Por Altamiro Borges
O negacionismo do governo, que causa milhares de mortes por Covid-19, agora está fragilizando o bolsonarismo num terreno em que antes ele imperava: o das redes sociais. Levantamentos feitos pela revista Veja na edição desta semana mostram o tamanho do tombo do “capetão” e de suas milícias digitais com sua pulsão pela morte.
A matéria confirma que “a aposta de Jair Bolsonaro num discurso negacionista e que descredencia a eficácia das vacinas já provocou arranhões na imagem do presidente… O tombo foi tão grande que aliados do presidente não conseguiram emplacar nenhuma narrativa coesa em defesa do governo”.
“Guerra das vacinas” abate o presidente
O primeiro alerta veio do próprio monitoramento feito pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). Ele detectou nas redes sociais o apoio maciço dos brasileiros à imunização e a insatisfação com o atraso na distribuição das vacinas. A “guerra das vacinas” foi corrosiva para a popularidade digital de Jair Bolsonaro.
Em 17 de janeiro, quando o governador “showman” João Doria promoveu a cerimônia para aplicar a primeira dose da CoronaVac na enfermeira Mônica Calazans, os perfis das milícias da extrema-direita entraram em parafuso, disparando tiros e fake news para todos os lados. O estrago na horda foi grande.
Segundo a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), entre os dias 17 e 18 de janeiro houve no Twitter 2,132 milhões de menções às vacinas, sendo que apenas 6,4% dos perfis envolvidos nessa discussão se alinharam com os bolsonaristas negacionistas e genocidas.
Derrotas do Twitter e no Facebook
Antes da pandemia, essas hordas tinham até 40% das interações. “Dessa vez, o volume foi de 13% do total. O lado de maior peso na discussão, com 48,4% dos perfis do Twitter e 59,9% das interações, era formado por usuários que celebraram a vacina e pediram o impeachment de Jair Bolsonaro”, descreve a revista.
A narrativa bolsonarista também apanhou no Facebook, um campo que sempre foi mais propício aos apologistas do ódio e da morte. Segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital, produzido por pesquisadores da USP, as postagens bolsonaristas foram só 14% do volume total do que foi postado sobre o tema no dia 17, contra 29% de críticas ao governo.
Já 58% das postagens foram “neutras”, difundidas pela mídia tradicional. “Assim como no Twitter, ficou claro no Facebook a tentativa improvisada dos bolsonaristas de mudar a narrativa que haviam criado para desmerecer a CoronaVac”, explica o professor Márcio Moretto, um dos coordenadores da pesquisa da USP.
Queda na capacidade de influenciar as redes
O perfil do presidente Bolsonaro, que acumula repetidas perdas de seguidores, também sofreu um tombo na capacidade de influenciar a rede social. Em 19 de janeiro, dia do início da vacinação em vários estados, ele teve 214 mil interações em sua página oficial. Antes, a média diária era de 970 mil.
Essa perda de influência é confirmada pela consultoria Quaest. Na medição que envolve o desempenho de personalidades no Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, Wikipedia e Google, Jair Bolsonaro registrou na quarta-feira (20) queda de quase 20 pontos de popularidade em relação ao início do mês de janeiro.
“Numa escala de 0 a 100, em que números maiores indicam maior relevância na internet, ele despencou de 83,2 pontos em 1º de janeiro para 65,1 pontos. Ele ainda lidera o ranking da Quaest, mas com margem significativamente menor para Luciano Huck, que está na segunda posição com 47,8 pontos, e para João Doria, no terceiro lugar com 39,7 pontos”.
A revista conclui que “o presidente sentiu o golpe. Ao melhor estilo Bolsonaro, foi retomada nesta semana a estratégia de espalhar declarações radicalizadas e que só servem para manter sua base ideológica mobilizada… Mas, segundo os estudos encomendados por Veja, nenhuma das narrativas produziu ruídos no meio digital”. A conferir nas próximas semanas!