– O rei emérito espanhol, Juan Carlos I, que é investigado pelo Supremo Tribunal da Espanha, anunciou ontem que quer deixar o país, para que seu filho Felipe VI tenha um reinado mais “tranquilo”. O rei já teria deixado suas acomodações no palácio da Zarzuella. Juan Carlos foi rei por quatro décadas, mesmo não tendo nascido na Espanha e nem ser sucessor natural da família dinástica. Foi nomeado rei pelo ditador Franco ao final dos anos 60. A saída de Juan Carlos da Espanha é tida obviamente como uma forma de fugir da justiça e ajudar a inocentar seu filho, que também está implicado nos processos que os acusam de receber, por exemplo 100 milhões de dólares do rei saudita por tráfico de influência. Para impedir a fuga, alguns partidos espanhóis já começaram a se movimentar. O porta voz da Izquierda Unida (IU) no parlamento espanhol, Enrique Santiago, propôs que o passaporte do rei seja retirado para que ele não possa deixar o país. Em outra iniciativa, a IU, o Partido Comunista e o Foro de Advogados e Advogadas de Esquerda apresentaram uma petição ao Supremo Tribunal para que reabra outras investigações contra o rei, engavetadas em 2018.
– Uma matéria na Revista Piauí, feita por Camille Lichotti e Renata Buono, faz um interessante levantamento sobre a Geografia Macabra da Covid-19 no Brasil. Segundo as autoras, o Brasil contabilizou 91.263 mortes por Covid até 30 de julho e isso é equivalente às mortes pela doença em todos os países asiáticos (exceto a Rússia). E esses países asiáticos detém 56% da população mundial. Ainda segundo a reportagem, uma única rua no Rio de Janeiro tem mais mortos por Covid do que Pequim, que possui 21 milhões de habitantes. Um único hospital acumula o dobro do número de mortos de toda a Coreia do Sul. Só Pernambuco tem a mesma quantidade de mortos de toda a América Central. A cidade de São Paulo tem mais mortos do que toda a Alemanha. Muito didática e super bem ilustrada, a matéria pode ser lida em: https://piaui.folha.uol.com.br/geografia-macabra-da-covid-19/?utm_source=meio&utm_medium=email
– O mundo chegou à marca de 18 milhões de infectados pelo coronavírus. Segundo o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, o cenário não é muito animador, pois “não existe bala de prata no momento e talvez nunca exista. Há preocupação de que talvez não tenhamos uma vacina que funcione. Ou que a proteção oferecida possa durar apenas alguns meses, nada mais”. Há 164 projetos de vacina em desenvolvimento, sendo que 25 estão em fase clínica e 139 em fase pré-clínica. (Dados da OMS via Meio)
– Terminou enfim o longo processo eleitoral na Guiana, que começou em 2 de março de 2020. Foi eleito o muçulmano com ascendência indiana Mohamed Irfaan Ali para presidir um dos mais cobiçados estados sulamericanos na atualidade. Dada da descoberta de enorme campo de petróleo (perto de um milhão de barris) em 2015 e o início da exportação nesse ano de 2020. Hoje, a Guiana registra a maior taxa de crescimento do mundo, com 86%, segundo o FMI. O país possui 800 mil habitantes. Irfaan foi candidato pelo Partido Progressista do Povo e disputou contra o anterior presidente, David Granger, da chapa Unidade Nacional e Aliança para Mudança. O congresso ficou dividido entre 33 vagas para uma chapa e 31 vagas para outra. A princípio, o atual presidente havia sido declarado vencedor do pleito, mas houve recontagem dos votos e uma imensa batalha jurídica. O resultado foi tudo, menos pacífico. Esteve presente na disputa eleitoral o tema da disputa territorial entre Venezuela e Guiana pela região de Essequibo que já dura mais de 50 anos. (BBC)
– Por falar em Venezuela, começou a funcionar o mercado iraniano Megasis na capital Caracas. Nas prateleiras podem, entre os produtos venezuelanos, podem ser encontrados também os produtos persas, como roupas, mel, cordeiro, grão de bico e tâmaras. A Venezuela está em recessão econômica há 7 anos, agravada pelo estrangulamento promovido com as sanções por parte dos EUA. O mercado gerou mais de 500 postos de trabalho e já começou uma gestão de vendas no atacado para os pequenos comércios no interior da Venezuela. O Irã está igualmente embargado pelos norte-americanos e tem dificuldade de escoar sua produção para o exterior. Segundo o embaixador iraniano em Caracas, Hojjatollah Soltani, com o mercado, Irã e Venezuela mandam “uma mensagem ao mundo de respeito ao direito internacional, tal como ocorreu com o envio dos cinco barcos iranianos carregados com combustível para a Venezuela”. (BdF)
– Enquanto isso, uma reportagem da Bloomberg mostra que a pandemia não impediu as mais ricas famílias do mundo de engordarem suas fortunas. Os donos do Walmart, os Waltons, por exemplo acrescentaram 25 bilhões de dólares à sua fortuna, ficando agora com 215 bilhões. Em segundo viria o Jeff Bezos, da Amazon, mas como ele não é considerado uma família, visto que seu negócio é de primeira geração, não entra nesta lista da Bloomberg. Em segundo lugar, portanto, vêm os Mars, da indústria de chocolate Mars (dos famosos Snickers), com uma fortuna de 120 bilhões. Em terceiro vêm os Koch, das Indústrias Koch, um conglomerado de indústrias que produzem de tudo, de processamento do petróleo bruto a copos de papel, com 110 bilhões. E por aí vai. Quem quiser ver toda a lista, está em: https://www.bloomberg.com/features/richest-families-in-the-world/?utm_source=meio&utm_medium=email
– A União Europeia se pronunciou sobre o debate da sucessão na direção do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento que já citei aqui nas Notas. Trata-se de uma controversa indicação norte-americana para um posto que desde sempre foi ocupado por latino-americanos. A UE propôs que o processo seja interrompido até março de 2021, quando já terão sido realizadas as eleições norte-americanas, portanto. Em carta enviada à sede do banco, o alto representante de Política Externa da UE, Josep Borrell, disse considerar que a pandemia atrapalha na atenção necessária à eleição, principalmente após “a apresentação, sem precedentes, de uma candidatura para presidir o Banco por parte do Governo dos EUA.” O anúncio europeu veio no mesmo dia em que, no Brasil, foi publicada ontem (3) na FSP uma nova declaração de ex-ministros sobre a candidatura norte americana à presidência do BID. Entre os que assinam, estão Celso Amorim, Zelia Cardoso, Rubens Ricupero, Samuel Pinheiro Guimarães, Mangabeira Unger, Fernando Henrique, Ciro Gomes e outros. No texto, os autores dizem que a “prudência e o bom senso recomendam evitar criar o caso consumado da escolha precipitada, dois meses apenas antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos, de um funcionário com posições opostas às de uma eventual mudança no governo de Washington” e apelam aos 26 membros latino-americanos e caribenhos e aos 22 países contribuintes que tomem a iniciativa de adiar a escolha pelo período de seis meses.
– Dos 101,7 bilhões de dólares exportados pelo Brasil entre janeiro e junho deste ano, um terço foi para a China. Com a pandemia, o volume de compras de produtos brasileiros pela China saiu de 28,5% em 2019 para 33,8% no primeiro semestre de 2020. (Estadão)
– Os Emirados Árabes Unidos colocaram em funcionamento a primeira usina nuclear do mundo árabe, construída em parceria com a Coreia do Sul no Golfo Pérsico. A inauguração vem sendo adiada desde 2017 e o nome da usina é Barakah, que significa “bênção” em árabe. O rival Catar vem chamando a usina de ameaça flagrante à paz na região. Atravessando o Golfo, está o Irã, rival dos Emirados Árabes e sancionado pelos EUA.
– Uma última nota sobre o Peru, a ser melhor desenvolvida amanhã. Após sessão de 20 horas, o congresso peruano negou um voto de confiança ao novo presidente do Conselho de Ministros, Pedro Cateriano, o que obriga todos os ministros nomeados por Vizcarra em 15 de julho, a renunciarem, criando assim uma crise política em meio à pandemia.
Ana Prestes é cientista social. Mestre e doutora em Ciência Política pela UFMG.