Por Flauzino Antunes Neto
“O Médico e o Monstro” é um filme de 1941, baseado no livro do escocês R. Stevenson que no final do século XIX, trabalhava a dicotomia do bem e do mal dentro dos seres humanos. A obra retrata o médico que afirmava a existência dos dois sentidos dentro de cada pessoa. E, quando estimulados de forma adequada, faz florescer um ou outro: o médico seria o bom e o monstro, o mal. Usando esse exemplo do filme, como poderemos classificar Bolsonaro e Guedes? Eles são os médicos ou monstros para economia brasileira?
A economia nacional vem doente já algum tempo, no mínimo durante os últimos 6 anos. O PIB não decola e o aumento do desemprego, no qual a receita aplicada foi a neoliberal, é latente. Que à base de muita chantagem e promessa de melhora junto a sociedade brasileira, enfiaram à força e goela abaixo remédios amargos, como: austeridade fiscal e reforma trabalhista. Tudo isso, embalado pela promessa de retomada de emprego e avanços nos investimentos.
Em dezembro de 2019, o PIB foi de 1,1% e o desemprego atingiu a 12,9 milhões de brasileiros. Deixou 15 milhões subempregados, 36,8 milhões na informalidade, além de 4,7 milhões de pessoas no desalento, que desistiram de procurar emprego. O paciente, nossa economia, estava mal! Não contente, Bolsonaro, deu aval à equipe econômica para aumentar a dose e aplicam, o ultraliberalismo. E aumentam as chantagens. Se não tomarmos mais remédios amargos, não salvaremos a economia. Aí vem, desmonte do Estado, não intervenção, abertura econômica, privatizações, mais perdas de direitos e diminuição de políticas públicas na Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia e Agricultura Familiar.
E o paciente agoniza mais! O resultado desse receituário foi catastrófico! Conforme o IBGE, os índices de atividade do comércio caíram 16,8%, de abr/19 a abr/20. A queda nos setores de serviços e indústria foi de 17,2% e 27,2%, no mesmo período – antes do Covid-19. Já a renda familiar despencou 33,3%, tirando de circulação aproximadamente 7 bilhões de reais.
A pandemia chega ao Brasil em março/20 e aumentam os ataques ao nosso paciente agonizante. A suposta equipe médica (econômica) fica completamente perdida. O isolamento social se faz necessário para combater o vírus letal forçando a suspensão das atividades econômicas de todo o país, exceto as necessárias. Hora importante para avaliar erros e acertos anteriores – mais erros do que acertos – e mudar o receituário de remédios errados aplicados. Que nada! A ideologia ultraliberal falou mais alto. Mantiveram os remédios ruins e ineficazes, e o médico sai de cena e aparece o monstro!
Cria-se uma disputa absurda e desnecessária entre salvar vidas e salvar economia, pelos monstros de plantão. Paradoxo além de inexistente é falso, pois a economia já estava agonizante, as vidas foram negligenciadas, contabilizando, até o momento, mais de 72 mil mortes. A economia não foi recuperada, as projeções são de uma queda de 6 a 9% do PIB para esse ano, com mais 20 milhões de pessoas desempregadas. Não salvaram vidas e muito menos a economia!
Os monstros do governo continuaram com suas maldades e crueldades. Transferiram 1,2 trilhões de reais dos cofres públicos aos bancos, com a promessa de fazer chegar aos empresários como forma de ajuda. Em vez de repassarem tais recursos, os bancos represaram o valor em seus bolsos sob a alegação de alto risco de não recuperar os empréstimos. Assim, 86% dos empresários foram prejudicados e não conseguiram ter acesso aos valores prometidos.
Oras, os micros e pequenos empreendedores empregam 60% dos trabalhadores. O Governo Federal deveria repassar direto e sem intermediários, juros ou devolução a fundo perdido. Esse setor quebrando, o desemprego vem em massa pois 68% já estão em recuperação judicial e 30% em falência. Como próprio Guedes declarou em reunião ministerial, “deixem as pequenas empresas quebrarem!”
Em paralelo, o Congresso Nacional elevou para 600 reais o Auxílio Emergencial para 96 milhões de trabalhadores desempregados e na informalidade já cadastrados além de 1.200 reais para mãe chefe de família, por três meses. Bolsonaro queria que fossem 200 reais e o Monstro, protelou o pagamento ao máximo, abandonando este contingente de brasileiros no desespero, com as vidas ameaçadas e sem ter como botar comida em casa. Com urgência, esse socorro teria que chegar no mínimo a dezembro deste ano pois a queda do PIB não será maior graças a esse auxílio.
A crise também chegou ao campo. O consumo de 70% dos alimentos pelo povo brasileiro vem da Agricultura Familiar e, nesse momento, a logística e distribuição estão comprometidos deixando a produção no pé ou se perdendo por falta de distribuição. O desabastecimento de alimentos pode acentuar o cenário. É extremamente necessário que as políticas públicas de compras e armazenamentos sejam reativadas, na ordem de 2 bilhões de reais e que os agricultores familiares também sejam beneficiados com o auxílio emergência.
Seria o momento de mudar o receituário, implementar mais intervenção estatal e injetar adrenalina no paciente. Desta forma, ele teria a reanimação através de investimentos públicos, embasados em um plano emergencial eficaz que garanta renda para a indústria, micro e pequenos empresários, agricultores familiares e principalmente aos trabalhadores empregados ou não. Assim, eles teriam condição de cumprir o isolamento com tranquilidade e paz, em suas residências.
A vingança do Monstro em não repassar recursos para Estados e Municípios fez com que não lhes fossem garantidos investimentos como o aumento do número de vagas de UTI´s, testes em massa, respiradores e equipes da saúde para tratamento da Covid-19. Por outro lado, faltam políticas públicas governamentais que deixaram milhões de brasileiros desamparados e num latente abismo social.
Pois nossa economia está sofrendo com uma doença que se chama de baixa demanda agregada, ou seja, o consumo das famílias está baixo e fraco, o investimento privado não tem estímulos para suprir as necessidades de nossa economia e o saldo da balança comercial não está em nosso controle. O mundo tem consumido menos, portanto só no resta o gasto do Governo Federal para aquecer e salvar o paciente.
É de uma tremenda irresponsabilidade e mesquinhez a falta de investimentos para salvar a economia por parte do Governo Federal. Deixar milhões de cidadãos sem trabalho é o mesmo que deixá-los morrer. A economia sobrevive com injeção de dinheiro nas veias, e o governo federal não só pode, como tem a obrigação de fazê-lo.
O Estado brasileiro precisa gastar mais, transferindo recursos diretos aos empresários e trabalhadores, expandindo a base monetária. A exemplo de países europeus (US$ 840 bilhões) e dos Estados Unidos (US$ 500 bilhões), a proposta seria não contrair novas dívidas, empréstimos e aumento de impostos, pois o crescimento da base monetária é fazer a casa da moeda girar!
Nesse momento de depressão, essa preocupação com inflação não existe. O fundamental para salvar o nosso paciente seria a “impressão de novas moedas” e, desta forma, salvaríamos vidas e a economia.
Como Já dizia o economista inglês J. Keynes: “quem faz extravagância são governantes que não gastam e deveriam ser considerados LUNÁTICOS”. Portanto, esses que estão no governo Bolsonaro não salvaram vidas e nem a economia e jamais poderão ser considerados médicos bons e sim, os monstros maus, da economia nacional.
Flauzino Antunes Neto é Economista, Presidente da CGTB-DF e membro da Executiva Nacional da CGTB
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Foto: Reprodução