Por Rodrigo Gomes
Contra uma volta às aulas insegura e precipitada na cidade de São Paulo, ex-secretários da Educação, médicos, professores e famílias se uniram ontem (4) em ato virtual em defesa da vida dos estudantes, familiares e dos profissionais do setor. Preocupados com a forma como as aulas serão retomadas e o risco de uma explosão de casos de covid-19, os participantes destacaram que é mais urgente garantir uma boa estrutura, preparar as escolas e orientar os profissionais da educação durante o próximo semestre. E que será preciso garantir muito mais recursos para que essas ações sejam efetivadas.
“Não dá para voltar. As famílias estão com medo. Falamos que as crianças não aprendem com fome. Será que elas vão aprender com medo? Será que os professores vão conseguir ensinar com medo? Falam que vão adequar as escolas. Quem não conseguiu podar as árvores, limpar caixa de água, limpar calhas, no início deste ano, vai garantir uma volta segura?”, questionou a ex-secretária Maria Aparecida Perez (2003-2004). O plano de volta às aulas do governo de João Doria (PSDB), para todo o estado, propõe a retomada em 8 de setembro.
O também ex-secretário Cesar Callegari (2013-2015) se manifestou contra a volta às aulas e ressaltou que a educação vai precisar de muito mais dinheiro para garantir uma volta segura. “Se eu estivesse como secretário nós jamais faríamos a retomada das aulas esse ano. A retomada das atividades escolares vai custar mais dinheiro do que o comum. A cidade de São Paulo perdeu impostos e taxas na casa de 20%. Se a educação não for protegida, deve perder cerca de R$ 2 bilhões. Temos que trabalhar com a ideia de irredutibilidade dos recursos da educação. O orçamento para o próximo ano precisa considerar isso”, disse.
O ato foi organizado pelo vereador Antonio Donato (PT), que defendeu o adiamento da volta às aulas até 2021. Defendemos que esse semestre seja de preparação das escolas. De reorganização sanitária. Precisa de tempo, precisa de investimento. E também de preparo dos professores e outros profissionais da educação. Todo o tempo do aprendizado é um tempo recuperável, mas a vida não. Precisamos dar uma chance à vida e se abrirmos as escolas vamos dar uma chance para o vírus fazer mais vítimas”, afirmou.
Kézia Alves, do Conselho de Representantes dos Conselhos de Escola (Crece), destacou que as famílias de estudantes também são majoritariamente contra a volta às aulas. E que a discussão devia ser sobre a situação das famílias.
“Devia estar discutindo a garantia de alimentação, a garantia de acesso ao ensino remoto, como cuidar das crianças que estão psicologicamente abaladas. Estamos exaustos de falar que não queremos essa volta às aulas. E o governo não escuta. Falamos em lives, falamos em audiências públicas, mas não adianta.”
Fonte: Rede Brasil Atual
Foto: Agência Brasil