Por Francisca Rocha
O movimento de professores, funcionários de escolas, pais e estudantes obriga o governador de São Paulo, João Doria a adiar o retorno às aulas presenciais para 7 de outubro. Uma vitória parcial do movimento, mas um importante avanço par determos a volta às aulas presenciais sem nenhuma condição disso acontecer.
Todo mundo sabe que as escolas públicas do estado mais rico da nação estão em péssimas condições devido aos sucessivos cortes orçamentários promovidos nas verbas destinadas à educação pública em todos os níveis.
Com o atual governo a situação se deteriora rapidamente com os projetos de entregar a gestão das escolas públicas para entidades privadas com vistas à privatização, eximindo o Estado de suas responsabilidades constitucionais de fornecer escola pública para todas e todos em idade escolar.
O adiamento não resolve, mas dá mais tempo para a organização de toda a sociedade em defesa da vida de nossas filhas e filhos. Nenhuma mãe e nenhum pai deseja perder seus filhos por uma irresponsabilidade de um governo comprometido com os barões da educação, que só pensam em dinheiro e desprezam a vida.
A situação é tão grave e a temeridade tão grande que várias escolas estão enviando aos pais termo de responsabilidade caso os alunos contraiam a Covid-19 e também jogando a responsabilidade para as famílias que resolvam não enviar seus filhos para esse grave risco de comparecer às escolas, como publicou a revista Veja São Paulo nesta quinta-feira (6).
Vejam os termos:
É inadmissível a insistência de João Doria em retornar às aulas presenciais sem nenhuma garantia sanitária às nossas crianças, jovens e suas famílias e com um número tão elevado de infectados diariamente no estado. Por isso, é fundamental a nossa organização e mobilização para a volta às aulas presenciais ocorrer somente quando houver garantias para as vidas de todas as pessoas.
As escolas precisam contar com todos os protocolos necessários para impedir a disseminação do coronavírus, coisa que não acontece em nenhuma. A precariedade é absoluta. Banheiros sem papel higiênico e sem sabonete para lavar as mãos. Bebedouros sem copos, salas com pouca ventilação, prédios defasados e sem nenhuma manutenção para manter o necessários distanciamento social. E ainda é necessário ter álcool em gel disponível para estudantes, professores e demais trabalhadores.
Por isso, nos termos citados acima, as escolas pedem que os alunos levem de casa equipamentos de proteção individual, deixando claro que as escolas não têm estrutura nenhuma para impedir o contágio.
Além de tudo isso, o governador aprova, sem nenhum diálogo com os setores envolvidos, uma mudança curricular no ensino médio com base na reforma aprovada para esse nível de ensino em 2017 e com base em uma Base Nacional Comum Curricular que visa adequar a escola aos interesses do mercado.
Esse “novo currículo” rebaixa a qualidade do ensino e visa criar mão de obra barata para suprir o mercado sem desenvolver um processo de ensino-aprendizagem baseado nos interesses dos jovens, da comunidade escolar e do país, compreendendo o papel social da educação para a formação de pessoas conscientes.
Francisca Rocha é secretária de Assuntos Educacionais e Culturais do Sindicato dos Professores de Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), secretária de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) e dirigente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB-SP).