com o povo. Durante a campanha, ele andou pelo interior a cavalo.
Castillo “seria o primeiro presidente pobre do Peru”, disse o analista Hugo Otero à AFP. “Só povo vai salvar o povo”, proclamou em discurso a seus eleitores enquanto aguarda o resultado final da apuração.
O professor prometeu trabalhar para combater e reduzir as desigualdades sociais e fez sua campanha com uma mensagem de fácil assimilação: “Chega de pobres em um país rico”.
Mudanças radicais
“Planejamos mudanças, não remendos ou reformas como outros candidatos de esquerda”, afirmou durante a campanha. Ele é contra as privatizações, declarou-se simpatizante do presidente venezuelano Nicolás Maduro, defendeu a convocação de uma Constituinte e prometeu prioridade para uma tríade composta por saúde, educação e agricultura.
Afirmou ainda que se chegar ao poder o país recuperará o controle de sua energia e riquezas minerais, como gás, lítio e ouro, entregues ao controle de multinacionais. Acenou com ações de combate ao desemprego e o propósito de criar mais de 1 milhão de novos postos e trabalho.
Extrema direita
Em contraste, candidata Keiko Fujimori, do Força Popular, tem utilizado métodos similares aos de outros candidatos do espectro da extrema direita na disputa pela presidência do país, com destaque para a disseminação de Fake News. O último lance de seus apoiadores foi questionar a lisura do sistema eleitoral.
Ela procura explorar o fantasma do anticomunismo e defende um regime autoritário no Peru, que em sua opinião precisa de uma “democradura”, ou seja, uma democracia de fachada mascarando uma ditadura de fato. Seu pai, Alberto Fujimori, também procurou governar como um ditador, mas acabou afastado da Presidência e preso por corrupção. A filha também anda enrolada com a Justiça em função de malfeitos.
O novo presidente tomará posse em 28 de julho em um país que teve quatro chefes de Estado desde 2018 e que registra a maior taxa de mortalidade do mundo na pandemia, com mais de 185.000 mortos em uma população de 33 milhões de habitante.
Ao lado da crise econômica, que alavancou, a pandemia impôs restrições que contribuíram para a depressão da produção em 2020, quando o PIB despencou 11,12%. Este é o pano de fundo da polarização entre esquerda e extrema direita nas eleições peruanas.
A vitória de Castillo, se confirmada pelas urnas, vai fortalecer e impulsionar a nova onda progressista que ganhou corpo na América Latina com as recentes vitórias da esquerda na Bolívia e no Chile.