Et Urbs Magna – O agravamento da epidemia de coronavírus no Brasil, que desde a segunda (18) passou a ser o quarto país do mundo mais atingido pela Covid-19, preocupa a imprensa francesa que praticamente responsabiliza o presidente Jair Bolsonaro de causar confusão no país em uma situação inigualável em todo o planeta.
Dois grandes jornais, Le Monde e Les Echos, publicaram reportagens sobre o assunto, as quais foram sintetizadas em matéria da RFI.
Le Monde afirma que o “Brasil está desarmado diante do colapso sanitário” provocado pela Covid-19. O correspondente do vespertino, Bruno Meyerfeld, escreve que enquanto uma parte do mundo inicia a saída da quarentena, a epidemia de Covid-19 está em “plena explosão no país”, que tinha oficialmente no domingo (17) 241 mil casos confirmados e mais de 16 mil mortos.
O número de vítimas fatais dobrou em dez dias. O Brasil ainda tem a segunda mais alta taxa de mortalidade diária por coronavírus do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. “E a pandemia brasileira ainda não atingiu seu pico, que deve ocorrer no mês de junho”, salienta o diário.
Todos os pesquisadores estão alarmados. O jornal cita vários estudos. O Imperial College de Londres indica que o país tem a maior taxa de transmissão do mundo (conhecida pela sigla R0), 2,8. A Universidade de Washington prevê que o Brasil terá 193.000 mortos até o mês de agosto.
A matéria do Le Monde começa contando o triste caso de Paula Ribeiro, de Manaus, que perdeu a mãe de 53 anos. Ela morreu de Covid-19, porque apesar de apresentar todos os sintomas, não foi atendida a tempo pelos médicos e hospitais da cidade, superlotados pela crise sanitária. “Se a minha mãe tivesse sido internada a tempo, ela poderia ter sido salva. O que aconteceu com ela, pode acontecer com qualquer um”, declara revoltada.
Diante do drama em curso, e na falta de uma resposta adequada do governo de Jair Bolsonaro, autoridades municipais decidiram agir. Várias cidades do nordeste, como Fortaleza, São Luís e Recife, decretaram um rígido isolamento social. Outras impuseram o uso obrigatório de máscaras nas ruas, toque de recolher ou barragens sanitárias.
O melhor exemplo, aponta Le Monde, é o de Niterói, que conseguiu limitar o número de mortos na cidade. “Mas tudo é muito confuso e 43% da população brasileira não respeita nenhuma medida de quarentena”.
Em plena epidemia, a demissão de Nelson Teich, o segundo ministro da Saúde em menos de um mês, cria consternação, avalia o Les Echos. A confusão criada pelo presidente Jair Bolsonaro, que é contra a quarentena, é inigualável no planeta. “O Brasil merece uma gestão séria e competente”, declara o governador do Maranhão, Flávio Dino, nas páginas do jornal econômico.
“Parece que o presidente está disposto a levar o país ao caos, até que ele encontre um ministro que aceite tomar decisões sem nenhum fundamento científico”, critica o ex-ministro da Saúde do PT Arthur Chioro, entrevistado pelo diário.
“A atmosfera de crise e instabilidade eclipsou as comemorações, portanto discretas, dos 500 dias do líder de extrema direita no poder, informa o correspondente do Les Echos.