Por Humberto Lemos, presidente do Sintsama
Vale Tudo.
Pelo ambiente que estamos vivendo hoje, há uma sensação de aceitação daquilo que pode ser interpretado como “vale tudo pelo meu interesse”. Alias, já tivemos um programa na TV ou no rádio, com um nome parecido: “Vale tudo por dinheiro”.
Há uma interconexão, pois, normalmente “meu interesse” me leva à posição e condição superiores e, como tal, à possibilidade de estar melhor financeiramente. Ninguém trabalha procurando ficar menor ou mais pobre. Como se diz, a busca por melhor vida, no final leva também ao melhor dinheiro.
Todavia, como disse um grande filósofo, não se pode fazer concessões à indignidade, pois, isso constitui o início da entrada no mundo dos que ficam, na história, na margem indevida do rio revolto dos acontecimentos. O deputado Marcio Pacheco, dizia na legislatura passada, entre outras coisas, que a CEDAE era muito cara pra ele, tinha ligação afetiva especial com a CEDAE, pois tinha pessoas da família que trabalharam no serviço de água, na época que “não havia os equipamentos de hoje e era tudo na mão, época difícil”.
Dizia ainda que esse serviço jamais poderia ser privatizado pela sua relevância para a vida, a saúde e importância social. Entre seus discursos sobre o tema, podem-se destacar algumas assertivas que mostram bem a sua posição em favor da água pública.
“Quero saudar os funcionários aguerridos da CEDAE. Nosso respeito e admiração pela luta e o nosso apoio”; – “Quero dizer que o nosso mandato tem um compromisso com a primazia do ser humano. Por essa razão, nós não negociamos bens essenciais para a população, e a água, deputado Tio Carlos, é um bem essencial. Água é vida”.
Disse mais: “Nós estamos falando de um tema e cuidando da água do nosso Estado, não somente dos nossos servidores, dos funcionários da CEDAE que servem ao Estado, desse patrimônio do Estado, estamos falando de vida”; – “Por essa razão, sou totalmente contrário à privatização e venda da CEDAE, por entender que essa não é a solução que resolverá o problema do Estado”.
Inevitavelmente, surgem perguntas que devem ser endereçadas ao ilustre Deputado Marcio Pacheco, na cabeça da população que paga o salário dos agentes públicos, e, portanto, tem todo direito de ser esclarecida de modo a decidir seu voto em eleições futuras.
A previsão do ato contra a água pública que o governo do Estado quer perpetrar, fazendo a concessão da distribuição da água, é de demitir 4 mil empregados “aguerridos” da CEDAE em plena pandemia.
São 4 mil famílias que cairão em desgraça com o seu provedor desempregado. Isto constitui “respeito e admiração” aos “aguerridos” servidores da CEDAE? Vender a entrega da água em plena pandemia, quando a sua importância aumenta enormemente por ser elemento indispensável aos cuidados de higiene que combate este vírus mortal, constitui “compromisso com a primazia do ser humano”?
Aproveitar a pandemia para vender a entrega da água a particulares que são, pela própria definição de empresário, concentradores de lucro, sem fazer o debate envolvendo as camadas mais necessitadas, constitui “não negociar bens essenciais à vida” e “compromisso com a primazia do ser humano”?
Com a palavra o ilustre deputado Marcio Pacheco. Como disse o filósofo, deve-se estar na margem certa do rio caudaloso e revolto da história, pois na outra margem, a indevida, o lixo desta mesma história faz a sua gênese e o seu desenvolvimento malcheiroso. Com o passar do tempo, concessões inadvertidas levam à tragédia e ao arrependimento. Mas, aí é tarde demais…