São Paulo – Devido à inação do governo Bolsonaro, o já frágil plano de vacinação contra a covid-19 no Brasil vem sofrendo reveses. Enquanto países latino-americanos, como Argentina, Chile e México já começaram a vacinar suas populações, ainda não há previsão para o o início da imunização entre os brasileiros. “O governo brasileiro está passando vergonha”, afirma o ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP).
Por outro lado, o país corre ainda o risco de ver chegar a vacina primeiro para quem pode pagar. Representantes de clínicas da rede privada de imunização devem viajar à Índia para negociar a compra de 5 milhões de doses da vacina covaxin, que está sendo desenvolvida pelo laboratório Bharat Biotech.
Além disso, nesta segunda-feira (4), o governo indiano chegou a anunciar que não iria permitir a exportação da vacina de Oxford/AstraZeneca produzida pelo Instituto Serum. O fabricante indiano será responsável por produzir 1 bilhão de doses da vacina para países em desenvolvimento. Já nesta terça-feira (5), o presidente do instituto, Adar Poonawalla, disse pelo Twitter que as exportações das vacinas serão permitidas para todos os países.
Ainda assim, tais contratempos poderiam ter sido evitados, segundo Padilha. Para isso, o governo brasileiro deveria ter apostado em diversas vacinas. Em vez disso, colocou a quase totalidade das suas fichas nas doses da Oxford/AstraZeneca, a serem produzidas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“Para o Brasil ter um plano de vacinação, de uma vez por todas, o governo Bolsonaro tem que assumir a coordenação e incorporar todos os tipos de vacinas que se mostram eficazes e seguras para o plano brasileiro”, afirmou Padilha, em entrevista ao Jornal Brasil Atual.
Ele destacou que os países vizinhos, por exemplo, têm utilizado nos seus planos as vacinas da Pfizer, além da Sputnik V, desenvolvida pelos russos. Ambas estão fora, por ora, do plano de imunização do governo brasileiro.
Fura-fila
Para Padilha, neste momento, a possibilidade de compra das vacinas pela rede privada representa risco para o restante da população. Aqueles que não podem pagar acabariam ficando no fim da fila. “Além de não garantir a vacinação pelo SUS, vamos ter pessoas furando a fila, e se vacinando antes daqueles que de fato precisam ser os primeiros. É uma situação absurda, que a gente não vivia no Brasil”, criticou.
Como casos de campanhas de vacinação realizadas no Brasil que foram bem-sucedidas, Padilha citou o esforço de imunização contra o vírus H1N1, em 2010. “Em três meses, o Brasil vacinou 80 milhões de pessoas. Foram mais de 100 milhões em seis meses. Fomos o país que mais vacinou no sistema público”, declarou o ex-ministro. Ele também citou a incorporação da vacina contra o câncer de colo de útero, que foi incorporada ao sistema público, em 2014. Naquele momento, a vacina chegou a custar até R$ 1.200 em clínicas particulares.
“Estamos vivendo duas situações muito graves: primeiro, o desmonte do programa público de vacinação pelo governo Bolsonaro. E, segundo, alguns tentando furar a fila. Estão tentando ir na fonte de produção para passar na frente, adquirindo para clínicas privadas aquilo que tem que estar em programas públicos de vacinação por todo o mundo”, ressaltou.
Assista à entrevista
Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima
foto: Minsa/Chile. Vacinacao no CHile
RBA