Por Railídia Carvalho
“Há muito tempo nas águas da Guanabara o Dragão do Mar reapareceu…”. Este verso de Aldir Blanc abre alas para um dos sambas mais populares do país e que foi gravado por Elis Regina. A música é uma homenagem ao líder da Revolta da Chibata, João Cândido que neste 20 de novembro, dia da Consciência Negra, é homenageado em live pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Clique AQUI e assista a partir das 19h.
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Com o nome de Canto ao Almirante Negro, a live musical será mediada pelo presidente da CTB, Adilson Araújo, e pela secretária da Igualdade Racial da central, Mônica Custódio. A trilha sonora ficará com a cantora e compositora Vanessa Borges e com o cantor, compositor e multi-instrumentista Robherval Santos. Ele trará um repertório consagrado por artistas negros como Luiz Melodia, Ederaldo Gentil e Gilberto Gil. Vanessa homenageia Dandara dos Palmares com a composição Dandara, de própria autoria.
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Quem foi João Cândido
João Cândido nasceu no Rio Grande do Sul e cedo entrou para a Marinha chegando ao cargo de marinheiro e ganhando experiência na operação de navios de guerra. Em 1910 comandou uma revolta contra os castigos corporais promovidos pela marinha brasileira, especialmente contra pretos e pardos, que ficou conhecida como A Revolta da Chibata.
Ao lado de milhares de marinheiros tomou navios de guerra, entre eles o Minas Gerais, até que a Marinha garantisse o fim dos maus-tratos. Recém-empossado na presidência da República, Hermes da Fonseca, aceitou as condições mas depois voltou atrás passando a perseguir os revoltosos, entre eles João Cândido.
Perseguido, preso, considerado louco, ele foi expulso da Marinha e morreu em São João de Miriti (RJ) em 6 de dezembro de 1969 uma situação de muita precariedade. Mesmo sem nunca ter sido castigado com a chibata, João Cândido não admitia que os colegas sofressem maus-tratos. “As carnes de um servidor da pátria só serão cortadas pelas armas dos inimigos, mas nunca pela chibata de seus irmãos. A chibata avilta”, declarou, em 1910, ao jornal Correio da Manhã.
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Em 2019, ano que marcou 50 anos da morte do Almirante Negro ele foi incluído no Livro dos Heróis do Estado do Rio de Janeiro por iniciativa dos deputados André Ceciliano e Waldeck Carneiro, ambos do PT. Em 2008, o presidente Lula sancionou a anistia póstuma a João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata. A anistia foi proposta em 2002, pela senadora Marina Silva (PT-AC).
“O reconhecimento de João Cândido está aquém do que deveria ser. Até hoje, os livros didáticos comentam muito superficialmente a Revolta da Chibata e, por esse motivo, muitos brasileiros não sabem quem é e o que fez João Cândido. Ele precisa ser colocado no mesmo panteão dos grandes heróis como Zumbi, Tiradentes ou Dandara”, afirmou o dramaturgo Vinícius Baião. Ele é autor e diretor do espetáculo Turmalina 18-50 – Os Últimos Dias do Almirante Negro em terra. O nome da peça é o último endereço residencial de João Cândido em São João de Miriti.