A pandemia de covid-19 segue batendo recordes no Brasil e um cenário ainda mais preocupante é projetado para o próximo ano. Na sexta-feira, já havia sido atingida a maior média móvel semanal de casos no país, com 46.948 registros, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). No domingo (20), novo recorde, agora com 48.093 infectados.
O relaxamento da população em relação às medidas de distanciamento social e a perspectiva de um orçamento reduzido para o Sistema Único de Saúde (SUS) em 2021, há a possibilidade de enfrentarmos um novo colapso na saúde.
A avaliação é do médico sanitarista e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Gonzalo Vecina Neto, que se diz preocupado com o cenário atual e com o que se aproxima. “Estamos acelerando a pandemia e isso é fruto do nosso comportamento. Se nós relaxamos, mantendo as aglomerações, os números vão crescer. No fim de ano, haverá encontros que não deveriam ocorrer, com um clima de que a vacina já chegou, mas seus efeitos só serão notados no segundo semestre de 2021”, alertou, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.
O estado de São Paulo registrou 50.596 novos casos e 1.108 mortes causadas pela covid-19, só na última semana (13 a 19 de dezembro). O crescimento do número de novos casos chegou a 55% e o de mortes a 41% no último mês. De outubro para cá, os jovens passaram a ser os responsáveis pela maior parte das infecções e internações pela covid-19 no país. Os pacientes dos 20 aos 39 anos representam atualmente 40% dos casos e 3,6% das mortes contabilizados entre os paulistas.
“Há pais se encontrando com filhos jovens que não respeitam o distanciamento. Essa doença mata os mais velhos, tanto é que 86% dos óbitos, no Brasil, são de pessoas acima de 50 anos. Os jovens precisam entender que, apesar de sua resistência, seus pais morrem dessa doença”, adverte o médico.
Orçamento para o SUS
Em meio à pandemia do novo coronavírus, entidades de saúde coletiva foram surpreendidas com o anúncio do governo federal de retirada de R$ 35 bilhões do orçamento do SUS, dos atuais R$ 168 bilhões.
A previsão para o próximo ano é que a saúde pública será sobrecarregada com a demanda de procedimentos que foi reprimida em 2020, assim como pelos casos de covid-19 que hoje estão em curva de crescimento. Até os tratamentos de recuperação da doença, que vêm deixando sequelas em parte da população, e a própria elaboração de um plano de vacinação que alcance toda a sociedade.
O ex-presidente da Anvisa alerta que o orçamento do SUS não é suficiente para montar uma estrutura capaz de atender à população diante dessas demandas. Ele não descarta a possibilidade de um colapso no sistema público de saúde. “Nós temos problemas estruturais que precisamos resolver. A pandemia vai continuar forte no ano que vem e a rede de serviços hospitalares continuará sofrendo um estresse. O Ministério da Saúde precisa continuar credenciando leitos de UTI, senão teremos outro colapso”, criticou.
O médico explica ainda que os hospitais públicos terão que lidar com uma terceira onda de pacientes que não tem ligação direta com a covid-19: as vítimas de problemas cardíacos, de doenças respiratórias e câncer, que ficaram em casa durante a pandemia e terão que buscar seus auxílios médicos.
“Não espero que o Paulo Guedes enxergue a necessidade desses investimentos, porque esse governo não enxerga causa social, só dinheiro. Agora, espero que o Congresso veja as necessidades da sociedade e resolva o financiamento do SUS para 2021. No mínimo, precisa colocar o que se colocou neste ano, pois estão suprimindo R$ 35 bilhões dos R$ 165 bilhões, do ano passado”, afirmou Vecina Neto.
Novo vírus
Neste domingo, o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, confirmou que uma nova variação do coronavírus estava “fora de controle” e, por isso, o governo ordenou o confinamento de Londres e parte da Inglaterra. O sinal amarelo provocou uma reação em cadeia, com diversos países anunciando restrições a viajantes do Reino Unido e de outras nações onde há indicativos ou casos confirmados dessa mutação da covid-19.
Em entrevista à rede britânica BBC, a líder técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove, afirmou que os dados atuais indicam que a nova variante surgiu na Inglaterra, entre o sudeste do país e a capital, Londres. Maria afirmou que casos de covid-19 causados pela cepa mais contagiosa foram verificados na Dinamarca, na Holanda e na Austrália. No final do domingo, ao menos um caso já havia sido registrado também na Itália.
Gonzalo Vecina acredita que essa variação deve chegar ao solo brasileiro. “Essa nova variante não é totalmente diferente da atual, não reproduz outra doença, apenas torna mais fácil de se disseminar mais rápido. Acho que ela chegará aqui no Brasil, mas não sei quais as consequências.”
Fonte: Rede Brasil Atual – Josenildo Almeida