Reproduzimos abaixo o texto do primeiro vídeo do programa Consciência de Classe, lançado pela CTB na quarta-feira (12) em seu canal no Youtube
Seu objetivo é expor e analisar conceitos fundamentais para a compreensão da realidade e, com isto, estimular o desenvolvimento e a elevação da consciência de classe e da consciência política na sociedade brasileira.
O primeiro vídeo aborda o conceito de classes sociais.
Você provavelmente já ouviu falar disto. As classes existem em função de desigualdades sociais. Ou seja, de desigualdades que não têm origem natural, mas resultam da organização sócio-econômica das sociedades.
Em nosso país, dilacerado por profundas desigualdades sociais, não é tão difícil perceber a divisão da nação em diferentes classes sociais.
Vemos mansões de um lado e favelas do outro, os ricos e os pobres, os bilionários, os milionários, os remediados; a riqueza convivendo em conflito com a pobreza e a pobreza extrema, a miséria.
A divisão da sociedade em classes sociais não é uma característica exclusiva do Brasil. Também não é um fenômeno recente na história humana.
As classes surgiram milhares de anos atrás, refletindo e acompanhando sempre o desenvolvimento das formas de organização, produção e reprodução das sociedades humanas.
Elas emergiram com a progressiva dissolução das sociedades primitivas baseadas na propriedade comum da terra e dos meios de vida, que por isto foram designadas de comunismo primitivo. Neste modo originário de organização dos indivíduos e grupos humanos não existiam classes sociais. No Brasil temos até hoje exemplos deste tipo de sistema em algumas comunidades indígenas.
Ao longo da história humana já existiram diferentes classes sociais correspondentes a determinados sistemas ou modos de produção. Os mais conhecidos e analisados são:
- Escravismo, em que escravos e donos de escravos constituíam as duas principais classes sociais, embora não fossem as únicas. As primeiras formas deste sistema de produção e reprodução da sociedade foram registradas no Antigo Egito, alguns milênios antes de Cristo.
Uma forma tardia de escravismo também sobreviveu no Brasil até o último quartel do século 19 e nos deixou por herança a opressão racista de brasileiros negros e negras de que temos notícia diariamente.
- Feudalismo, sistema que sobreveio ao fim do Império Romano e prevaleceu durante a chamada Idade Média. Sua base era a produção agrícola. Foi dominado pelos senhores feudais, que exploravam os servos e conviveram em conflito também com a burguesia. Senhores feudais, servos e burguesia foram as principais classes do regime feudal.
- Capitalismo, é o sistema dominante no Brasil e na maioria dos países do mundo hoje. O capitalismo se consolidou na Europa e depois em todo o planeta após a revolução industrial da segunda metade do século 18 na Inglaterra. Nele temos duas classes fundamentais. A classe dos capitalistas, também designada de burguesia, e a classe trabalhadora, o proletariado.
Por burguesia compreende-se em geral os proprietários do capital, dos meios e condições de produção e distribuição da riqueza social. São os banqueiros, os comerciantes, os industriais, os proprietários do chamado agronegócio – os capitalistas em geral.
Por proletariado compreende-se a classe dos trabalhadores e trabalhadoras despojados de meios e condições de produção que sobrevivem da renda auferida com o emprego de sua força de trabalho. Os camponeses brasileiros, que exploram a agricultura familiar, embora donos da terra em que produzem também se consideram membros da classe trabalhadora. Agricultoras e agricultores familiares brasileiros têm uma tradição histórica de união com os assalariados do campo e das cidades.
É necessário observar que a sociedade brasileira não comporta apenas burguesia e proletariado. Isto também é verdade em relação a outros países. Ao lado dessas duas classes fundamentais temos outras. Existem latifundiários e camponeses no campo, bem como uma numerosa e heterogênea classe média urbana. Apesar da complexidade da configuração de classes predominam por aqui as relações de produção capitalistas e as classes fundamentais em nossa sociedade são a burguesia e o proletariado, portadoras de interesses econômicos e projetos políticos conflitantes.
Embora com interesses e propósitos comuns, as classes sociais não são homogêneas. Observam-se divergências e contradições internas. No caso da burguesia, temos a grande burguesia, a média burguesia e a pequena burguesia. São recorrentes os choques e lutas entre as frações desta classe, que também se divide segundo os diferentes setores e ramos da produção (industriais, comerciantes, banqueiros, fazendeiros).
Ou seja, percebe-se uma diferenciação no interior desta classe segundo a dimensão dos capitais de cada capitalista em particular e os diferentes setores e ramos da economia.
Algo parecido também pode ser observado em relação à classe trabalhadora, que inclui diversas categorias e se diferencia segundo a renda e os setores e ramos de produção: metalúrgicos, metroviários, comerciários, vidreiros, pedreiros, motoristas, entregadores explorados por aplicativos, padeiros, eletricistas, ferroviários, engenheiros, professores, assalariados rurais, servidores públicos, etc.
No conceito que expomos as classes sociais são definidas conforme a posição que os indivíduos ocupam no modo e no processo de produção da riqueza social e, especialmente no capitalismo, a relação com a propriedade dos meios e condições para a produção e distribuição das mercadorias. Cabe ressalvar que o tema é polêmico e a controvérsia acerca dos conceitos que o circundam geralmente reflete no plano ideológico interesses sociais divergentes.
Cabe acrescentar que entre os sistemas sociais temos também o socialismo, que será objeto de um outro vídeo. A caracterítica principal do socialismo consiste é que neste sistema a classe trabalhadora se torna classe hegemônica e dominante sobre o conjunto da sociedade. Ao mesmo tempo, em contraste com o capitalismo neoliberal, o Estado é o principal protagonista do desenvolvimento nacional, planejando o crescimento econômico e subordinando ao seu comando as forças espontâneas do mercado e da iniciativa privada.
Por hoje ficamos por aqui. No próximo vídeo daremos continuidade ao tema abordando o conceito de Luta de Classes.
Até
Para aprofundar a compreensão do conceito de classes sociais indicamos a leitura do
Dicionário de Política – Norberto Bobbio, da Edunb – Editora Universidade de Brasília
Dicionário do pensamento marxista
por Tom Bottomore, disponível na internet no link https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2543654/mod_resource/content/2/Bottomore_dicion%C3%A1rio_pensamento_marxista.pdf
Manifesto Comunista – Karl Marx e F. Engels