Por Marcos Aurélio Ruy
Quais as semelhanças entre as investigações dos assassinatos do importante ativista pela igualdade racial nos Estados Unidos, Malcolm X, em 1965, e da então vereadora do PSol, Marielle Franco, em 2018?
As investigações do historiador Abdur-Rahman Muhammad, que resultaram na série “Quem Matou Malcolm X?”, dirigida por Phil Bartelsen e Rachel Dretzin e produzida pela Netflix, mostram que tem tudo a ver. Guardadas as devidas proporções o assassinato de líder norte-americano ficou envolto em péssimas condutas de investigação e falhas nas garantias de segurança que a polícia nova-iorquina deveria garantir. Muito parecido com o assassinato de Marielle há dois anos, no dia 14 de março, no Rio de Janeiro.
Como se isso já não bastasse, os investigadores norte-americanos ignoraram fortes indícios para se chegar aos assassinos. Com a prisão de um deles imediatamente e de outros dois acusados e, posteriormente com fartas provas, comprovadamente inocentes. Mesmo com a confissão de um dos suspeitos da não participação desses dois acusados, eles foram condenados e passaram 20 anos na prisão.
Dividida em seis episódios de 43 minutos cada, a série apresenta todo o caminho da profunda investigação feita pelo historiador, chegando ao que tudo indica o principal assassino. Malcolm X morreu no dia 21 de fevereiro de 1965, no teatro que fazia discurso no Harlem, em Nova York.
Trailer da série
Eram anos conturbados nos Estados Unidos porque os conflitos raciais ganhavam contornos inéditos, com o surgimento de importantíssimas lideranças pelos direitos civis dos negros. Mas como revela o assassinato há poucos dias do negro George Floyd por um policial branco em Minneapolis, Estados Unidos, de maneira torpe, mostra que tanto lá como no Brasil a chaga do racismo ainda permeia a sociedade e marginaliza grande parte da população.
Nos anos 1960, o movimento negro dos Estados Unidos exigia os direitos civis e importantes lideranças despontaram com caminhos diferentes. Malcolm X defendia o confronto, enquanto Martin Luther King, importantíssimo na luta antirracista, defendia o pacifismo. Os Panteras Negras surgem em 1966 com bandeiras mais avançadas pela igualdade e construção do socialismo.
Os dois grandes líderes se reconciliam após Malcolm X retornar de uma viagem à África e repensar suas táticas de enfrentamento ao racismo. Não tiveram tempo de levar isso adiante porque foram assassinados. Malcolm em 21 de ferreiro de 1965, pouco antes de completar 40 anos e King, em 4 de abril de 1968, aos 39 anos. O racismo não perdoa.
A série mostra os caminhos percorridos pelo historiador, intermediadas de cenas reais de discursos de Malcolm X e de sua biografia. Muito jovem foi preso envolvido com o tráfico de drogas, exploração da prostituição, entre outros crimes, saiu da prisão direto para a Nação do Islã, grupo fundamentalista, fundado em Detroit, Estados Unidos, em 1930, então comandado por Elijah Muhamm.
Sem apresentar teorias conspiratórias da história o documentário confirma a pouca vontade do FBI e da polícia nova-iorquina em esclarecer os fatos. Assim como não se tem notícias detalhadas das investigações do crime contra a então vereadora no Rio de Janeiro, não há ninguém condenado e muito mesmo têm-se notícias de quem mandou matar Marielle, embora haja fortes indícios.