Por Marcos Aurélio Ruy
Com a intenção de indicar filmes e séries disponíveis na internet ou para quem tem Netflix, uma seleção de obras será feita. Começando pelo filme Sergio, dirigido por Greg Barker, produzido e protagonizado por Wagner Moura.
A obra retrata a trajetória do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello (1948-2003). Que chegou a dirigir o Alto Comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Acho que as vidas de pessoas interessantes, que deixaram uma marca, podem iluminar muito do que a gente faz. No caso de Sergio, no meio dessa crise do coronavírus, em meio à fragilidade das lideranças mundiais, nota-se a ausência de líderes como ele”, disse Moura à BBC News.
Para o grande ator brasileiro, “o exemplo dele pode ser bem iluminador para este momento”. Baseado no livro “Sérgio Vieira de Mello – o Homem que Queria Salvar o Mundo”, da norte-americana Samantha Power, a obra o apresenta como um grande negociador para resolver conflitos bélicos.
Como fez em Timor Leste, antes de ir para o Iraque, onde morreu num atentado contra a ONU, reivindicado pela Al Qaeda, após a invasão norte-americana no país do Oriente Médio, com a desculpas da existência de armas químicas nunca encontradas.
Com uma visão humanista, o diplomata brasileiro de grande destaque na ONU, negociava a solução de conflitos armados para pôr fim a guerras. Conseguiu sucesso no Timor Leste negociando inclusive com o governo da Indonésia para um pedido público de desculpas pelos anos de ocupação do país, colonizado por Portugal, que se tornou independente a partir de então.
Tratava-se de “um defensor intransigente da paz”, afirma Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores (de 1993 a 1995 e de 2003 a 2010). Desenvolveu uma política de relações exteriores que levou o Brasil a um grande destaque no cenário mundial.
Por isso, para ele, a política externa do atual desgoverno é “um desastre absoluto, nunca foi tão mal. Até jornais conservadores criticam a postura do governo brasileiro”.
Assista o trailer de Sergio
Amorim, que chegou à presidência da Comissão de Segurança da ONU, em 1999, conta que esteve com Vieira de Mello pouco antes dele ir para o Iraque e destaca que o importante diplomata era um grande crítico da atuação norte-americana naquele país.
No filme, antes de morrer no atentado, no dia 19 de agosto de 2003, Vieira de Mello aparece disposto a denunciar na ONU, dirigida pelo secretário-geral Kofi Annan, a repressão que as forças armadas norte-americanas faziam no Iraque.
A lógica de “combate ao terror”, depois do atentado às Torres Gêmeas, em Nova York, em 11 de setembro de 2001, com mais de 3 mil mortos, foi usada como argumento para invadir o país do Oriente Médio, governado por Saddam Hussein (1937-2006). Na realidade, porém, a posse do petróleo iraquiano foi a verdadeira razão dessa guerra.
Vieira de Mello, como interventor da ONU no Iraque, pretendia realizar eleições livres e limpas o mais rápido possível, para o país retomar o seu rumo sem a presença de soldados dos Estados Unidos em seu território, mas esse não era o plano do governo de George Bush pai (1924-2018). A posse do petróleo falou mais alto.
Para Amorim, Vieira de Mello “Fez o que pode para conseguir a paz”. A última companheira de Vieira de Mello, Carolina Larriera (interpretada pela atriz cubana Ana de Armas) afirma a necessidade de valorizar “a nossa própria cultura, pessoas, instituições e os nossos próprios talentos”. O filme Sergio é um bom começo para isso. Ela e a primeira companheira dele, Gilda Vieira de Mello criaram o Centro Sérgio Vieira de Mello, em 2008.
“Nossa visão, assim como refletida nas ações de Sérgio e nos valores que ele liderou, é contribuir para a criação de uma sociedade justa que lembre seu passado, ouça todas as vozes e busque dignidade e tolerância para todos”.
A obra da Netflix mostra uma pessoa necessária para a conquista da paz, num mundo conturbado por conflitos motivados pela ganância de grandes conglomerados econômicos e do imperialismo norte-americano para reconfigurar a geopolítica do planeta.